Milton Temer: Carta aberta aos petistas

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Com a legitimidade de quem cumpriu dois mandatos de deputado federal; e de quem por duas vezes disputou a presidência, representando os segmentos mais combativos e identificados com o programa socialista, é que me considero na obrigação de me dirigir aos militantes e alguns dirigentes do Partido dos Trabalhadores.
 
Embora seja fundador do PSOL, não considero possível qualquer possibilidade de êxito de nossos movimentos táticos, conjugados com os objetivos estratégicos de transformação qualitativa da sociedade brasileira, sem a participação, e até parceria ativa, dos segmentos sociais que hoje se representam no PT. 
 
Nesse contexto, diante do que se registrou nas eleições municipais e autônomas na Espanha, e dos caminhos que vêm tomando o governo Dilma, acho que tenho condições de entrar no debate da militância petista.
 
É verdade que a direita brasileira nem se aproxima, organicamente, da competência da direita franquista espanhola. A de lá, gerada no combate militar e ideológico contra a república popular, criou raízes sólidas durante as décadas da ditadura de Franco. A de cá, tão perversa quanto a de lá, foi matreira o suficiente para se impor sem tantos traumas, a partir da doação das capitanias, passando pelo período de controle da família real portuguesa e mantendo a hegemonia patrimonialista durante quase todo o período da história republicana. Por isso, nunca teve preocupação com mobilização militante.
 
E o quadro não mudou com a chegada ao poder de quem, previsivelmente, tinha por meta uma transformação qualitativa da estrutura social do país. Pelo contrário. Como o próprio ex-presidente Lula afirmou em uma de suas últimas conferências, nunca o grande capital, principalmente o financeiro, acumulou tanto lucro em tão pouco espaço de tempo quanto durante seu período de governo.
 
Pois é justamente por aí que a porca pode torcer o rabo. Se, nos mandatos de Lula, as concessões aos maganos foram neutralizadas por um brutal programa assistencialista de distribuição de rendas mínimas – o que fez passar ao PT boa parte da base eleitoral antes controlada pela velha direita -, o de Dilma, da forma como vem sendo encaminhado, pode não ter os mesmos instrumentos de persuasão.
 
Os anúncios de privatização em áreas estratégicas, cortes orçamentários que só abrem exceção para os incessantemente crescentes serviços da dívida pública, na esteira da manutenção da apavorante política de juros sobre títulos da dívida pública, são fatos incontestáveis de que nada se faz diferentemente do que faria um governo PSDB-PFL, seus derivados e/ou PMDB. Ou alguém ainda tem dúvida de que este último comporia qualquer governo?
 
É aí que vale uma pequena reflexão sobre a acachapante derrota do PSOE diante da direita franquista nas últimas eleições locais da Espanha, como necessidade de discussão sobre o nosso processo.
 
O que levou a banda de Zapatero a perder milhões de votos em relação ao último pleito, justamente num momento em que a juventude ocupava as ruas para protestar contra a política de austeridade e de corte de despesas públicas que levou o país a um recorde de desempregos? Sem nenhuma dúvida, "a economia, estúpido!", para citar um culto e bem sucedido marqueteiro de campanhas presidenciais norte-americanas.
 
A economia levou o eleitorado, outrora simpático ao reformismo moderado do PSOE, a votar no original, desprezando o clone, na medida em que os socialdemocratas deixaram de ser até moderadamente reformistas, para se transformarem em agentes dos modelos neoliberais mais extremados. Desse modelo que levou os jovens às ruas. Nesse sentido, seus simpatizantes, ou se abstiveram (porque os índices de abstenção elevados se concentraram evidentemente nesses eleitores, e não nos da direita mobilizada), ou transferiram seus votos da cópia para o original, como forma de punição.
 
Embarcar de forma incondicional na defesa das propostas de Dilma, elaboradas por Palocci, o enfant gaté do grande capital internacional e seus cúmplices locais, pode levar o PT, no Brasil, para o mesmo destino. A forma obstinada com que as lideranças partidárias correm a blindar o referido, diante dos fortes indícios dos últimos ilícitos, concorre para a equiparação aos partidos sem identidade – cujo último produto é esse PSD, que não é de direita, não é de esquerda, nem é de centro. E que os próceres petistas vêm prestigiando, sem parecer se dar conta de que a legenda não é de nada, para ser de qualquer governo. Igualando todos na mesma simbologia.
 
