No dia 11 de setembro, uma
manifestação convocada pela Assembleia Nacional da Catalunha levou mais de um
milhão de pessoas às ruas de Barcelona, defendendo que a Catalunha pudesse se
tornar um novo estado europeu. Sob o impacto dessa manifestação, foram convocadas
eleições antecipadas para o Parlamento da Catalunha. As eleições de 25 de
novembro mostrarão qual é a vontade democrática do povo catalão.
O artigo é de
Jorge Llagostera (*)
A questão das eleições
antecipadas na Catalunha está sendo abordada em alguns artigos como se fosse
manobra oportunista de políticos separatistas de direita. Isso não é correto. A
discussão é muito antiga. A atual “Generalitat de Catalunya” foi recriada em
1977, e em 1979 foi implantado o Estatuto de Autonomia da Catalunha. Esse
Estatuto havia sido conquistado no início da Segunda República Espanhola
(1931-1939), destruída pela ditadura franquista (1939-1977). As instituições
governamentais da Catalunha previstas no Estatuto incluem o “Parlament de
Catalunya” e a “Generalitat de Catalunya”. Como órgão de governo, a Generalitat
foi criada no século XIV pelas Cortes da Confederação da Coroa
Catalano-Aragonesa (a chamada Coroa de Aragão).
As origens da Catalunha como
nação situam-se no século IX, com o estabelecimento da Marca Hispânica, de
Carlos Magno. Nos séculos IX e X houve a emancipação crescente dos condes
catalães em relação aos reis francos, a conquista de territórios dominados
pelos árabes e sua ocupação por povos de língua catalã. Esse processo permitiu
a formação da Coroa de Aragão (1137), com a hegemonia do condado de Barcelona,
a unidade dos condados catalães e o processo de consolidação da língua catalã.
Os condes de Barcelona governaram os catalães durante cerca de quinhentos anos.
No século XV, as Coroas de Castela e de Aragão realizaram uma união dinástica,
constituindo o Reino da Espanha, com hegemonia castelhana (não há países na
América que falem catalão). Até o início do século XVIII as instituições
catalãs permaneceram, com grau variável de soberania, até 11 de setembro de
1714, quando as tropas de Felipe V, primeiro monarca da centralista dinastia
Bourbon a assumir a coroa espanhola, invadiram Barcelona. Até hoje os catalães
relembram esse evento (11 de setembro é a Data Nacional da Catalunha) como
símbolo da perda de suas instituições.
A revolução industrial vivida na Catalunha a partir do final do século XVIII
desenvolveu uma importante indústria têxtil e uma classe trabalhadora
organizada principalmente nos sindicatos anarquistas. No final do século XIX um
movimento cultural e político conhecido por "Renaixença" retomou, de
forma organizada, a defesa da cultura e das instituições catalãs.
Após a derrota da República Democrática na Guerra Civil (1936-1939) e durante a
ditadura de Franco, o ensino do catalão foi proibido nas escolas. Livros,
jornais e revistas não podiam ser impressos, o cinema era unicamente dublado ou
falado em castelhano, e o rádio e, posteriomente, a televisão eram emitidos
somente nessa língua. Em 15 de outubro de 1940, o ex-presidente da Generalitat
Lluís Companys, após julgamento militar sumário, foi fuzilado em Montjuich.
Com a democratização da Espanha em 1977, durante cerca de vinte anos, por meio
do governo da Generalitat e do esforço dos trabalhadores, a Catalunha
conseguiu, gradualmente, construir uma autonomia crescente e ampliar a
soberania sobre diversas áreas, particularmente sobre a educação e o sistema de
saúde.
Nos últimos anos, a excessiva centralização política do estado espanhol e a
crise desencadeada em 2008 afetaram de forma muito intensa a desequilibrada
economia espanhola. Os problemas multiplicam-se, investimentos em
infraestruturas são concentrados nas regiões de influência de Madrid, o governo
espanhol procura re-centralizar areas de competências em que a Generalitat já
tinha desenvolvido esforços importantes. O desemprego aumenta de forma intensa
e as políticas recessivas vão sendo implementadas uma após outra, afetando
diretamente as condições de vida da população.
No último dia 11 de setembro,
uma manifestação convocada pela Assembleia Nacional da Catalunha, uma
organização não governamental, levou mais de um milhão de pessoas às ruas de
Barcelona, defendendo que a Catalunha pudesse se tornar um novo estado europeu.
Sob o impacto dessa manifestação, a Generalitat decidiu convocar eleições
antecipadas para o Parlamento da Catalunha, de modo que os diversos partidos
pudessem adequar seus programas em relação à possibilidade de convocação de um
plebiscito para que povo catalão possa se manifestar sobre seu futuro. O
governo espanhol, controlado pelo conservador Partido Popular, se opõe a esse
plebiscito. As forças mais conservadoras da Espanha procuram de todas as formas
desqualificar essa reivindicação majoritária do povo da Catalunha.
Todos os partidos progressistas representados no Parlamento da Catalunha (PSC,
ERC, ICV-EUiA, SI) e mais a coligação que dirige o governo atual da Generalitat
(CiU) defendem “o direito do povo catalão decidir seu futuro”. As eleições de
25 de novembro mostrarão qual é a vontade democrática do povo catalão.
*Jorge Llagostera é engenheiro
mecânico, professor aposentado da UNICAMP, onde trabalhou no Departamento de
Energia da Faculdade de Engenharia Mecânica, durante 29 anos, tendo fantes
feito parte do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares durante 5 anos.
Graduado pelo ITA, é mestre na USP e Doutor e Livre-docência na Unicamp. Fez
pós-doutorado na "Universitat Politècnica de Catalunya - UPC". É filho
de catalães e o seu pai lutou do lado republicano na Guerra Civil.
-> Senhores Neo-Feudais (bielderbergos - alta finança capital global) em pânico... sempre que... se fala em SEPARATISMO tendo em vista a Sobrevivência de Identidades Étnicas Autóctones.
ResponderExcluir.
NOTA 1: Ninguém acredita (bom, exceptuando os 'parvinhos-à-Sérvia' - vide Kosovo) que com a evolução demográfica em curso... Portugal (França, etc) irá conseguir sobreviver!
(obs: com o desmoronamento da base sociológica que esteve na sua origem... uma Identidade não vai conseguir sobreviver)
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NOTA 2: O pessoal com um discurso anti-separatismo-50-50... como é óbvio, não é português, francês, etc... trata-se, tão somente, de MERCENÁRIOS ao serviço dos senhores Neo-Feudais (bielderbergos - alta finança capital global).
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P.S.
Uma NAÇÃO é uma comunidade de indivíduos de uma mesma matriz racial que partilham laços de sangue, com um património etno-cultural comum... uma PÁTRIA é a realização e autodeterminação de uma Nação num determinado espaço.