Entrevista com Charles Trocate, líder do MST no sul e sudeste paraense

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Do blog do Zé Dudu

No momento em que militantes do MST e fazendeiros da região do Carajás estão frente a frente na PA-275, separados por uma guarnição da Polícia Militar do Pará, o blogger entrevista um dos líderes do Movimento dos Sem Terras no sul e sudeste do Pará.


Paraense de Castanhal, 33 anos, dezoito deles dedicado à luta pela reforma agrária na região, Charles Trocate (foto), um moreno de fala mansa, de aparência pacífica, que passou pouco mais de seis meses na escola, aprendendo a ler na marra e que hoje não fica um dia sem ler, chegando a se auto intitular “um filósofo desocupado”, autor do livro “Poemas de barricadas”, lançado em 2002.
Poeta nas poucas horas vagas em que não está envolvido com a militância sem terras, Charles é respeitado nacionalmente dentro do MST, movimento que não prega a hierarquia e tem nele o principal colaborador na região.

Acompanhe a longa conversa, onde foram abortados temas como a ocupação da frente da fazenda Marambaia, em Curionópolis, política agrária, política eleitoral, Lula, CNA e outros assuntos ligados a reforma agrária. Um texto extenso, mas que mostra a visão de quem cresceu se escondendo da morte e tem na coragem o seu ponto forte:

Zé Dudu: Qual a intenção do movimento em firmar acampamento às margens da PZ-150, em frente à Faz. Marambaia?
Charles Trocate
- Na verdade, desde a ocupação da Fazenda São Marcos, em 18 de abril 2007, foi demonstrado claramente que a nossa intenção era atuar de maneira coordenada na região para ocupar as fazendas que ligam Parauapebas a Marabá, e a razão é muito simples: temos um modelo agrário mineral nessa região que não inclui as pessoas que aqui chegam e nós temos o modelo agrário baseado na grandes fazendas que ajuda a fomentar essa grande crise social que nós vivemos no sul e sudeste do Pará. Em 2008 nós saímos da Fazenda São Marcos por força da ação do Estado, fizemos um acordo para não sermos despejados e sim sairmos pacificamente da área, em função do proprietário ter ganho na justiça o direito para desocupação. Existe hoje uma medida provisória que diz que toda e qualquer área ocupada não pode ser vistoriada, para fins de reforma agrária, nos dois anos subseqüentes à ocupação e, passados esses dois anos da desocupação da Fazenda São Marcos, nós reativamos a tática de novamente montar os acampamentos, porque naquele período, nós fizemos um acordo com os representantes do governo do Estado e do Governo Federal, através do INCRA, e foi solicitado a vistoria de nove áreas nessa faixa que liga Parauapebas à Marabá. Como o compromisso não foi cumprido, as áreas não foram vistoriadas, nós resolvemos retomar as ocupações.
Por outro lado, desde 2008 os fazendeiros que até então atuavam na região de modo disperso, começaram a atuar de maneira mais conjunta. Então, nós sabíamos que qualquer movimentação nossa, eles se levantariam, e se levantariam da forma que todos os fazendeiros se levantam historicamente, primeiro pedindo a violência estatal, segundo organizando a repreensão por conta própria, violência de classe, que ficou bem clara com as ações da sexta-feira e do sábado, ou seja, organizar a violência a partir da sua força própria, com armas e toda a arrogância que sempre tiveram. Essa ação dos fazendeiros, fez com que a ação do MST não ficasse antipatizada na sociedade e por aqueles que poderiam responder publicamente, o governo. A nossa ação ganhou força, pois eles se desmoralizaram. Primeiro porque apontam o MST como violentos quando na verdade ficou muito claro que eles é quem estavam muito bem armados e partiu deles a ação de interditar a rodovia. Nunca foi tão importante historicamente para o MST andar trezentos metros durante todo um dia de confronto.

Zé Dudu: Por que a Fazenda Marambaia, já que o proprietário alega ter documentos que comprovam a aquisição junto ao Estado?
Charles Trocate - Na verdade, a rigor, toda a base jurídica das terras do sul e sudeste do Pará é pública. Em especial essas fazendas que solicitamos as vistorias de maneira assim muito convicta, que a base dessas fazendas é pública, sem contar que foram cometidos, historicamente nessas fazendas, dois tipos de crimes: o ambiental, pois todas elas tem passivo ambiental e o crime do trabalho escravo. Juntado tudo isso, e não importa que eles estejam lá há 30 anos, a base é estatal! Basta que haja um movimento na sociedade, para que o Estado se disponha ao diálogo.

Em recente e minuciosa pesquisa, chegou-se a conclusão que para atender os títulos falsos no Pará seriam necessários dois territórios paraenses. Nós temos 6.102 títulos falsos. O erro do TJ-PA é querer cancelar um por um. Nossa avaliação é que seria mais produtivo que fossem cancelados todos, e, aqueles que realmente tivessem títulos legais, justos e verdadeiros, fizessem a reclamação que o Estado saberia resolver a questão.
Com relação a Fazenda Marambaia, não nos custa esperar, esperar para que essa avaliação de que a terra tem documento e que eles são verdadeiros sejam atestados na justiça, que seja feito um levantamento cartorial para certificar que esse título, na raiz, é verdadeiro e legal.Que ela não responde por crimes trabalhistas e por passivo ambiental.

Leia a entrevista na íntegra clicando aquii


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