Se o PT se embaraçar definitivamente no pragmatismo em que mergulhou após Lula chegar ao Planalto, por conta de conjuntural apoio popular – e não estrutural -, a direita reacionária brasileira não precisará de outro golpe militar para voltar ao poder.
 
Nós do PSOL não queremos isso. Temos diferenças e divergências com o PT em função de idéias que passou a defender. Mas não temos as diferenças de valores que nos separam da velha e autoritária direita patrimonialista. Apostamos que novos tempos podem trazer novas realidades, em que a esquerda combativa se reagrupe, sem abrir mão de suas identidades e concepções sobre os caminhos de uma nova sociedade. Mas acreditando que, na desconstrução do predatório regime capitalista, temos muitos passos e muitos combates a dar, em comum.
 
Milton Temer é jornalista e foi deputado federal pelo PT-RJ de 1995 a 2002


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1 Response to "Milton Temer: Carta aberta aos petistas"

  1. A ESQUERDA BRASILEIRA SE RESUME AO PSOL,PSTU E O PCB.

    Com todo o devido respeito ao Ex Deputado Federal petista MILTON TEMER.
    Essa Carta Aberta aos Petistas foi um grave erro de avaliação politica do ex Candidato a Presidente do Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores.
    Se um dia o PSOL tentar trazer para a Militância do Partido Socialismo e Libertade os Militantes e Dirigentes Petistas que continuaram filiado e militanto organimente no Partido dos Trabalhadores o PSOL vai se torna no futuro igual ao PT de Zé Dirceu, do Lula, da Benedita da Silva,do Jorge Bittar e de tantos outros Dirigentes Petistas.
    Pois se o PSOL quer se a Novidade da Politica Brasileira o PSOL não tem que pensar em trazer os descontentes do PT.
    Pois quem estar descontente no PT é porque não conseguiu a sua reeleição para Deputado Estadual /Federal ou Vereador e muito menos conseguiu manter o seu Cargo Comissionado nas Prefeituras, Governos Estaduais e Governo Federal.
    Nobre ex Deputado Federal Milton TEMER ao invés de fazer Carta Aberta aos Petistas faça uma Carta Aberta á Juventude,Estudantes,Professores,Trabalhadores na qual não são Militantes Profissionais e nem tem os vicios da Esquerda Petista do PT,nem da Esquerda Socialista do PSB e do PPS,da Esquerda Comunista do PC do B, da Esquerda Trabalhista do PDT estou me referindo a ESQUERDA BRASILEIRA tradicional Pós Ditadura Militar (PT,PC do B, PSB,PDT e PPS).
    A ESQUERDA BRASISLEIRA NÃO CONCEPÇÃO DO SOCIALISMO MARXISTA que participou ativamente das Diretas Já, da Fundação da CUT,que lançou em 1989 LULA,BRIZOLA & ROBERTO FREIRE COMO CANDIDATOS A PRESIDÊNCIA DO BRASIL e que lutava contra a Corrupção e pela ÉTICA na POLITICA não existe mais.
    A ESQUERDA BRASILEIRA TRADICIONAL se resume a PSOL,PSTU & PCB.
    Portanto um Dirigente do PSOL como Milton Temer fazer uma Carta Aberta aos Petistas na minha humilde,simples e limitada opinião politica é um gravissimo erro de avaliação politica partindo de uma das principais Lideranças Politicas Nacionais do PSOL o Ex Deputado Federal Milton Temer.
    O nobre ex Deputado Federal Milton Temer tem que fazer uma Carta Aberta a Militância do PSOL e aos seus Dirigentes Partidarios a respeito dos novos rumos,politica de alianças e visão politica do PSOL devido ao crescimento do PSOL nessas eleições de 2012.

    Cordialmente,
    Ambientalista e Lider Estudantil MARCIO LUIZ
    Ex Militante do PT (Partido dos Trabalhadores)

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