Artigo de Lia Segre, publicado no Observatório do Direito à Comunicação:
Especialistas em internet que estiveram à frente das campanhas presidenciais mais votadas acreditam que a internet foi essencial para o desenrolar das eleições. Sem ela não teria acontecido segundo turno, acredita Caio Túlio Costa, jornalista, consultor de novas mídias e coordenador de campanha de Marina Silva (PV). A internet possibilitou a criação de um novo polo formador de opinião, diz Marcelo Branco, ativista pela liberdade do conhecimento – como se define – e coordenador da campanha de Dilma Roussef (PT) nas mídias sociais.
“Pela primeira vez temos um terceiro bloco formador de opinião. Os blocos tradicionais sempre foram os partidos e candidatos e, do outro lado, a imprensa. Eles formavam a impressão do leitor”, contou no 4º Seminário Internacional de Jornalismo Online (MediaOn), que aconteceu dias 9, 10 e 11 na capital paulista. Também participou da mesa a coordenadora da campanha online de José Serra (PSDB), ex-vereadora da cidade Soninha Francine.
Caio Túlio acredita que foi a internet que fez Marina Silva atingir 20 milhões de votos – algo que apontou como inédito no país em se tratando de um 3º colocado no pleito. Inicialmente com um desconhecimento de 60% por parte dos eleitores e com apenas 1 min e 23 s na TV contra 12 min de Dilma e 9 min de Serra, montaram estratégia eficiente na internet, com uso intenso de redes sociais dividida em 12 frentes como Blog, Twitter, sistema de arrecadação online entre outros. Esse trabalho levaou a candidatura a arrecadar 170 mil reais, doados por 2 mil pessoas, em 58 dos 242 dias que duraram sua campanha na internet. Caio segmentou os eleitores por rede social: “No Orkut a gente falava com os evangélicos, Facebook falávamos com classe média intelecutalizada, no twitter falamos com vanguarda da internet”.
Marcelo, coordenador de mídias sociais da campanha petista, acredita que a internet dá possibilidade aos eleitores de se expressarem pelas redes sociais, “possibilidade que milhões de pessoas tenham sua expressão e postem isso na internet”, e passaram a influenciar os candidatos. Soninha mencionou que a propaganda eleitoral tem apenas dez minutos, que um panfleto de debates televisivos não conseguem aprofundar temas tanto quanto a internet, onde se pode oferecer mais conteúdo. Para Marcelo, tratou-se de democratização da campanha, ainda que a base social de apoio ao governo do PT sejam os desconectados.
Ao contrário do candidato José Serra, que Marcelo acredita ter tido o apoio da mídia de massas em vozes como as de Reinaldo Azevedo e Ricardo Noblat, na campanha de Dilma as redes sociais pautaram a “mass media”, e não a mídia pautou as redes, como acontecia com o adversário.
Ao contrário do candidato José Serra, que Marcelo acredita ter tido o apoio da mídia de massas em vozes como as de Reinaldo Azevedo e Ricardo Noblat, na campanha de Dilma as redes sociais pautaram a “mass media”, e não a mídia pautou as redes, como acontecia com o adversário.
Citou como os melhores momentos da campanha online o caso da publicidade da Globo que fazia apologia ao slogan do candidato tucano “O Brasil pode mais”, e quando Lula foi entrevistado no Jornal Nacional. Esses fatos que a princípio pareciam negativos para a campanha, ajudaram quando a emissora se desculpou por insinuar preferência. A capa da Época que “pretendia ser negativa acabou sendo positiva”, e virou material de campanha em camisetas e canecas. Marcelo também lembrou a repercussão no Twitter do “Dilma facts by folha” e o “bola de papel facts”, que ficou pouco mais de um dia no Twitter mundial.
Uma das principais características da campanha que o PT fez online contou com engajamento de militantes ou simpatizantes em blogs e redes sociais diversas. Para Soninha, que controlava o conteúdo do site da campanha tucana ao Planalto, a internet permite o engajamento voluntário, um aspecto da campanha que faz diferença pois “é cada vez é mais dificil as pessoas fazerem campanha de graça”. Na campanha de Serra, a doação por internet não foi substancial. A coordenadora esperava pouco da internet, mas se empolgou ao longo da campanha com o feedback de militantes online inesperados, como donas de casa e idosos.
