A POESIA CAMARADA DE DIVA LOPES

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Por Charles Trocate

É frágil a resina do tempo sobre a pele
que agora é tudo e eu não sou nada 
embora feliz de beijar o sol!

Estava me perguntado, porque a poesia tornou-se para nós um artefato e os poetas nulas opiniões poéticas? Embora a peleia seja antiga, demasiadamente antiga. Desde a necessidade da arte, há algo que vai da obstinação, da transformação da poesia num semi Deus, religião à parte, aquela que no final encontra ela mesma, e a sua essência radical, de que a poesia é aquela que se cumpre, numa denegação da primeira. Ou tentada a ser uma e outra se disvecila. Há poucos muito poucos poetas da transição, aqueles, cuja meta não é torná-la um objeto estranho, um farol apontado para um espaço de pedras e dogmas, mais associá-la com máxima potência, de agitá-la rente aos portões dos costumes – uma verdadeira moral da objetividade artística- como afirma J.M Ibáñez Langlois.
A objetividade artística nesse caso não é contemplar, enfadar o mundo de imagens rotineiras, mais oferecer algo novo, que suprima a medíocre ordem das coisas, pois como se sabe, a ordem é sempre uma construção e o medíocre é a representação das misérias humanas. Mas, o ser humano, é um ser social de atividade, de prática social, ou como assiná-la Lukac´s –de práxis- então não cabe aos poetas só o simulacro, mas, pensar, exigir com todos os ritmos, -com a verdadeira moral- o ramo da beleza para não mudar nada, ou simplesmente depois de tanta luta aceitar o agnóstico, o lado imutável, o que lhe renderia, diante de qualquer circunstancia o peso de o fim, sem progressos para além do que é aceitável. A poesia não é religião, muito embora religião entendemos espírito, é e só pode ser isso, reflexo necessário, consciência, catarse, acrescentaria!
Junto a ela, a beleza é algo atemporal, por isso a permanência dos poetas que a melhor o dispusera nos séculos de sua existência. Mais isso não os faz, em hipótese alguma ou os constitui por natureza em seres superiores, portadores de excelências. A antologia do ser é a antologia da beleza e a poesia é o seu vestido, ou sua blusa, para que as outras artes também os cubram do frio da historia! Neste ponto diria que a estética do idealismo triunfou mais não lhe, pois nenhum novo desafio, e sobre todas as perspectivas sofreu distorções, desde o aparecimento da palavra e suas claves filosóficas. Devam se perguntar, (a pergunta nasceu com a palavra e a resposta também) o que tudo isso tem a ver com a poesia de Diva Lopes?
Muito pouco se olharmos com a face do mesquinho, se reduzirmos a poesia ao encanto do imediato, do imediato entende-se o agora. Mais tudo, se a situarmos na historia, no duelo das correntes filosóficas em termos literários e políticos, ou melhor, na teoria literária. Vêm do idealismo todos os cânones da literatura, os mais requisitados inclusive, idealismo e consciência andam as turras, idealismo é algo pronto, consciência é desenvolvimento da matéria e da historia, podem acreditar. Há uma afirmação bem escultural para apoderar essa questão, difícil até exemplificar. Mais que não há duvidas quanto a sua importância. A construção da idéia artística está sempre entre ceticismo e a pujança dos momentos, mais é inaceitável os poetas do materialismo, aqueles cujo chão que pisam é a matéria indissociada, por quê?
Aplicou-se aos poetas que descendem desse ergo artístico, algo que considero até infame, o epíteto de -poesia engajada- formou-se ao seu redor um largo e poderoso senso comum que o difama e o reduz à simples panfleto, entre os críticos e a critica conservadora. E mais a afirmativa, de que são poetas e poemas destituídos de primor por não identificar-se sem piedade com a tradição e nem com a arte de mercado, o que postulam afinal, como se classe política não fosse também humanidade, e que inevitavelmente a uma classe política detentora e portadora da poesia alienada, da classe em si, e a outra livre desse obstáculo, imponente porque se faz juntamente por portar o fim, - o espírito do tempo - como supõem Hegel. A poesia dessa estirpe é anti mais nada revolucionária, pois, não quer o fim, quer a emancipação da humanidade.
