2015 e depois: O ódio no horizonte

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Por Lena Azevedo*, 



O desenho de mobilização social que ganhou repercussão a partir de junho de 2013, com as grandes passeatas, o #VemPraRua contra os aumentos de passagem e a violência policial, demorou para ser compreendido.

Anos antes, um grupo de indígenas e pessoas diversas ocuparam o antigo prédio do Museu do Índio, chamada de Aldeia Maracanã, instalação na Tijuca que estava ameaçada de virar um enorme estacionamento do novo estádio do Maracanã, em acordo com Eike Batista e o governo do Rio de Janeiro. Parte dessas pessoas esteve no Ocupe Cinelândia e outras pela cidade.

O fluxo de movimentação desses grupos, surgidos nesse período em todos os cantos do país, é muitas vezes apresentado como tendo uma lógica horizontalizada, sem lideranças e qualquer intenção de disputar espaço na mídia. Relacionam-se às causas das chamadas minorias, ligadas aos direitos humanos e ao direito à cidade.

Tanto a esquerda partidária quanto a direita custaram a entender essa dinâmica dos coletivos, que não se posiciona e que não tem uma identidade fechada (o índio que está na Aldeia Maracanã, pode ser o mesmo que irá defender o aumento dos professores na ocupação da Assembleia Legislativa e assim por diante). É um sujeito político com outras práticas, relacionadas a uma forma diferente de luta.

Enquanto a esquerda dividiu-se quanto aos manifestantes, parte aprovando as manifestações, outras tentando encaixá-los — principalmente aos black blocs — na lógica das lideranças políticas da oposição, a direita compreendeu esse funcionamento e traçou uma estratégia para tirar proveito da insatisfação geral.

Focou no combate à corrupção, tema que atrai a chamada classe média e criou uma série de perfis nas redes sociais, em 2013, a princípio semelhantes aos dos movimentos autônomos, batendo na tecla anticorrupção.

A onda das multidões nas ruas foi incentivada pela mídia tradicional, principalmente a Rede Globo, que tem exercido a oposição mais que os partidos políticos e aposta no desgaste do governo.

Passada a onda das manifestações, ficou mais fácil identificar os perfis usados pela direita. Ao contrário dos movimentos autônomos, os perfis fakes têm um caráter unitário e totalizador.

Isso fica evidente nos eventos criados para datas simbólicas, como o 7 de setembro, o Dia da Bandeira etc., em que o objetivo passa ser atacar a “corrupção no governo”.

O uso de certas datas para marcar “território de luta” é algo que perpassa a política partidária, tanto de direita como de esquerda. Embora nas ruas tais eventos não tenham grande expressão, para a direita interessava colar no imaginário da população uma posição anti-PT e atribuir ao partido a prática “inédita” da corrupção no país, com a ajuda valorosa da imprensa tradicional.

Houve uma paralisia e um bate-cabeça na esquerda que permitiu à oposição, sobretudo ao PSDB, avançar no antipetismo com uso das redes sociais, criando centenas de robôs que cumpriram e ainda cumprem uma tarefa técnica dentro dessa estratégia, que é replicar milhares de vezes hastags contra o PT, o governo Dilma e Lula, associando-os à corrupção.

O PT demorou muito para responder aos ataques. Pode-se dizer que foi apenas com a chegada do Muda Mais que se conseguiu reverter um quadro que estava contaminando o processo eleitoral de 2014.

O site Muda Mais (com perfis no Twitter e no Facebook) deu argumentos aos que defendiam Dilma e mesmo para aquela parcela dos movimentos autônomos que não queria a vitória da direita.

Foi através do Muda Mais que se alcançou, por exemplo, a derrota de Silas Malafaia, que desafiou o PT nas redes sociais. A reação petista, com auxílio da juventude autônoma que luta por direitos humanos, levou a hastag #MaisAmorMenosMalafaia ao topo dos assuntos mais comentados. Foi TT (Trending Topic) mundial, o assunto mais comentado no Twitter.

O uso das redes sociais não é o único definidor de um resultado eleitoral, mas demonstrou ser imprescindível para a disputa com a direita, considerando, sobretudo, que a mídia conservadora cumpre também um papel na estratégia da oposição.

Um dos exemplos disso é que a mobilização que reuniu quase vinte mil pessoas em São Paulo, contra a tentativa de golpe e em defesa de Dilma, logo após o resultado das eleições, não foi noticiada nos meios tradicionais, mas os 2,5 mil que pediam a volta dos militares e o impeachment da presidenta foi repercutido por essa imprensa como se fosse uma multidão.

A direita se movimenta virtualmente, na ocupação do imaginário, que em determinados momentos pode ser muito mais avassalador e fora de controle do que se imagina. O ódio nas ruas no segundo turno eleitoral e pós-eleição evidencia este perigo.

À esquerda é importante perceber que o fluxo dos movimentos autônomos não pode ser enquadrado, mas não há nada que impeça o avanço do diálogo.

Como no inferno de Dante, é preciso deixar as ilusões na porta, largar a prática cristalizada das mobilizações tradicionais, abandonar o fetiche das lideranças e ir para uma franca conversa na “praça”, em que se discute o direito à cidade e outros temas que mobilizam esses grupos.

Esse é um caminho horizontal, que pode apontar para um novo momento e adicionar outras forças na luta. A direita continuará tentando, durante todo o segundo mandato de Dilma, usar meios ilícitos para derrubá-la. Entre os instrumentos encontram-se as redes sociais. O fim do Muda Mais – que esperamos seja passageiro — deixa uma avenida aberta para que a oposição avance com o antipetismo e com as tentativas de golpe.

A disputa política é mais intensa nas redes. Por isso torna-se fundamental o retorno do Muda Mais, que além de fornecer dados e ser um referencial na internet e no whatsapp, identificou centenas de robôs do PSDB e traçou estratégias de comunicação a partir da movimentação da direita na web.

O PT precisa ter em conta que a estratégia de comunicação da oposição foi eficiente e seguirá em ritmo intenso. Portanto, a rearticulação do Muda Mais deve estar presente dentro de um planejamento de comunicação, que não pode se restringir ao período eleitoral.

O ataque constante à Petrobras também sugere que, além do Muda Mais, o blog Fatos e Dados necessita voltar. O blog da Petrobrás foi criado para se contrapor ao discurso da mídia, que cumpria uma missão da direita: enfraquecer a empresa.

Quando surgiu, o Fatos e Dados trouxe informações relevantes que anteciparam e desmontaram boa parte do discurso da imprensa/direita. Posteriormente, o blog abandonou a sua função original e passou a fazer uma comunicação burocrática e atrasada, insuficiente frente ao bombardeio sofridos pela Petrobras na mídia. Realinhar o Fatos e Dados à sua atribuição inicial, de se adiantar aos golpes sucessivos e fornecer subsídios que desmobilizem argumentos falsos vendidos como verdadeiros nas redes sociais e na mídia também é estratégico.

Afinal, não é à toa que a Petrobras surge como ponto de disputa em todas eleições desde Getúlio Vargas. As reservas de petróleo são alvo de cobiça transnacional e os ataques à instituição não cessarão. Portanto, além de reativar o valor crítico do Fatos e Dados, será necessário pensar em outros instrumentos que mantenham a Petrobras viva o suficiente para enfrentar as poderosas forças que não desistirão de tentar privatizá-la.

* Lena Azevedo é jornalista, mora no Espírito Santo


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