''O desespero, na aliança tucano-midiática, é grande...''

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O PT e a mídia: Até onde vão as ilusões?
Por Rodrigo Vianna*
fonte: http://www.pagina13.org.br/

pedra guarda chuva

O PT já deveria ter aprendido – com Lula – que os famosos “almoços” com representantes da velha mídia, em temporada pré-eleitoral, não servem pra nada. O então candidato petista foi à sede da Folha de S. Paulo, em 2002. Lá pelas tantas, o herdeiro do jornal, Otavinho Frias, fez uma insinuação de que Lula não estaria preparado para ser presidente porque não sabia falar inglês. Lula levantou-se e foi embora. O velho patriarca do jornal, conhecido como “seu” Frias (que emprestava carros para torturadores durante a ditadura, mas não era tolo a ponto de confrontar um futuro presidente) saiu andando atrás do candidato pelos corredores, tentando se desculpar pela arrogância do filho Otavinho.

Lula jamais se vingou dos Frias. Olhou pra frente. Errou?

Teve a chance, também, de enterrar a Globo – que estava tecnicamente quebrada em 2003. Não avançou nisso. Aliás, presidente eleito, Lula aceitara ir à bancada do Jornal Nacional, ao lado de Willian Bonner, comentar as notícias produzidas pela Central Globo de Jornalismo. Alguém imaginaria Leonel Brizola, depois de eleito com votação consagradora, sentado de forma bem comportada na bancada do JN? Alguns dirão: por isso que Brizola jamais foi presidente. Talvez, tenham razão…

Mas o PT seguiu apanhando e confraternizando-se com a velha mídia. Dilma foi fazer omelete com Ana Maria Braga em 2011. E disse que a questão da Comunicação no Brasil se resolvia com controle remoto.

Fernando Haddad, eleito depois de uma campanha em que meios digitais tiveram papel decisivo na capital paulista, mandou dizer pouco antes da posse que Comunicação era um assunto em que não cabia debate sobre políticas públicas. Pôs no cargo de Secretário de Comunicação um jornalista que imagina resolver todos problemas com telefonemas para as redações da Folha e do Estadão. Haddad chegou a dizer que esperava uma “normalização” das relações com a mídia. Foi cozido e fritado por ela.

O petista Alexandre Padilha, agora, começou sua campanha a governador de São Paulo com caravanas pelo interior do Estado – transmitidas pela internet. Boa novidade. Mas também adotou a “tática” (!) dos almoços em jornais, pensando em criar (quem sabe) um clima de camaradagem com personagens do quilate dos Mesquita e dos Frias. Recentemente, ouvi de um alto dirigente do PT (a conversa foi em “off”, não posso revelar os detalhes) que o partido não abre mão de “dialogar com todos os setores da imprensa” na campanha para o governo de São Paulo.

Sei… Gostaria de saber o que esse petista graúdo acha do “diálogo” estabelecido entre os jornais conservadores de São Paulo e Padilha. Há uma tentativa de envolver o candidato petista com as operações do doleiro Alberto Youssef. Sem bases concretas para acusações, parte-se para um massacre midiático contra Padilha. “Diálogo” bastante interessante…

E não se trata aqui de uma discussão puramente local, até pela importância da disputa paulista para a sobrevivência dos tucanos. O ex-ministro Padilha foi submetido a uma operação de guerra. A tentativa é de abatê-lo em pleno vôo, antes mesmo de a campanha começar oficialmente.

Os aliados midiáticos dos tucanos perceberam a fragilidade de Geraldo Alckmin, num momento em que São Paulo está na iminência de ficar sem água por falta de planejamento dos governos do PSDB. No dia em que Padilha iria pra TV falar da seca, os jornais conservadores vieram com o ataque coordenado contra o petista.

As manchetes seriam a sobremesa do almoço recente de Padilha com a família Mesquita do jornal O Estado de S. Paulo.

O desespero, na aliança tucano-midiática, é grande. Até porque há uma chance concreta de o PT derrotar o PSDB nas disputas pelos governos de Minas e São Paulo, e ainda manter o governo federal com Dilma.

Desde que Lula foi eleito pela primeira vez, em 2002, o PT jamais conquistou vitórias para o governo nos dois Estados mais populosos do Brasil – que seguem administrados pelo PSDB. Agora, Alckmin enfrenta uma disputa em que o campo conservador encontra-se dividido (há mais duas candidaturas disputando esse eleitorado: Gilberto Kassab/PSD e Paulo Skaf/PMDB). Há chance real de um segundo turno em que os tucanos poderiam ser finalmente desalojados do governo paulista.

Em Minas, o PT lidera as pesquisas com Fernando Pimentel. O candidato de Aécio, Pimenta da Veiga, foi denunciado por envolvimento com Marcos Valério. A mídia (local e nacional) segue a poupar os tucanos mineiros. Ainda assim, Aécio talvez precise trocar de candidato. Pimentel, longe de ser uma opção claramente de esquerda, significaria uma derrota dolorida para o PSDB.

Mais que isso: perder Minas e São Paulo, para os tucanos e seus aliados midiáticos, significaria um avanço das forças aliadas a Dilma e ao PT também no Congresso. No Brasil, é enorme a capacidade de atração exercida por governadores sobre as bancadas. Imagine São Paulo e Minas comandados por aliados de Dilma? O resultado, no Congresso, seria um governo federal menos dependente dos velhos caciques peemedebistas.

Por isso, o esforço brutal da velha mídia brasileira em atingir o petista Padilha em São Paulo, ao mesmo tempo em que poupa o tucano Pimenta da Veiga em Minas.

