"Hora de voltar às ruas"

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Por Wladimir Pomar

Há uma verdadeira batalha, às vezes surda, às vezes barulhenta,
entre os que se esforçam para adotar medidas que atendam aos reclamos
das manifestações populares e os que se esmeram em querer impor
medidas de sentido contrário. Os líderes do PMDB e de outros
partidos, aliados e oposicionistas, chegaram ao absurdo de
considerarem as propostas de Constituinte e Plebiscito como tentativas
de _golpe de Estado_. Ou seja, medidas universalmente reconhecidas
como democraticamente participativas, são tomadas como o seu inverso
por forças políticas que se dizem democratas.

A reação conservadora não se limita a isso. Na contramão da
exigência popular de mais investimentos públicos em mobilidade
urbana gratuita, saúde, educação, saneamento e moradia popular, os
economistas e políticos da direita e do centro se empenham em limitar
os investimentos governamentais, elevar os juros, reduzir o salário
mínimo e privatizar ainda mais os serviços públicos. Torcem para
que a inflação e o câmbio saiam do controle, culpando o governo por
volatilidades que se devem aos desarranjos das economias
norte-americana e europeia.

A reação conservadora, porém, chegou ao nível de festim de
besteirol reacionário na oposição ao programa _Mais Médicos_.
Primeiro, tentou desmerecer o programa sob o argumento de que, sem
infraestrutura básica de saúde, a presença de médicos em
comunidades e áreas desassistidas, seria infrutífera. Desconhece que
nessas comunidades e áreas desassistidas a simples presença de um
médico se torna a infraestrutura básica. Depois, procurou boicotar a
participação de médicos brasileiros no programa, através de
chicanas (este termo está na moda) de diferentes tipos. E, agora,
assumiu um caráter xenófobo, desqualificando os médicos
estrangeiros que se dispuseram a vir trabalhar no Brasil.

Isto é, copiando as corporações médicas xenófobas de alguns
países, que não aceitam os diplomas das escolas brasileiras de
medicina, os Conselhos corporativos brasileiros utilizam os mesmos
argumentos quanto à qualidade e performance dos médicos estrangeiros
contratados, todos chamados de _cubanos. _E ameaçam de represália
os médicos brasileiros que porventura colaborarem com eles.

Esses Conselhos dificilmente punem os erros médicos cometidos por
seus membros. Não movem uma palha para fiscalizar o trabalho dos
médicos relapsos e/ou que se negam a prestar socorro, a não ser que
o paciente tenha cheque ou dinheiro vivo para pagar. Mas agora
prometem rigor na fiscalização dos médicos estrangeiros_._ Embora
possa se considerar isso como um blefe, já que são incapazes de se
ausentar das clínicas urbanas, onde cobram, muitas vezes, mais de 600
reais por consulta, não se pode desdenhar sua capacidade de comprar
mãos alheias para sabotar o trabalho dos médicos estrangeiros.

Assim, pelo andar da carruagem, parece que está chegando a hora de
retornar às ruas para conquistar e defender cada uma das medidas que
atendam aos reclamos das manifestações de junho e julho de 2013. Na
saúde, não bastará o _Mais Médicos_. Será necessário que o
governo acrescente a ele o _Mais Postos de Saúde, o Mais Hospitais
Públicos, o Mais Enfermeiros, o Mais Remédios da Farmácia
Popular_ e outros _Mais_, que significam investimentos públicos
maiores, e mais reações iradas do lado de lá.

Podemos acrescentar a isso a necessidade de Mais Salas de Aula, Mais
Equipamentos de Ensino, Mais Professores, Mais Salários para os
Docentes, na educação; Mais Veículos Leves sobre Trilhos, Mais
Metrôs, Mais Trens Urbanos e Interurbanos, na mobilidade urbana e
interurbana; Mais Casas no Minha Casa Minha Vida, Mais Proteção de
Encostas, Mais Esgotos, Mais Água Potável, Mais Rios Limpos, Mais
Ruas Arborizadas, na moradia popular e no saneamento básico; Mais
Crédito no Plantio e na Colheita, Mais Crédito e Apoio na
Comercialização, Mais Alimentos, na agricultura familiar para o
mercado doméstico.

Portanto, mesmo com essa lista sumária, podemos ter alguma ideia do
volume de dinheiro público que o governo terá que redirecionar do
financiamento às grandes corporações empresariais para fins
públicos. Na prática, além de constituir novos mecanismos estatais,
terá que financiar e promover o crescimento das milhões de micros,
pequenas e médias empresas capazes de atender às novas obras e
serviços demandados por tais programas.

Então, se olharmos com mais atenção a reação conservadora e
reacionária ao _Mais Médicos_, enxergaremos por trás dela a mão
supostamente invisível daqueles que se sentem ameaçados por uma
possível inflexão dos gastos e investimentos governamentais. No
fundo, o que está em pauta é que o dinheiro público deixará de ir
para as grandes mãos privadas e irá principalmente para o público e
para as pequenas mãos privadas. Isso é considerado inadmissível
pelas grandes corporações empresariais e por seus representantes
políticos.

O _Mais Médicos_ teve o mérito de mostrar que caminho utilizar
para atender aos reclamos das ruas. Se o governo seguir a trilha
aberta por ele, certamente também abrirá novas condições para a
disputa política. Em especial se a esquerda compreender a necessidade
do apoio popular para tornar efetivos os programas _Mais_ e não
vacilar em conclamar as camadas populares a voltarem às ruas para
defendê-los.

_Fonte: Correio da Cidadania_





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