Foto: JFK Library
por Fábio Nassif
São Paulo - Que os Estados Unidos da América
contribuíram com o golpe militar de 1964 no Brasil todos sabem. Mas o
documentário O dia que durou 21 anos, dirigido por Camilo Tavares,
explicita isso com uma contundência inédita no Brasil. O trabalhode pesquisa de três
anos rendeu aos organizadores do filme materiais secretos da CIA, telegramas e
até gravações telefônicas entre o embaixador norte-americano no Brasil e os
presidentes dos EUA John Kennedy e Lyndon Johnson. As conversas mostram o passo
a passo do golpe e o reconhecimento dele.
O documentário introduz o contexto vivido no Brasil desde João Goulart e suas
tentativas de aplicação das chamadas
Reformas de Base, até a reação estadunidense ao encaixá-lo como um comunista
semelhante a Fidel Castro. Com forte participação dos embaixadores no Brasil,
de institutos – como o Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais (IPES) e
Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD) – o golpe é tratado no filme de
maneira direta, expondo os interesses econômicos dos EUA no Brasil e o
investimento financeiro aplicado para, por exemplo, comprar parlamentares
brasileiros.
Historiadores e personalidades conduzem a narrativa, com ajuda de fotos da
época animadas, áudios, imagens de documentos e filmagens do período. Um
trabalho de fôlego, que preenche a 7a Mostra de Cinema e Direitos Humanos na
América do Sul com conteúdo, contribuindo para a construção das história do
país. O documentário buscará a distribuição comercial para abril de 2013.
Veja a entrevista que Camilo concedeu à Carta Maior e
confira a programação da Mostra no site (www.cinedireitoshumanos.org.br):
Por que escolheu dar o enfoque do documentário na atuação
norte americana no golpe de 64?
Camilo Tavares: A riqueza do material encontrado nos levou a esta opção. Tanto
os telegramas da CIA, como as conversas da Casa Branca, assim como os incríveis
programas de TV produzidos pela CBS (em 1961) para convencer a opinião pública
dos EUA.
Acredita que no Brasil há uma percepção comum dessa participação ativa dos
presidentes norte-americanos no golpe?
Camilo Tavares: Há muito pouco conhecimento do assunto. Este foi um dos
objetivos do filme. Nossa meta é que o filme que teve patrocínio do Ministério
da Cultura e da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, via Eletrobras,
Sabesp e Cesp, seja distribuído na rede de ensino público com foco no público
jovem que precisa conhecer melhor nossa história. E também do público adulto em
geral que viveu a ditadura militar mas não conhece a dimensão dos interesses
dos EUA em nosso país.
O documentário traz uma série de documentos secretos do governo dos EUA e da
CIA, além de gravações entre embaixadores e os presidentes dos EUA. Como foi o
processo de pesquisa? Quanto tempo durou, como foram adquiridos esses materiais
e como foi organizado? A divulgação desse material é considerada inédita no
Brasil?
Sim é inédita no sentido do volume de informações. Tivemos apoio de
historiadores muito antenados como Carlos Fico (UFRJ) que pesquisou os arquivos
e publicou dois livros sobre o assunto, Peter Kornbluh (NARA_Washington) e da
jornalista e escritora Denise Assis que fez a pesquisa do IPES e IBAD. A Pequi
Filmes , minha produtora, arcou um árduo e custoso trabalho de 3 anos para
levantar todo o material de arquivo. Aliás temos um rico material suficiente
para novas series de TV ou filmes longa-metragem das relações Brasil, EUA e
América Latina.
O documentário traz também dois aspectos interessantes: a insistência do
interesse financeiro dos governos norte-americanos em apoiar o golpe militar e
a suposta falta de controle de pessoas que apoiaram o golpe mas não concordavam
com torturas, prisões e outras medidas autoritárias. Acredita que os objetivos
norte-americanos foram atingidos ou em algum momento houve um descompasso com
os interesses dos militares brasileiros?
Os militares brasileiros fizeram exatamente o que os americanos queriam.
Entregaram nosso mercado para os EUA e adotaram o modelo de desenvolvimento
financiado pelas empresas americanas, que hoje são as grandes empresas do Brasil
nos setores estratégicos da economia. A primeira medida do Presidente Castelo
Branco ao assumir foi acabar com a lei que limitava a remessa de lucros
excessivos das empresas americanas ao EUA. Ou seja abriu as portas , como diz a
música do Raul Seixas: " a solução é alugar o Brasil". E alias como
será que está esta lei de remessa de lucros atualmente?
Foram colhidos depoimentos de militares. Com que objetivo buscou isso?
Este foi o grande desafio ouvir a voz dos militares como o Ministro Jarbas
Passarinho, General Newton Cruz, Almirante Bierrenbach e também dos militares
que apoiavam João Goulart, como Capitão Ivan Proença e o Brigadeiro Rui Moreira
Lima.
Qual papel o documentário em si e o cinema em geral podem ter para a promoção
dos direitos humanos no Brasil?
Considero essencial.
repostado de http://ptdemosqueiro.blogspot.com.br/2012/11/dia-que-durou-21-anos-remonta.html
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