E por isso surpreende tanto que o PT (ou, pelo menos, parte significativa de sua direção) siga a legitimar o inimigo. Sim, é disso que se trata. Jornais como Folha/Estadão/O Globo e revistas como a Veja são inimigos. São parte do aparato inimigo. Mas, dia sim, dia não, lá estão corajosos ministros petistas a ocupar páginas amarelas, e a se fartar com espaços concedidos pelo inimigo.

Qual nome dar a isso? Oportunismo? Cegueira? Pragmatismo?

Essa prática serve apenas para legitimar aqueles que são hoje a principal ferramenta do campo adversário. Não há meio termo. Ou não deveria haver. Não há ilusão. Ou não deveria haver. Mas esta parte do PT segue iludida (ou a palavra seria “rendido”) à lógica do “diálogo” com Globos, Folhas e Vejas.

Na verdade, trata-se – talvez – de um sintoma de “rendição” mais grave, e mais generalizada…

O partido tem uma base imensa de militantes, setores organizados em sindicatos e movimentos sociais dispostos a um combate aberto com o projeto capitaneado pela mídia conservadora. Mas a direção petista segue na trajetória idêntica à do PS francês ou do PSOE espanhol. É caminho certo para o desastre.

Lula, numa entrevista recente a blogueiros em São Paulo, deu a senha de que há outro caminho. Mas a direção petista (com raras exceções) parece amortecida, rendida.

O que pode salvar o projeto petista – que apesar de suas limitações (até porque o PT governou sempre em coalizão, e com minoria no Congresso) trouxe avanços significativos para o país – são essas bases imensas e dispostas ao combate. Gente que nem é filiada ao PT muitas vezes. Mas sabe de que lado está. Essa gente pode pressionar uma direção que parece cada vez menos disposta ao combate.

Andre Vargas foi secretário de Comunicação do PT. Vejam só que tipo de prioridade esta parcela da direção petista dava ao tema das comunicações. Vargas tentou enganar os incautos com aquele gesto provocativo à frente de Joaquim Barbosa: punho cerrado. Provocação tola, posto que sem correspondência com ações concretas de enfrentamento. Só enganou quem não conhece os bastidores em que essa geração de “profissionais” petistas se criou.

O social-doleirismo de Vargas é parte desse mesmo quadro de rendição em que se inscrevem as tentativas tolas de “dialogar” com a velha mídia brasileira.

A eleição de 2014 é uma guerra em que não se pode ter ilusões. O outro lado não quer diálogo. Se adotar a tática do “diálogo” com a velha mídia (evitando enfrentá-la como inimigo que é), o PT – em vez de um passo à frente, com vitórias em estados importantes – pode colher uma derrota definitiva.

Os números a apontar liderança folgada de Dilma parecem criar, em alguns petistas, a ilusão de uma eleição fácil. Não será! Até porque se trava no Brasil apenas parte de uma guerra – muito maior – pelo futuro do ciclo de governos progressistas na América do Sul.

Dilma perdeu alguns pontos nas pesquisas eleitorais recentes. E o surpreendente é que não tenha perdido mais, diante do bombardeio absurdo a que foi submetida, sem esboçar reação – numa atitude incompreensível de anomia.

Ainda assim, os principais candidatos a presidente da oposição não avançaram. A conclusão mais óbvia é a de que uma parcela do eleitorado, antes disposta a votar em Dilma, migrou para posição cautelosa: em vez de mudar diretamente para Aécio Neves (PSDB) ou Eduardo Campos (PSB), preferiu fazer uma “parada técnica”, engrossando os índices de nulos/brancos e de eleitores que não sabem em quem votar. A depender do andamento da campanha, parte desse eleitorado desgarrado pode ir – sim – para Aécio e/ou Eduardo.

O tucano terá palanques fortes no Paraná, Minas, São Paulo e Bahia (e talvez no Rio Grande do Sul, apoiando a principal oponente de Tarso Genro na disputa pelo Piratini). Isso, por si só, pode garantir a Aécio um patamar superior a 20% dos votos no primeiro turno. Aécio parece ter palanques regionais mais bem amarrados do que Serra em 2010.

Eduardo, aliado de Marina, também pode ser beneficiário da migração. Não tem palanques estaduais fortes (e dificilmente terá), mas pode investir na imagem de “terceira via”, de “amigo da Marina”, que certamente ajudará a conquistar eleitores nas franjas de classe média decepcionadas com o lulismo e com os “políticos” (como se Eduardo e Marina não fossem políticos profissionais!) – especialmente no Rio, Brasília e em capitais do Nordeste. Eduardo é conhecido por cerca da metade do eleitorado. Quando for conhecido pela outra metade, o razoável é que chegue a um patamar de votos maior, em torno de 15% dos votos.

A velha mídia é sócia majoritária do projeto político conservador, que aposta em Aécio e Eduardo – até por falta de opções. Já o PT – apesar de suas fragilidades e inconsistências crescentes – é a ferramenta disponível para os que lutam por barrar a direita e por aprofundar as reformas sociais no Brasil.

A guerra será aberta e total. Sem ilusões. Sem “diálogo”. Se insistir nos “almoços”, o PT pode virar a sobremesa. Com as cabeças de Dilma/Lula/Padilha/Dirceu e de toda a esquerda servidas na bandeja, e expostas nas manchetes dos jornais e telejornais inimigos, nos dias e meses seguintes à eleição.

* Rodrigo Vianna é jornalista e responsável pelo blog Escrevinhador (www.rodrigovianna.com.br)


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