Do sítio do Partido da Causa Operária
No Correio da Cidadania de 1º de julho, Valério Arcary, dirigente do PSTU, escreveu um texto intitulado “Duas estratégias: unir a esquerda para avançar as mobilizações ou para proteger o governo Dilma?”. Analisamos aqui seu significado
O artigo começa com um elogio à unidade da esquerda. Ele diz: “O ataque dos fascistas contra a esquerda produziu uma reação extraordinária durante a última semana. A defesa do direito da esquerda de ir às ruas levantando suas bandeiras vermelhas uniu muitos milhares de jovens nos últimos dias, por todo o país, em uma mobilização unitária, entusiasmada e lúcida”.
Segundo ele a esquerda está dividida em dois “campos”. Para um “campo” seria preciso “avançar as mobilizações”, sem dar “trégua a nenhum governo”, “nem a Dilma”, enquanto no outro “campo” estariam “aqueles que consideram que é preciso unir a esquerda para defender o governo Dilma”. Ou seja: a esquerda se uniu, mas seu inimigo desapareceu da cena. Os fascistas, contra quem os “milhares de jovens”, as “dezenas de milhares de ativistas” se uniram, desapareceram das preocupações do dirigente do PSTU no parágrafo seguinte. Restaram “os governos”. Todos. Inclusive, e talvez principalmente, o do PT.
Da união contra os fascistas à união para “transformar o Brasil”
Depois de enfileirar algumas generalidades e um punhado de frases ocas a respeito das manifestações de junho, com coisas do tipo “A unidade da esquerda nas ruas foi emocionante”, o dirigente do PSTU chega a algumas conclusões.
Diz que: “O debate aberto na esquerda pelas mobilizações das últimas três semanas coloca na ordem do dia um dilema: a esquerda precisa se unir para poder ajudar o movimento da juventude a avançar na direção de novas vitórias, sob pena de perder uma oportunidade histórica de transformação do Brasil. Uma janela de oportunidade que não se abre com facilidade. A divisão da esquerda repercutirá de forma dramática sobre as possibilidades da luta em curso, porque está aberta uma disputa sobre o destino do combate de milhões. Esses milhões estão em luta porque têm pressa”.
Esse parágrafo revela o sentido da exaltação a respeito da unidade da esquerda nos parágrafos anteriores: eram mera decoração. Neste se revela o eixo da política proposta pelo PSTU.
Resumidamente, para o dirigente do PSTU, a esquerda precisa se unir para ajudar a juventude a “transformar o Brasil”. Mas, como podemos constatar, cabem até mesmo os fascistas nessa união.
Afinal, não foram poucos os grupos de direita que se aproveitaram da comoção criada a partir da brutal repressão à manifestação pela redução das passagens em São Paulo, em 13 de junho, para levar às ruas suas palavras de ordem dirigidas ao governo federal. Eles também querem “transformar” o Brasil.
Grande parte da dificuldade em compreender como foi possível um salto da unidade nas ruas para combater os fascistas para a unidade das esquerdas por “novas vitórias” está em que não há qualquer relação entre as duas coisas.
A situação em que se colocaria esse dilema seria uma situação revolucionária que é aquela que supostamente está avançando “na direção da revolução brasileira”. Ele diz que “Estamos diante da urgência da política. Os dias agora valem por meses, as semanas por anos. Tudo se acelerou”. Arcary, vendo a manifestação pelo passe livre se aproximar pela esquina, pensou que estava vendo uma revolução. No mundo imaginado por ele, basta agora derrubar o governo Dilma para fazer a “revolução brasileira”.
É claro que nada disso é a sério, o PSTU fala em revolução com o objetivo de, na melhor das hipóteses, eleger um ou dois vereadores. Busca capitalizar eleitoralmente em cima das mobilizações. Vejamos como se sai nessa tentativa.
A proposta do PSTU: construir a revolução pré-fabricada
O PSTU apresenta sua “receita” para uma revolução: primeiro se conquista a redução de 20 centavos na passagem em São Paulo, depois toda a esquerda deve se unir contra o governo Dilma.
Como? Juntando às massas os “ingredientes” os quais o PSTU chama reivindicações, que vieram “espontaneamente” “das ruas”, mas só encontraram misteriosamente na pena de Valério Arcary uma formulação. São eles: “o aumento dos salários [para quanto?] e a redução da jornada de trabalho [para quantas horas?], por exemplo, ou a anulação da reforma da previdência [por causa do “mensalão”?] e a suspensão dos leilões de privatização do petróleo do pré-sal [mas por que não a reestatização do Petrobras sem indenização aos capitalistas?], e tantas outras [nem conseguiríamos imaginar quais]”.
É uma revolução de tipo muito particular. É capitaneada por uma “esquerda” indefinida, sem trabalhadores, sem nenhuma reivindicação concreta. Ou seja, o PSTU encontrou um jeito de defender o reformismo dizendo que é revolução: uma revolução quase sem reformas.
