por Emir Sader
A operação de sapa da mídia é permanente. Sem mídia nossa, equivalente em
força, ficamos numa desvantagem estrutural.
Mas apesar da desvantagem, enquanto houver empregos e
salários, mantemos nossas chances de vencer eleições.
O que o texto não fala: 1-o desgaste sobre os partidos e
sobre os políticos, afeta duramente o PT; 2-sem o PT, as chances de vencer
eleições, governar e principalmente transformar, se reduzem muito; 3-é sinal de
debilidade que nossas esperanças dependam principalmente de lideranças
individuais; 4-a hegemonia da mídia não impede vitórias táticas, mas reduz
muito as chances de vitórias estratégicas nossas; 5-a situação econômica pode
piorar muito.
Muito tempo depois que a
mídia alternativa já havia caracterizado a velha mídia como o partido da
direita e a executiva da Folha confessasse que eles assumiam esse papel pela
fraqueza dos partidos da oposição, o campo politico foi ficando cada vez mais
configurado esse papel de partido político. Qualquer conjuntura política só
pode ser compreendida levando em conta esse papel.
Que vantagens e que desvantagens tem um partido-mídia? Valendo-se da brutal
concentração monopolista da mídia brasileira, que articula jornais, revistas,
rádios, TV abertas e a cabo, além de páginas de internet, possui um poder de
definir as agendas centrais do país e suas interpretações.
No período político atual, a questão central para o partido-mídia é a
desqualificação do Estado, de sua capacidade reguladora, indutora do
crescimento e dos seus correlatos – partidos, política, parlamentos, com a
apologia – implícita ou explícita – do mercado, como alocador de recursos.
Essa foi a tese central do neoliberalismo, na qual se apoiou a direita para
reatualizar-se, modernizar-se, conquistar espaços e forças políticas e
ideológicas nas décadas passadas. Foi essa tese que promoveu a ascensão das
lideranças de Reagan, Thatcher, Felipe Gonzalez, Mitterrand, Menem, FHC, entre
outros, derrotando a esquerda no debate, no momento do fim da URSS e da
passagem de um mundo bipolar a um mundo unipolar.
A desqualificação da economia planificada e centralizada, do socialismo, das
organizações populares, da ideia de que as soluções para os problemas das
sociedades não vem de alternativas coletivas, mas da concorrência individual,
de uns contra outros, no mercado – foram corolários dessa visão de mundo,
centrada no consumir e não no cidadão, na mercantilização e não nos direitos.
A opção do tema da corrupção vai exatamente nessa direção: denunciar, ao mesmo
tempo, o Estado, os governos, os políticos, os partidos, a esquerda, as
lideranças populares, a prioridade das políticas sociais. E, automaticamente,
anistiar ou exaltar o mercado, as empresas, os empresários, os consumidores.
A vantagem do partido-mídia é poder falar todo o tempo, todos os dias, várias
vezes ao dia, por escrito, oralmente e pelas imagens. Ocupa todos os espaços
que pode. Os jornais tem tiragens cada vez menores, mas dão a pauta para os
outros órgãos – rádios, tvs, multiplicando sua audiência.
Porem, os efeitos imediatos são ilusórios. Se conseguem acionar o imaginário de
uma certa camada da população, esta é cada vez menor, de idade cada vez maior,
de extração cada vez menos popular. Tanto assim que conseguem pífios resultados
eleitorais. Conseguem queimar as imagens dos políticos em geral – não sendo poupados
nem os que o partido-mídia apoia -, mas não conseguem traduzir isso em votos.
Políticos petistas, por exemplo, podem ser afetados, mas o Lula e a Dilma – que
personificam governos que deram certo, que aparecem para a população como os
responsáveis pelas transformações positivas que o Brasil vive, não são tocados
por essas campanhas – como as pesquisas da semana passada revelaram.
Essa a principal limitação do partido-mídia, a ponto que a Globo, que tem sua
principal base de operações no Rio – com jornais, revistas, rádios, TVs aberta
e a cabo, internet – há tempos que não consegue eleger nem prefeito da cidade,
nem governador do Estado, nem sequer senadores.
O partido-mídia tem assim capacidade de provocar desgastes políticos, mas não
pode se tornar partido politico com capacidade de organizar bloco de forças
hegemônicas, de conquistar capacidade de disputar governo.
Daí a decepção que provoca nos seus promotores as intensas campanhas que
desenvolvem, que aumentam a “indignação” nos que já são adeptos das suas teses,
sem conquistar novas adesões.
É o que aconteceu com a recente campanha contra o Lula e a Dilma. Depois de
intensas denúncias, fizeram pesquisas – Ibope e Datafolha -, confiantes que
poderiam colher resultados que demonstrassem sua capacidade de convencer a
opinião pública.
Os resultados foram decepcionantes para eles. Os políticos continuam com sua
imagem deteriorada, mas todos os políticos, não apenas os denunciados. Porém,
Lula e Dilma se situam acima de tudo isso, como os únicos grandes líderes
políticos do país, favoritos destacados para ganhar as próximas eleições.
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