O texto a seguir foi debatido e aprovado
pela direção nacional da AE, reunida nos dias 11 e 12 de dezembro de 2013. Esta
versão final está sendo submetida à revisão final e será divulgada oficialmente
nos próximos dias.
A Articulação de Esquerda concluiu o
segundo turno do PED com uma grande vitória, no estado do Rio Grande do Sul,
onde ajudamos a eleger o presidente Ary Vanazzi. Noutros estados e cidades,
alcançamos vitórias políticas, sofremos derrotas eleitorais e assistimos, em
geral sem concordar, acordos que contornaram algumas disputas de segundo turno,
como no caso de Pernambuco.
Quanto ao conjunto da eleição das direções
partidárias, o dado fundamental a ser levado em conta na avaliação nacional do
processo, é que a maioria dos votantes não optou pelas chapas e candidaturas
que defendiam mudanças na estratégia, na tática e no padrão de funcionamento do
PT.
Não apenas os filiados-eleitores, mas
inclusive parcela majoritária dos militantes do PT seguiu apoiando,
conscientemente ou por simples inércia, a política de centro-esquerda.
Apesar de parcelas crescentes reconhecerem
os limites desta política e o acúmulo de problemas decorrente, a maioria dos
votantes não quis tirar as consequências disto na hora de votar nas chapas e
candidaturas.
Portanto, é preciso dizer que a maioria dos
que votaram no PED não transformou em voto o recado que as ruas nos deram em
junho de 2013, em mobilizações que podem voltar a ocorrer, dado que certas
condições objetivas e subjetivas seguem presentes.
Não transformou em voto a constatação de
que mudou a postura do grande Capital frente ao nosso governo, mudança de que
decorre o atual cenário de dificuldades econômicas, seja no que ele tem de
real, seja no que tem de especulação artificial.
Não transformou em voto a percepção de que
o cenário de 2014 aponta para uma campanha e provavelmente para um segundo
turno acirradíssimo.
Não transformou em voto a percepção de que
há um grande desgaste do PT junto à juventude em geral e junto à juventude
trabalhadora em particular.
A opção conservadora e continuísta que
predominou no PED poderá ter implicações graves sobre o futuro próximo e
mediato do PT e da luta política no Brasil. Isto porque a situação política
exige não apenas ousadia e renovação, mas principalmente outra orientação
política e outra conduta organizativa. O desfecho da AP470 é mais uma prova
disto.
Além de criticar a opção política da
maioria dos votantes, bem como criticar o gosto do grupo vencedor no PED pelo
aparato em detrimento da política, assim como pela “tragédia anunciada” que foi
a organização do PED, consideramos imprescindível reconhecer, de maneira
autocrítica, as debilidades do conjunto de tendências, chapas e candidaturas
que propunham mudanças na política e no comportamento do Partido.
Desde 2005, a chamada esquerda do PT vem
sofrendo um processo de divisão e redução de sua influência, que somadas ao
processo de burocratização e degeneração da vida interna partidária, torna cada
vez mais remota a possibilidade da minoria de esquerda virar maioria.
Apesar deste contexto tão difícil, no PED 2013 a chamada esquerda petista saiu
dividida em várias candidaturas e chapas.
Uma de nossas tarefas é recompor a esquerda
petista, inclusive para que volte a existir a possibilidade da minoria virar
maioria. Deste ponto de vista, nossa principal conquista no PED 2013, em âmbito
nacional, foi termos conseguido resistir e impedir o “aniquilamento” que se
anunciava, quando houve a cotização artificial de dezenas, talvez centenas de
milhares de filiados. Saudamos, portanto, a continuidade, no novo Diretório
Nacional, de representantes de variados setores da esquerda petista.
Mas embora “sobreviver” seja condição
necessária, é absolutamente insuficiente para quem deseja conduzir o PT a
adotar outra orientação política. Temos a nossa frente o desafio de ampliar e
muito a presença de nossa política junto a classe trabalhadora, na luta social,
política, eleitoral e de ideias.
O PED 2013 foi marcado pela adesão –ao
grupo majoritário—de grupos e indivíduos que antigamente integravam a esquerda
petista. Também a tendência denominada “Movimento PT” optou por aderir ao grupo
majoritário.
