Daltonismo político

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por Murillo de Aragão

Uma velhíssima piada de Juca Chaves contava que dois irmãos gêmeos – um pessimista e outro otimista – ganharam presentes de aniversário.

O otimista ganhou uma lata de esterco e, todo contente, perguntou onde estava o seu cavalo. O pessimista ganhou uma bicicleta e começou a chorar – disse que ia cair, que ia se machucar e que seria roubado pela turma da Zona Norte.

Quando escrevemos sobre o Brasil recolhemos tanto uma carga de otimismo quanto poços de amargura. Diferentemente da piada, algumas vezes ambos cheiram a esterco.

O otimismo róseo nos tira a real dimensão dos desafios que temos pela frente para construir uma nação justa. O pessimismo crônico também tira o foco do que realmente está acontecendo.

Pior é a amargura de muitos com o país. Sobre meu comentário da semana passada, por exemplo, um irritado leitor disse que o meu “otimismo” era desmentido pelas manchetes diárias. Outro lembrou o lixo que é o Enem.

Vamos lá. O Brasil de hoje tem uma das menores taxas de desemprego entre as maiores economias do mundo. Nossas reservas colocam o país como candidato a ajudar a Europa (!!??). O consumo de calorias aumentou substancialmente entre a população e temos um movimento relevante de ascensão social da classe E para a classe C . A oferta de crédito pulou do patamar dos 20% para próximo dos 50% do PIB. Diminuiu o número de brasileiros com renda menor do que um salario mínimo: de 71% para 58% entre 2004 e 2009. A desigualdade, como um todo, caiu 5,6% em 5 anos.

O investimento estrangeiro é o maior em nossa história. Nosso mercado interno é uma imensa riqueza com potencial de mover a economia por muitos anos.Não quero nem falar do pré-sal. Para irritar ainda mais os pessimistas, o mundo inteiro olha para esse fenômeno com atenção.

Para os perdedores das classes A e B, a amargura e o horror em relação ao governo é explicável. Afinal, não são eles que estão tendo acesso ao crédito e ao consumo. Não são eles que estão conseguindo melhorar de vida e ganhar mais. Não são eles que estão se beneficiando diretamente da estabilidade da economia. Esquecem que, para quem está subindo na escala social, o Brasil está muito melhor.

Por outro lado, é evidente que o Brasil vai mal em muitas coisas, pois continua a conviver com: corrupção, sistema político falido, baixa qualidade de ensino, baixa qualidade do serviço público, clientelismo e corporativismo, entre outras mazelas.

Temos taxa de juros elevadas. Corremos o risco do retorno da inflação. Existem sérios problemas de segurança pública, entre muitas outras mazelas. Manchetes ruins são muitas. Porém, existem muitas manchetes boas. Tudo compõe um mosaico único que é o Brasil. Não podemos perder de perspectiva que o quadro que se apresenta tem aspectos ruins e bons. Mas a tendência é de que o país continue a melhorar.

Por fim, não é adequado nem produtivo focar no negativo de sempre e deixar de lado o que de bom está acontecendo. Quem não consegue enxergar as nuances entre o que é bom e o que é ruim no Brasil de hoje sofre de daltonismo político e jamais perceberá as imensas oportunidades e desafios que se apresentam para o Brasil e para os brasileiros.

é cientista político

Murillo de Aragão é cientista político


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