Marta Suplicy, mudar o PT só se for em direção aos interesses do grande empresariado...

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Por Valter Pomar

É muito importante ler a entrevista que Marta Suplicy concedeu a Eliane Cantanhêde no dia 10 de janeiro de 2015 (ver ao final, na íntegra).

Para os que conhecem os bastidores do Partido e do governo, há na entrevista tanto fatos sabidos, quanto "versões martistas" que mereceriam correções factuais ou de interpretação.

Contudo, embora a discussão sobre tais fatos e versões seja seguramente o mais saboroso, não é nem de longe o mais importante na entrevista de Marta.

O mais importante está contido no bordão que finaliza a entrevista: "ou o PT muda ou acaba".

Ideia similar está na boca e mente de muita gente. Gente de direita, de centro e de esquerda. Amigos do PT e inimigos do PT.

Tanta gente e tão diversa falando coisa parecida demonstra basicamente: 1) o papel central que o PT ocupa na vida política nacional; e 2) a total divergência existente acerca do conteúdo da tal mudança, que tanto uns quanto outros consideram essencial para a sobrevivência do PT.

Vejam o caso desta entrevista de Marta: sua crítica à Dilma e sua crítica ao PT estão diretamente relacionadas com o elogio à "equipe econômica" encabeçada por Joaquim Levy e às preocupações do grande empresariado (os "30 PIBs" paulistas, Lázaro Brandão inclusive!!!).


Sendo generoso, está implícito que para Marta mudar o PT é mudar em direção aos interesses e preocupações do grande empresariado.

Isto posto, derivo três outras conclusões desta entrevista de Marta Suplicy.

A primeira delas: todas as mudanças que o PT já fez, todas as moderações, todas as concessões, todo o pragmatismo, não são suficientes para as pessoas que pensam como Marta Suplicy.

A verdade é que, para tal fração política e social, a mudança só seria plenamente satisfatória se e quando.. acabar com o PT enquanto partido dos trabalhadores.

A segunda conclusão é: mudando ou não, seja em que direção for, seja com que velocidade for, o PT certamente perderá uma parcela de seus atuais filiados, militantes e eleitores.

Assim, deste ângulo do problema. a questão é: quem estamos perdendo e podemos vir a perder e por quais motivos?

Gente fazendo críticas pela direita (ou seja, questionando os conflitos do PT com o empresariado e com setores da direita)?

Ou gente fazendo críticas pela esquerda (ou seja, questionando as concessões do PT e de seus governos ao empresariado e a setores da direita)?

Visto deste ângulo, Marta não é a regra: a maior parte das pessoas que saíram do PT nos últimos anos e meses, saiu fazendo críticas pela esquerda.

Sempre lembrando que -- como vimos no caso de Luíza Erundina, Heloísa Helena e Marina Silva -- há pessoas que saem criticando as alianças do PT com a direita, mas terminam fazendo alianças com a direita contra o PT,

A terceira conclusão é a seguinte: embora sejamos o Partido dos Trabalhadores, entre nossos dirigentes há gente muito importante que adota o modo de pensar de outra classe social.

No caso de Marta, não se trata apenas do conteúdo político-econômico de suas preocupações, mas da forma "principesca" como ela enxerga a política, tanto no país quanto no partido.

Vejamos alguns exemplos deste modo de pensar, que faz tudo girar em torno da ação de determinadas personalidades.

Os erros e acertos da presidenta Dilma ao tratar com os gravíssimos problemas da economia nacional e internacional são resumidos da seguinte forma: "Era preciso mudar a equipe econômica e o rumo da economia, e sabe por que ela não mudou? Porque isso fortaleceria a candidatura do Lula, o ‘Volta, Lula’."

As divergências internas do PT acerca da tática nas eleições de 2014 são resumidas assim: "Mercadante mente quando diz que Lula será o candidato. Ele é candidatíssimo e está operando nessa direção desde a campanha, quando houve um complô dele com Rui e João Santana (marqueteiro de Dilma) para barrar Lula".