É importante dialogar com os dirigentes,
militantes e bases dos setores que aderiram ao grupo majoritário, mostrando os
efeitos negativos disto para o Partido e, em alguns casos, até mesmo para os
que aderiram. Os resultados políticos e eleitorais do PED fornecem material
abundante para mostrar que não se inaugura um novo período, abrindo mão da
história e do debate franco das divergências.
Entre as chapas e candidaturas que
defenderam mudanças, destaca-se a denominada Mensagem ao Partido. A principal
diferença que temos em relação a Mensagem é que não consideramos que sua visão
estratégica seja efetivamente alternativa à defendida pelo grupo majoritário.
É a ausência de uma visão estratégia
realmente alternativa que explica, em nossa opinião, as profundas contradições
existentes na ação da Mensagem antes, durante e depois do PED.
Exemplos destas contradições podem ser
vistos, por exemplo, nos estados de Pernambuco, Espírito Santo e Paraíba, onde
setores integrantes da Mensagem defendem a subordinação do Partido a forças
políticas de direita, externas ao PT.
Outro exemplo destas contradições: no
estado de São Paulo, a Mensagem apoiou a candidatura presidencial apresentada
pelo grupo majoritário. Diferentemente do Rio Grande do Sul, onde os vários
setores da Mensagem foram, todos eles, parte fundamental da vitória de esquerda
com Ary Vanazzi.
Finalmente, mesmo naquele terreno onde a
Mensagem se movimenta com mais desenvoltura, a saber, a crítica aos
procedimentos organizativos da maioria, percebemos uma postura ambivalente,
crítica para fora, mas conciliadora para dentro, como ficou evidente no
rumoroso episódio da denúncia de “compra de votos” durante o PED.
Do ponto de vista organizativo, o PED 2013
foi pior do que todos os anteriores. Podemos dizer que há um amplo consenso
sobre isto dentro do Partido. O problema é que este consenso esconde posições
muito distintas.
Por um lado estamos nós e outros setores,
que defendemos que o processo de eleição das direções partidárias seja feito
através de encontros partidários.
Por outro lado, estão os que defendem
“qualificar” o PED, por meio de adoção de regras que reduzam o peso dos
filiados-eleitores e ampliem o peso dos militantes, na linha do que foi
aprovado no IV Congresso do Partido e posteriormente revogado pelo Diretório
Nacional.
Finalmente, há os que defendem ampliar e
facilitar a participação, reforçando a influência dos filiados-eleitores em
detrimento dos militantes.
Em termos objetivos, o número de filiados
que participou do PED 2013 foi inferior ao PED 2009. Em 2009 votaram 518.192
filiados e filiadas. Em 2013, votaram 425.604 petistas.
Exatos 387.837 filiados cotizaram (ou foram
cotizados), mas não compareceram para votar, deixando clara a artificialidade
(e a influência do poder econômico) no processo de filiação e cotização. A
artificialidade foi tamanha que só restou, a um dos responsáveis pela
organização do PED, falsificar a realidade para tentar explicar a quebra: “O
voto hoje é mais criterioso, as pessoas precisam passar por atividade
partidária, tem que efetuar contribuição financeira. É um processo muito mais
complexo. No PT, não é só voto. As pessoas têm que participar efetivamente do
processo”, disse a pessoa citada.
Somando os que votaram nulo (10.343) ou
branco (36.317), com os que estavam cotizados mas não compareceram (387.837),
temos 434.497 filiados, número maior do que os dos 421.507 que votaram em
alguma chapa.
É preciso analisar detidamente os motivos
pelos quais tantos filiados optaram por votar em branco ou nulo para presidente
e chapas nacionais. Assim como é necessário compreender por quais motivos a
“abstenção de cotizados” variou, de cidade para cidade, de estado para estado.
A quebra na votação pode ser ilustrada pelo
resultado presidencial: em 2009 José Eduardo Dutra ganhou no primeiro turno com
58% e 274 mil votos. Rui Falcão foi eleito agora com 69,5% mas com 268 mil
votos.
A maioria dos que votaram não participou de
nenhum debate, nem tampouco teve acesso ao jornal com as posições das chapas e
candidaturas nacionais. Jornal que o grupo majoritário não queria enviar,
motivo pelo qual foi postado muito tarde, chegando na casa de parte dos
filiados depois da eleição.
