Os desafios do PT e das classes trabalhadoras

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Por Fábio Pessôa*

Depois de 31 anos de existência quais os principais desafios colocados ao PT e sua militância? De partido de oposição e de forte enraizamento nos movimentos sociais o PT pouco a pouco foi cedendo espaço para o pragmatismo eleitoral, notadamente após a reorganização estratégica do Partido, em 1995, quando se conformou a hegemonia reformista após a criação do denominado “Campo Majoritário”.

Ao privilegiar a conquista de espaço institucional através de eleições, marcadas pelo rebaixamento programático do partido e da ampliação do leque de alianças políticas consubstanciada pela lógica de que “o que importa é ganhar, não importando os meios”, o PT sofreu e sofre uma crise de identidade sem precedentes. Ganhamos muitos governos mas não conquistamos o poder.

A lógica reformista e sua marca discursiva, a chamada “revolução democrática”, traduz uma velha estratégia de conquista de poder político pelas esquerdas no Brasil e em várias partes do mundo, através da qual a revolução se dá por “etapas” sendo a unidade com a “burguesia progressista” o elo de ligação fundamental entre um passado de “atraso” e um futuro de “progresso”. Dessa forma, a crítica anti-capitalista dá lugar ao pensamento social-democrata e sua crença fundamental num estado de bem estar social dirigido por um governo de centro-esquerda, progressista, que faria reformas conciliatórias entre o acúmulo de capitais por uma burguesia renovada e, ao mesmo tempo, distribuiria a riqueza produzida no país aos setores mais pobres da população.

Os dois mandatos de Lula e os primeiros meses do governo Dilma vão nessa direção. As políticas melhoristas implementadas, se comparadas pela lógica de poder secularmente implementada no Brasil, configuram avanços notáveis, como o deslocamento de setores pauperizados, miseráveis a um novo patamar de consumo de bens materiais imediatos, a retomada do investimento estatal em obras públicas de infra-estrutura e o aumento considerável do investimento público em áreas como saúde e educação, a valorização do salário mínimo, entre outras.

Se por um lado as políticas compensatórias significam mudanças no nível geral de vida da população, por outro estão aquém da necessidade de transformação radical na política e economia do país. As crises européias e nos EUA mostram que o modelo de bem estar social criado na Europa nos últimos 60 anos então em xeque. A dívida pública dos países centrais do capitalismo não foram causadas pelos gastos sociais, idéia vendida pelos grandes meios de comunicação. Um olhar cuidadoso e atento nos índices de endividamento dos estados centrais e o acúmulo de riqueza individual nesses países mostram uma combinação perversa. A dívida estatal se acumulou junto com a fortuna de poucos indivíduos, mostrando que os recursos estatais foram drenados para o acúmulo particular de grandes empresas e não para os interesses gerais da sociedade.

No caso brasileiro, o nível de diferença entre os mais ricos e pobres não diminuiu, ao contrário. Isso mostra que as reformas necessárias ao país não são de caráter “estruturantes”, mas estruturais. Ainda necessitamos atualizar as “reformas de base” propostas no Governo Goulart, em 1964. Reforma Agrária de fato, “na lei ou na marra”. Uma reforma política profunda. Uma reforma tributária que incida sobre as grandes fortunas, especialmente do capital especulativo. Os lucros recordes dos banqueiros mostram não só um vigor econômico do país, como fundamentalmente é desigual a partilha da riqueza produzida pelos trabalhadores. É necessário uma ampla reforma urbana, com uma política de reordenamento das cidades, tornando-as públicas e não espaços públicos de interesse privado. É preciso uma reforma no sistema de comunicação do país de modo a fazer das comunicações um bem público de interesse social.

Os protestos nos países centrais capitalistas de estudantes, como na Inglaterra contra a privatização sem precedentes do ensino superior, dos trabalhadores gregos e espanhóis, a primavera árabe e a mudança na relação de poder em países como o Egito e a Tunísia, o movimento “ocupe Wall Street” são provas de que a história não acabou e o capitalismo não é a etapa final e definitiva.
O PT, em seus 31 anos de existência contribui com a organização da classe trabalhadora, com a conquista de governos progressistas e com a elevação da consciência da classe trabalhadora. Seu papel protagonista deve continuar conciliando ação institucional com luta social concreta, evitando a burocratização de sua militância no estado ou no partido, acumulando força institucional e política para a construção do socialismo. A utopia é agora e o futuro está nas mãos da classe que dá nome ao partido: a classe trabalhadora.

*Historiador e professor, Membro da Executiva Estadual do PT.



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