Uma das principais características da campanha que o PT fez online contou com engajamento de militantes ou simpatizantes em blogs e redes sociais diversas. Para Soninha, que controlava o conteúdo do site da campanha tucana ao Planalto, a internet permite o engajamento voluntário, um aspecto da campanha que faz diferença pois “é cada vez é mais dificil as pessoas fazerem campanha de graça”. Na campanha de Serra, a doação por internet não foi substancial. A coordenadora esperava pouco da internet, mas se empolgou ao longo da campanha com o feedback de militantes online inesperados, como donas de casa e idosos.
Campanha online
“Visitamos os estados, consultamos sete mil pessoas, conhecemos pessoas que seriam motores da campanha da Dilma na internet”, explica Marcelo, contratado em abril. Foi essa experiência que o permitiu conhecer a base social que daria sustentação para a campanha, que define como descentralizada e feita principalmente por voluntários, acrescenta.
“Visitamos os estados, consultamos sete mil pessoas, conhecemos pessoas que seriam motores da campanha da Dilma na internet”, explica Marcelo, contratado em abril. Foi essa experiência que o permitiu conhecer a base social que daria sustentação para a campanha, que define como descentralizada e feita principalmente por voluntários, acrescenta.
Marcelo acredita que campanha na internet é diferente, e a construção do coletivo tem que se dar de forma colaborativa. “O que funciona na rede é imprevisivel ainda. Temos que aproveitar qualidade da contrução colaborativa. Não centramos a campanha no dilma.com.br, e blog”. Foram milhares de ativistas e blogueiros que se somaram à campanha oficial – “a melhor cobertura não foi feita por nós, foi feita pelos outros”. Considera a melhor atuação a feita na blogosfera, e a pior no Facebook.
A campanha de Serra, assim como a de Dilma, separava internet de outras mídias. “A nossa configuração de internet era diferente. A gente não tinha coordenador de mídias sociais, eu era responsável pelo site oficial”, afirmou a ex-vereadora que se integrou a campanha em julho. A data avançada impediu a equipe de ter um formato definido para tocar a rede desde o começo, afirmou.
“O que imaginamos de internauta tipico se mostrou uma minoria na campanha”, disse Soninha. Ela se surpreendeu por mensagens com sugestões, críticas à campanha, e elogios de pessoas inesperadas, como “agricultores do interior do Espírito Santo”, idosos, donas de casa. Para ela, o site e a rede acabaram por ser não só oferta de conteúdo, mas ponto de encontro para militantes dos perfis mais diversificados, cujo encontro físico jamais se daria.
Ameaça
O fórum mais democrático da internet, onde a construção de conteúdo é colaborativa e as pessoas podem se expressar com certa amplitude, está ameaçado pela tramitação do Projeto de Lei (PL) 84/99, do senador Eduardo Azeredo (PSDB), lembrou Marcelo e Caio durante o debate do MediaOn. O PL se caracteriza por criminalizar ações da internet como download e compartilhamento de mp3, entre outros.
O fórum mais democrático da internet, onde a construção de conteúdo é colaborativa e as pessoas podem se expressar com certa amplitude, está ameaçado pela tramitação do Projeto de Lei (PL) 84/99, do senador Eduardo Azeredo (PSDB), lembrou Marcelo e Caio durante o debate do MediaOn. O PL se caracteriza por criminalizar ações da internet como download e compartilhamento de mp3, entre outros.
“Internet é sempre criminalizada”, afirmou Marcelo quanto à pergunta sobre baixaria nas eleições. “Não foi na internet, foi nas campanhas políticas”. O coordenador da campanha digital petista afirmou a baixaria se deu com acusações falsas, fraudes e declarações suspeitas, que apenas foram reproduzidas na internet e ganharam uma repercussão diferente.
Marcelo e Caio foram a favor de um pacto, no próprio ato do debate, de combate à lei de cibercrimes. “Não passarão”, disse um e repetiu o outro. Soninha não se manifestou.
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