De qualquer forma não quero fazer aqui uma confusão de entendimentos e nem esboçar uma reação atípica ao tema, haverá sempre um prazo muito restrito infelizmente para o debate e para as polemicas da necessidade da arte e em especial da poética, mas apenas destacar o que ainda é inicial e essencial, a poesia de Diva Lopes, e já advertindo ela não faz uma poesia simples e despretensiosa, nem rebaixa a moral artística, pelo contrario a convoca em todo o seu desempenho, para obter um libelo de incitação, seu trufo permanente. E de maneira exemplar não repete a tríade que consagrou muitos poetas, (deus, a mulher e a política), essa ultima sempre em estagio litúrgico. O que a autora dialoga sem pejo, é a confirmação de que a poesia seja ela mesma, mais se cumpra radical, sabe da negação desse encontro. Poesia e intransigência!
Possui a poeta uma autonomia para dizer, característica que não é um apelo, mais um ganho fundado político e esteticamente na sua opção, que a colocar em constante poder de vigência; “não aceitamos más/as diferentes faces da mesma dor/a morte da sensibilidade/a concentração de direitos/o não tempo para o amor/a prisão da liberdade”. Não descendem dela nenhum tipo de romantismo pecaminoso. O diálogo é taciturno, em estado de silencio, mais potente, capaz de já declarar que é assim, implicando com o que percebe vil, mais harmoniosa com o que deseja, embora não haja metas a serem cumpridas. A poesia é inevitável e sua força também, pois é de mundo o seu charme, sua efervescência e por final sua casa.
Há em qualquer situação, inclusive a do projeto poético em que dados condições, nos aproximamos mais do poeta do que a sua poesia, e há evidentemente, situações inusitadas em que se importamos com os dois, e tornam se projetos comum, nos dedicamos entusiasticamente com os dois, quando isso ocorre, não outra definição, de que a poesia e poeta tem a mesma fidelidade é o que ocorre com a Diva Lopes e sua poesia. “uma arte dos artistas loucos/que são poucos/dos que perguntam/iterrogam/incomodam/dos que produzem com encanto e sensibilidade/dos que decompõem a historia/despertam a memória e recriam o cotidiano.” O que é isso senão a moral artística, sugerindo um novo trinômio, arte, historia e cotidiano, o que é absolutamente seguro, para mim, um verso confiável, que não claudica!
Diva Lopes é militante e dirigente do MST, e sabe, aliás, aprendeu manusear as palavras, não para tirar proveito próprio mais para desconcertar o que é imposto e sem sabor e gosto. A conheço de quase uma década, varias foram as veredas que andou, deu ao insólito o seu verdadeiro nome e dinamitou hipóteses, e fez este livro como convite, são poesias geograficamente enormes, percebe que a poeta andou mesmo e sulcou com sensibilidade e inovação, muitas paisagens, deu-lhes ritmo e ombro, outras seios outras colo,outras olhos e outras liberdade. O que me emociona.
Num tempo difícil, aprendido e vivido as duras penas como também vociferado, queria dizer por maus versificadores, interesseiros de prosa ruim, niilismo inadmissível expostas em tantas poesias, caducas, engomadas, quase sem vida, o que sublinhar, da poesia que diverge, sim, diverge da primeira a ultima estrofe, não sem antes, ser poesia? Levanta-se Diva Lopes, em seu livro curto mais decisivo, contenta-me tudo que ela emprega até sua chegança ao que George Lukac´s com sua coerência proclamou honestamente, com o que encerro sugerindo festa e coragem a este livro que sai por ai, de mãos dadas com todos que o desejarem e mais, necessitadores dessa poetisa e da sua poesia, - a revolução como meio e a cultura como fim-!
 
Com afeto, Charles Trocate
Marabá, Março de 2.011


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