E quando começaria o ataque dessa esquerda unida contra todos os governos? Segundo o Valério Arcary, “aqueles que compreendem que a mobilização pelas reivindicações deve avançar” deveriam ter como “prioridade” “a preparação de um dia de greve geral para 11 de julho”. Já vimos que a revolução do PSTU é um tipo bastante pitoresco de revolução sem trabalhador. No dia 11 de julho, o sindicato dos metroviários de São Paulo, do dirigido por este partido, o PSTU, não paralisou o Metrô. Já sabemos, portanto, por que Dilma ainda não caiu. O PSTU traiu a “revolução” do dia 11 de julho.
A ocultação de um problema fundamental
Valério Arcary esconde a direita. Abraça campanhas da direita quando diz, por exemplo, que a reivindicação “contra a corrupção” surgiu espontaneamente nas ruas. “Os que nos colocamos nesta posição queremos ajudar a juventude nas ruas a continuar ocupando as avenidas com as reivindicações que ela mesma foi forjando pela sua experiência prática: “conquista do passe livre, desmilitarização das PMs, mais verbas para educação e saúde, punição dos corruptos.” Busca capitalizar eleitoralmente a campanha da própria direita contra o governo, ornamentada de reivindicações de preservação do regime (demilitarização). Precisa fingir que a direita não existe para encobrir o real problema: lutar ou não contra a direita golpista? Foi por isso que a esquerda foi obrigada a se unir na Paulista.
As mobilizações mostraram a evolução da situação à esquerda. E por isso mesmo a direita também se organiza para tentar conter as massas. Por enquanto quem esteve nas ruas foi a juventude e a classe média. Valério Arcary ignora esse fato fundamental e não tem uma caracterização de classe das manifestações que se seguiram à repressão do dia 13 de junho.
A direita, inviável eleitoralmente no momento, partiu para uma atuação extraparlamentar. Por isso tivemos a condenação da cúpula de um dos maiores partidos do país sem provas. Por isso a direita estava articulada nacionalmente em sua atuação durante os protestos, levantando palavras de ordem contra as bandeiras vermelhas, levando pautas como a da PEC 37 etc. É uma atuação análoga à atuação no resto da América Latina. (Golpes em Honduras e no Paraguai, greve dos policiais no Equador, tentativa de golpe na Venezuela etc.) E essa mesma direita é que assumiria o poder imediatamente se o governo Dilma caísse hoje.
Quando um dirigente do PSTU faz coro com campanhas dessa direita, recusando-se a identificar e seprar a participação dela nas manifestações, juntando tudo numa mesma “massa”, ele está fortalecendo o movimento golpista da direita. A ilusão desse discurso é tirar proveito eleitoral das manifestações. Mas haverá eleições depois de um golpe? Se houver, certamente não serão eleições que partidos de esquerda possam vencer.
http://www.pco.org.br/ esquerda/pstu-no-fantastico- mundo-sem-direita/aiea,o.html? fb_comment_id=fbc_ 506657856080605_53218598_ 506766579403066#f1530163d8
O artigo começa com um elogio à unidade da esquerda. Ele diz: “O ataque dos fascistas contra a esquerda produziu uma reação extraordinária durante a última semana. A defesa do direito da esquerda de ir às ruas levantando suas bandeiras vermelhas uniu muitos milhares de jovens nos últimos dias, por todo o país, em uma mobilização unitária, entusiasmada e lúcida”.
Segundo ele a esquerda está dividida em dois “campos”. Para um “campo” seria preciso “avançar as mobilizações”, sem dar “trégua a nenhum governo”, “nem a Dilma”, enquanto no outro “campo” estariam “aqueles que consideram que é preciso unir a esquerda para defender o governo Dilma”. Ou seja: a esquerda se uniu, mas seu inimigo desapareceu da cena. Os fascistas, contra quem os “milhares de jovens”, as “dezenas de milhares de ativistas” se uniram, desapareceram das preocupações do dirigente do PSTU no parágrafo seguinte. Restaram “os governos”. Todos. Inclusive, e talvez principalmente, o do PT.
Da união contra os fascistas à união para “transformar o Brasil”
Depois de enfileirar algumas generalidades e um punhado de frases ocas a respeito das manifestações de junho, com coisas do tipo “A unidade da esquerda nas ruas foi emocionante”, o dirigente do PSTU chega a algumas conclusões.
Diz que: “O debate aberto na esquerda pelas mobilizações das últimas três semanas coloca na ordem do dia um dilema: a esquerda precisa se unir para poder ajudar o movimento da juventude a avançar na direção de novas vitórias, sob pena de perder uma oportunidade histórica de transformação do Brasil. Uma janela de oportunidade que não se abre com facilidade. A divisão da esquerda repercutirá de forma dramática sobre as possibilidades da luta em curso, porque está aberta uma disputa sobre o destino do combate de milhões. Esses milhões estão em luta porque têm pressa”.
Esse parágrafo revela o sentido da exaltação a respeito da unidade da esquerda nos parágrafos anteriores: eram mera decoração. Neste se revela o eixo da política proposta pelo PSTU.
Resumidamente, para o dirigente do PSTU, a esquerda precisa se unir para ajudar a juventude a “transformar o Brasil”. Mas, como podemos constatar, cabem até mesmo os fascistas nessa união.