E o próprio papel de Marta no PT é tratado da seguinte forma: "Cada vez que abro um jornal, fico mais estarrecida com os desmandos do que no dia anterior. É esse o partido que ajudei a criar e fundar? Hoje, é um partido que sinto que não tenho mais nada a ver com suas estruturas. É um partido cada vez mais isolado, que luta pela manutenção no poder. E, se for analisar friamente, é um partido no qual estou há muito tempo alijada e cerceada, impossibilitada de disputar e exercer cargos para os quais estou habilitada".

Como nos antigos livros de história, toda a análise política feita nesta entrevista de Marta Suplicy gira ao redor dos "príncipes", das pessoas importantes. O papel do povo, das massas, das classes, das bases, da militância aparece no máximo como acessório.

Aliás, quem a "impossibilitou" de disputar e exercer algum cargo no PT? Que culpa o Partido como um todo tem, por ela ter aceito um determinado método decisório?? Foi "o partido" que "se acovardou" ao "recusar um debate sobre quem era melhor"???

É verdade, como alguém já me explicou, que não se trata apenas de um "erro de método" cometido por Marta e outras pessoas como ela.

Existem dezenas de milhões de pessoas que acreditam que a política resume-se a luta entre os pares da nobreza. Estes milhões agem de acordo com esta crença. E, ao fazerem isto, efetivamente tendem a transformar a luta política num espécie de conflito entre "carreiras pessoais".

Nestes termos, não é contraditório que Marta critique a "luta pela manutenção do poder". Pois, como todos sabem, para um determinado setor é mesmo deplorável que a classe trabalhadora lute pelo poder, ao mesmo tempo que é considerado louvável que uma pessoa lute por cargos.

Acontece que uma das razões pelas quais foi fundado o PT --e uma das razões pelas quais quais existe todo o movimento socialista desde o século XIX -- é fazer com que a emancipação da classe trabalhadora seja obra da própria classe trabalhadora.

O que inclui, entre outras coisas, fazer com que a política seja ato cotidiano de centenas de milhões de pessoas e não um ofício restrito a uns poucos milhares.

Um dos subprodutos da aristocratização da política é fortalecer, em algumas camadas do povo, o sentimento anti-política, sentimento que ao fim e ao cabo ajuda na manutenção do status quo econômico e social.

O "interessante" é que o crescimento da influência do modo de pensar e do modo de agir burguês na cúpula do Partido está criando situações difíceis não apenas para o PT como um todo, mas também para os que compartilham aquele ponto de vista.

Pode ser necessário sair de um partido, por exemplo devido a divergências programáticas ou estratégicas. Mas quando se participa da luta política em defesa de um projeto de poder para a classe trabalhadora, em defesa de uma democracia popular, em defesa de reformas estruturais democrático-populares, em defesa do socialismo, há muito mais "espaço" para todos e todas contribuírem.

O mesmo não acontece quando -- dada a premissa da defesa dos interesses do grande empresariado-- a luta política é organizada com base nos projetos pessoais e nas "carreiras". Neste caso, não há mesmo "espaço" suficiente. E uma eventual ruptura com o Partido não decorre principalmente de divergências programáticas e estratégicas; ainda que possam existir, tais divergências são acentuadas artificialmente, para tentar dar respeitabilidade a motivações de outro tipo.

Por isto, não me comovo nem um pouco ao saber que Marta passou dois meses "chorando, com uma tristeza profunda, uma decepção enorme", se "sentindo uma idiota", ao mesmo tempo que declara ter "portas abertas e convites de praticamente todos" os partidos.

O que me provoca uma preocupação realmente profunda é saber que Marta está longe de ser a única, na cúpula do Partido, a encarar desta forma a luta política.

fonte: http://valterpomar.blogspot.com.br/2015/01/marta-suplicy.html


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