A comunicação tem que ganhar a importância que ainda não tem neste governo. Porque a comunicação democrática, o livre fluxo da informação, é um direito humano tão importante quanto o acesso à educação e à saúde
Por Antônio Mello, d www.brasildefato.com.br
Segundo li no Blog da Cidadania, do Eduardo Guimarães, a Comunicação da presidenta Dilma tem pesquisas que mostram que toda a campanha da mídia corporativa contra seu governo ainda não atingiu sua imagem.
Não penso assim, por isso repito quase na íntegra postagem deste blog de junho de 2011.
O governo da presidenta Dilma ainda não percebeu que a batalha das comunicações é tão importante hoje em dia quanto o saneamento básico, o acesso à educação e à saúde.
Porque o mundo vive hoje a chamada guerra de quarta geração, que se desenvolve não nos campos de batalha mas na cabeça e no coração das pessoas. A mídia corporativa é o braço avançado dessa guerra na luta para o Brasil voltar a se encaixar na ordem capitaneada pelos Estados Unidos.
O ex-presidente da Venezuela Hugo Chávez conheceu essa força em 2002, quando foi derrubado do poder por um golpe idealizado, forjado, trabalhado, incitado e comandado pela mídia corporativa de lá, liderada pela cadeia RCTV (a RGTV - a Rede Globo de Televisão - de lá, à época).
A batalha da comunicação se desenrola como um roteiro cinematográfico, onde os lados opostos vão criando seus personagens, tramas, subtramas, com o objetivo de conseguir chegar ao seu final feliz.
Por serem governo e oposição, é claro, o final feliz de um é a desgraça do outro, como experimenta agora a oposição quase esfacelada com o impressionante sucesso do governo do presidente Lula, e agora da presidenta Dilma.
Grosso modo, a história que o governo pretende contar está resumida no discurso de posse da presidenta Dilma (que pode ser lido na íntegra aqui). É uma história de continuidade em relação ao governo anterior, mas também de avanço e com um eixo central:
A luta mais obstinada do meu governo será pela erradicação da pobreza extrema e a criação de oportunidades para todos.
Já a história que a oposição - há tempos subsidiada, mas hoje assumidamente liderada pela mídia corporativa - quer contar é a seguinte: Este é um governo demagógico, que se vale de bolsas e transferência de renda para vagabundos, numa compra indireta de votos; é um governo de petralhas, de cumpanheros enriquecendo como nunca; uma república sindicalista, com bolsa de estudo para pobre, tudo para os pobres, com o objetivo de continuar vencendo as eleições e poderem roubar ainda mais.
Já tentaram o golpe em 2005, com o mensalão. Em 2006, levaram a eleição para o segundo turno com o episódio da foto do dinheiro feita pelo delegado Bruno. Depois, em 2010, a guerra do aborto, o episódio ridículo da bolinha de papel, o jogo sujo da ficha falsa de Dilma na primeira página da Folha.
Perderam mais uma vez. Mas, aos pouquinhos, na timeline da comunicação, vão construindo seu roteiro, deixando registrados os papéis que querem destinar ao governo: corrupto, antidemocrático, defensor da censura, populista.
O presidente Lula sozinho conseguia fazer a comunicação de seu governo. Graças a seu carisma, sua história de vida. Graças também às inúmeras campanhas majoritárias que disputou antes de vencer em 2002. Ainda assim, quem não se lembra?, chegou a ficar atrás de Serra em pesquisas de 2005, ano auge do mensalão.
Lula talvez conheça o Brasil como ninguém ("nunca dantes"). Talvez tenha ido a mais municípios brasileiros que qualquer outro cidadão. A ponto de o povo mais humilde se identificar com ele e ver na sua luta e luta de cada um deles.
Além do mais, Lula foi um sindicalista, um líder metalúrgico. Tem liderança reconhecida na classe trabalhadora organizada.
A presidenta Dilma não tem essas características.
Por isso, o outro grande movimento da oposição é afastar os dois e fazer o povo esquecer que Lula é Dilma e Dilma é Lula. Se na mente das pessoas eles estiverem separados, nem Lula conseguirá uni-los novamente.
Enquanto pudermos continuar crescendo, gerando empregos e desenvolvimento social, eles terão dificuldades. Mas, tudo isso tem um gargalo. E há ainda a crise mundial, que, longe de ter passado, volta a se agravar.
Por isso, a comunicação tem que ganhar a importância que ainda não tem neste governo. Porque a comunicação democrática, o livre fluxo da informação, é um direito humano tão importante quanto o acesso à educação e à saúde.
Porque, como eu já escrevi em O poder dos cartéis midiáticos não permite a informação livre e põe em risco a democracia no Brasil:
“A implantação urgentíssima do PNBL e a consequente Ley de Medios são lutas que podem impedir que o país retroceda e acabe, por blablablás lacerdistas, nas mãos de quem vai entregar a Petrobras e nossas riquezas, na próxima oportunidade”.
Encher as burras da mídia corporativa de dinheiro e ignorar o trabalho de formiguinha que ela vem fazendo no dia a dia, como verdadeiras saúvas (valha-me Macunaíma!), é fechar os olhos ao que já aconteceu no mundo.
A corrida de mais de milhão de beneficiários do Bolsa Família às agência da Caixa, a partir de um boato, foi um ensaio, mas também um aviso de que hoje, mais do que nunca na História, tudo o que é sólido desmancha no ar.
Ou, saindo do velho Marx para nosso Chacrinha, "Quem não se comunica se trumbica".
Ou Nelson Rodrigues, que alertava que o vídeo-tape é burro. O tracking também, presidenta.
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