Afinal, não foram poucos os grupos de direita que se aproveitaram da comoção criada a partir da brutal repressão à manifestação pela redução das passagens em São Paulo, em 13 de junho, para levar às ruas suas palavras de ordem dirigidas ao governo federal. Eles também querem “transformar” o Brasil.
Grande parte da dificuldade em compreender como foi possível um salto da unidade nas ruas para combater os fascistas para a unidade das esquerdas por “novas vitórias” está em que não há qualquer relação entre as duas coisas.
A situação em que se colocaria esse dilema seria uma situação revolucionária que é aquela que supostamente está avançando “na direção da revolução brasileira”. Ele diz que “Estamos diante da urgência da política. Os dias agora valem por meses, as semanas por anos. Tudo se acelerou”. Arcary, vendo a manifestação pelo passe livre se aproximar pela esquina, pensou que estava vendo uma revolução. No mundo imaginado por ele, basta agora derrubar o governo Dilma para fazer a “revolução brasileira”.
É claro que nada disso é a sério, o PSTU fala em revolução com o objetivo de, na melhor das hipóteses, eleger um ou dois vereadores. Busca capitalizar eleitoralmente em cima das mobilizações. Vejamos como se sai nessa tentativa.
A proposta do PSTU: construir a revolução pré-fabricada
O PSTU apresenta sua “receita” para uma revolução: primeiro se conquista a redução de 20 centavos na passagem em São Paulo, depois toda a esquerda deve se unir contra o governo Dilma.
Como? Juntando às massas os “ingredientes” os quais o PSTU chama reivindicações, que vieram “espontaneamente” “das ruas”, mas só encontraram misteriosamente na pena de Valério Arcary uma formulação. São eles: “o aumento dos salários [para quanto?] e a redução da jornada de trabalho [para quantas horas?], por exemplo, ou a anulação da reforma da previdência [por causa do “mensalão”?] e a suspensão dos leilões de privatização do petróleo do pré-sal [mas por que não a reestatização do Petrobras sem indenização aos capitalistas?], e tantas outras [nem conseguiríamos imaginar quais]”.
É uma revolução de tipo muito particular. É capitaneada por uma “esquerda” indefinida, sem trabalhadores, sem nenhuma reivindicação concreta. Ou seja, o PSTU encontrou um jeito de defender o reformismo dizendo que é revolução: uma revolução quase sem reformas.
E quando começaria o ataque dessa esquerda unida contra todos os governos? Segundo o Valério Arcary, “aqueles que compreendem que a mobilização pelas reivindicações deve avançar” deveriam ter como “prioridade” “a preparação de um dia de greve geral para 11 de julho”. Já vimos que a revolução do PSTU é um tipo bastante pitoresco de revolução sem trabalhador. No dia 11 de julho, o sindicato dos metroviários de São Paulo, do dirigido por este partido, o PSTU, não paralisou o Metrô. Já sabemos, portanto, por que Dilma ainda não caiu. O PSTU traiu a “revolução” do dia 11 de julho.
A ocultação de um problema fundamental
Valério Arcary esconde a direita. Abraça campanhas da direita quando diz, por exemplo, que a reivindicação “contra a corrupção” surgiu espontaneamente nas ruas. “Os que nos colocamos nesta posição queremos ajudar a juventude nas ruas a continuar ocupando as avenidas com as reivindicações que ela mesma foi forjando pela sua experiência prática: “conquista do passe livre, desmilitarização das PMs, mais verbas para educação e saúde, punição dos corruptos.” Busca capitalizar eleitoralmente a campanha da própria direita contra o governo, ornamentada de reivindicações de preservação do regime (demilitarização). Precisa fingir que a direita não existe para encobrir o real problema: lutar ou não contra a direita golpista? Foi por isso que a esquerda foi obrigada a se unir na Paulista.
As mobilizações mostraram a evolução da situação à esquerda. E por isso mesmo a direita também se organiza para tentar conter as massas. Por enquanto quem esteve nas ruas foi a juventude e a classe média. Valério Arcary ignora esse fato fundamental e não tem uma caracterização de classe das manifestações que se seguiram à repressão do dia 13 de junho.
A direita, inviável eleitoralmente no momento, partiu para uma atuação extraparlamentar. Por isso tivemos a condenação da cúpula de um dos maiores partidos do país sem provas. Por isso a direita estava articulada nacionalmente em sua atuação durante os protestos, levantando palavras de ordem contra as bandeiras vermelhas, levando pautas como a da PEC 37 etc. É uma atuação análoga à atuação no resto da América Latina. (Golpes em Honduras e no Paraguai, greve dos policiais no Equador, tentativa de golpe na Venezuela etc.) E essa mesma direita é que assumiria o poder imediatamente se o governo Dilma caísse hoje.
Quando um dirigente do PSTU faz coro com campanhas dessa direita, recusando-se a identificar e seprar a participação dela nas manifestações, juntando tudo numa mesma “massa”, ele está fortalecendo o movimento golpista da direita. A ilusão desse discurso é tirar proveito eleitoral das manifestações. Mas haverá eleições depois de um golpe? Se houver, certamente não serão eleições que partidos de esquerda possam vencer.
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