Setores do PT trabalharam para esvaziar e
esterilizar a discussão. Em alguns estados, como São Paulo, não ocorreu nenhum
debate nacional. Mesmo onde o debate ocorreu, sua profundidade foi inferior ao
necessário. Também devido à falta de debate, o PED não ajudou a elevar a
qualidade das novas direções.
Apesar do enorme esforço político e
material, o resultado final do PED nacional não provocou alterações
significativas na composição do Diretório e da Comissão Executiva Nacional do
PT. Exemplo disto: em 2013 as chapas que apoiaram Rui Falcão receberam 69% dos
votos; em 2009, os mesmos setores obtiveram cerca de 70%.
Claro que para os setores minoritários, um
pequeno deslocamento pode ser a diferença entre estar ou não na direção do PT.
A Articulação de Esquerda passou por esta prova. Conseguimos sair do PED 2013
com a mesma presença na direção nacional do PT que tínhamos quando começou o
processo: 4 integrantes no Diretório Nacional, um dos quais na Comissão
Executiva Nacional.
Ademais, tivemos resultados nas eleições
estaduais e municipais que expressam nosso enraizamento na classe trabalhadora,
nos movimentos sociais, na institucionalidade, no debate de idéias e no
Partido.
Nosso resultado global, obtido contra todo
tipo de pressão externa e debilidades internas, foi produto em parte da quebra
na votação geral, mas também de nossa ação, inclusive de uma correta decisão
política de priorizar, durante o PED, o debate político-programático. Assim,
sem prejuízo da necessária autocrítica de nossos erros e debilidades, saímos
deste PED com moral alta e sentimento de dever cumprido.
Para nos representar no próximo Diretório
Nacional, apresentamos como titulares os seguintes companheiros e companheiras:
Bruno Elias, secretário executivo do Conselho Nacional de Juventude do Governo
Federal; Jandyra Uehara, da executiva nacional da Central Única dos
Trabalhadores; Adriano Oliveira, secretário de formação política do PT-RS;
Rosana Ramos, da atual Comissão de Ética Nacional do PT.
Nossa chapa indicou como seus primeiros
suplentes: Valter Pomar, dirigente nacional do PT; Iriny Lopes, deputada
federal PT-ES; Jonatas Moreth, da executiva nacional da juventude do PT; Ana
Affonso, deputada estadual PT-RS; Rubens Alves, dirigente nacional do PT; Ana
Lucia, deputada estadual PT-SE; Mucio Magalhaes, dirigente nacional do PT;
Adriele Manjabosco, diretora da UNE; Marcel Frison, secretário de habitação do
governo do Rio Grande do Sul; Inês Pandeló, deputada estadual do PT-RJ..
Para nos representar na Comissão Executiva
Nacional, a chapa “A Esperança é Vermelha” indicou o companheiro Bruno Elias,
um jovem com experiência nos movimentos sociais, no governo e no Partido.
Alguém à altura da tarefa política e afinado com a necessidade de renovação,
que vem sendo vocalizada (mas nem sempre praticada) por diversos líderes
partidários.
Propusemos e o Diretório Nacional, em sua
reunião dia 11 de dezembro aprovou, que o companheiro Bruno Elias assumisse a
Secretaria Nacional de Movimentos Populares. Estamos seguros de que ele terá, a
frente desta secretaria, o mesmo compromisso partidário demonstrado em outras
tarefas, compromisso também demonstrado por representantes de nossa tendência,
no período recente, a frente das tarefas de formação politica e relações
internacionais.
A direção nacional da AE concluiu sua
avaliação preliminar do PED, fazendo um reconhecimento e um agradecimento aos
filiados e filiadas petistas que confiaram em nós, à militância que fez nossas
campanhas, aos que foram candidatos e candidatas à direção e presidência.
Seja onde o resultado foi expressivo, seja
onde foi modesto, fizemos uma campanha politicamente clara, defendendo mudanças
profundas na estratégia, na tática e no funcionamento do PT.
Nas redes sociais, nos destacamos por uma
campanha ágil, criativa e bonita, que ajudou a quebrar o silêncio da mídia
(inclusive de parte da mídia dita alternativa) acerca do PED.
Disputamos o PED da forma como sempre
deveria ser, oferecendo nossas ideias e nossa disposição militante. E seguimos
na luta por um PT democrático-popular e socialista, com muita esperança
vermelha e sem medo de ser feliz.
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