Avaliação
das Eleições Municipais e objetivos do PT para disputar, na sociedade paraense
e nas eleições de 2014 e 2016, a hegemonia político-eleitoral do PSDB
BRASIL,
AMÉRICA LATINA E A CRISE MUNDIAL DO CAPITALISMO
Toda vez que ocorre uma crise mundial se abre uma janela de
oportunidades para a América Latina. Foi numa destas crises que as colônias se transformaram
em nações soberanas. Foi noutra destas crises que várias nações deixaram de ser
agroexportadoras e tornaram-se potências industriais. O que está posto, na
atual crise, é uma dupla questão: por um lado, qual a natureza da formação
social que existe em cada um dos países da região; por outro lado, se vamos
continuar periferia ou se vamos nos converter em um dos pólos da geopolítica
mundial.
O caminho da integração regional é defendido pelos governos
do Brasil. Argentina, Uruguai, Bolívia, Equador, Venezuela, Nicarágua, El
Salvador e Cuba. A integração é vista por estes governos como instrumento de
defesa regional (por exemplo contra os efeitos da crise mundial) e também como
meio de aproveitar as potencialidades regionais (grande reserva de água,
petróleo, minerais, riqueza biogenética, florestas naturais etc.). Por óbvio,
para aqueles que aspiram ao socialismo, a integração é uma condição necessária.
O caminho da subordinação é defendido por forças políticas
que estão na oposição, mas também por forças que governam o Paraguai, Chile,
Colômbia, Honduras, Panamá e México. Os que defendem este caminho, defendem via
de regra o capitalismo monopolista, dependente e politicamente conservador que predominou
na região durante décadas.
Esses dois blocos que existem na América Latina vivem uma
situação de equilíbrio relativo. Nem a direita consegue desalojar a esquerda das
posições ocupadas na década passada (exemplo disto é a recente eleição na
Venezuela, vencida mais uma vez por Chavez); nem a esquerda consegue desalojar
a direita das posições atualmente ocupadas (exemplo disso é a recente eleição
no México, vencida por um dos setores da direita). Esta situação de equilíbrio
relativo não vai durar para sempre. O maior ou menor impacto da crise
internacional, a maior ou menor agressividade do governo dos EUA, o maior ou
menor êxito dos projetos de integração, assim como a evolução interna de cada
país, vão empurrar a situação para um lado ou para o outro. E a pedra de toque
estratégica está no Brasil.
No século XX, o Brasil tornou-se um país capitalista dos
mais desiguais do mundo. Esta característica tipicamente brasileira se aprofundou
quando os neoliberais Collor e Fernando Henrique governaram o Brasil, de 1990 a
2002. Visto deste ângulo, o neoliberalismo foi uma espécie de bode na sala, a quem
muitas vezes se atribuíram problemas que vinham de antes dele.
Os governos Lula e Dilma (2002-2012) estão tirando o bode da
sala. A medida que o bode vai saindo, a sala vai voltando a ser o que era na
maior parte da história do Brasil: um país tremendamente rico, uma classe
dominante tremendamente poderosa, um povo tremendamente explorado. As esquerdas
que chegaram ao governo, com Lula e Dilma, sabem que não basta tirar o bode da
sala, é preciso mudar a sala, seu tamanho, sua decoração, seus móveis,
absolutamente tudo. Mas para isto é preciso poder.
AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS DAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS NO PAÍS
A eleição de prefeitos/as e vereadores/as foi realizada em
cada um dos 5.567 municípios do país. Em 50 deles, houve segundo turno. Estavam
aptos a votar 138.544.348 eleitores. Compareceram para votar 115.807.514
eleitores. Os votos válidos (ou seja, nem branco, nem nulo) foram ao todo
102.938.182. O Partido dos Trabalhadores recebeu 17.264.643 votos para prefeito,
somando os que foram eleitos e os que não foram eleitos.
Estes números indicam que o PT recebeu a maior votação
partidária, dentre todos os partidos que disputaram as eleições de 2012. Nosso
crescimento, nas eleições de 2012, foi de 4,35% dos votos em relação a 2008, um
percentual inferior a variação do eleitorado neste mesmo período.
Quanto ao número de prefeituras: o PT elegeu 627
prefeitos/as no primeiro turno e 8 no segundo turno. O PT ocupa o terceiro
lugar no quesito prefeitos eleitos, ficando atrás do PMDB (1024) e do PSDB
(702). Mas comparando com a eleição de 2008, este ano de 2012, PMDB e PSDB
perderam prefeituras, enquanto o PT ampliou o número de prefeitos. Em relação a
2008, o DEM perdeu 217 prefeituras e o PMDB 180 prefeituras. Já o PT e PSB
elegeram, respectivamente, 77 e 132 prefeitos a mais que em 2012. Dentre os
principais partidos, apenas o PT e o PSB conseguiram melhorar seu desempenho
frente aos resultados obtidos em 2008. O PSD, que está em quarto lugar quanto
ao número total de prefeituras eleitas, não existia em 2008, impossibilitando
comparação de desempenho.
Nosso crescimento, além de desigual regionalmente, foi
também desigual eleitoralmente. Se dividirmos as cidades por número de eleitores,
constataremos que o PT cresceu em todas as categorias, menos nas cidades com
mais de 150 mil habitantes. Note-se que esta é a única categoria onde o PT
interrompe uma dinâmica de ascenso contínuo que vem desde 2000. Se analisarmos
apenas as 119 cidades com mais de 150 mil eleitores, veremos que o PT saiu vitorioso
em 21 cidades, sendo 4 capitais (São Paulo, Goiânia, Rio Branco e João Pessoa).
Em 3.880 municípios a candidatura vitoriosa foi de oposição ao
respectivo governo municipal. Tomado isoladamente, o PT foi o partido mais
votado e é o partido que governa o maior número de pessoas em todo o Brasil. Mas, por outro lado, o PT não foi tão bem onde teve que
disputar diretamente contra outro partido da base do governo Dilma. Daí surge,
simplificadamente, o seguinte cálculo da oposição: se em 2014 ocorrer uma disputa
entre Dilma contra um candidato da oposição tucano-demo-pepesista, Dilma será reeleita.
Mas se em 2014 ocorrer uma disputa entre Dilma e um candidato oriundo da base
do governo, apoiado no primeiro ou no segundo turno pela oposição, a reeleição
de Dilma corre riscos. Como neste caso, quem pode fazer a diferença é o PT e
Lula, a oposição aposta suas fichas no prolongamento do julgamento do mal chamado
mensalão.
OS RESULTADOS NO PARÁ
As eleições municipais de 2012 no Pará apresentaram
novamente a polarização que tem marcado os últimos processos eleitorais, ou
seja, o embate entre o campo democrático e popular (PT, PCdoB, PSOL), o PMDB e
o campo neoliberal conservador, liderado pelo PSDB.
A derrota, em 2010, da ex-governadora Ana Júlia (PT) para o
tucano Simão Jatene, com apoio do PMDB, teve considerável influência nas
eleições municipais de outubro (2012). Candidatos do PSDB venceram as eleições
em 32 municípios, entre eles os três principais colégios eleitorais do Pará:
Belém, Ananindeua e Santarém. O PMDB elegeu 29 prefeitos e 23 o PT, quatro menos
que em 2008.
Ainda que a diminuição de prefeituras administradas pelo PT
não seja, numericamente, muito significativa, pois nessas eleições,
diferentemente de 2008, o nosso partido não contou com o poder simbólico e
também real do governo estadual, o PT no Pará saiu dessas eleições,
comparativamente aos resultados obtidos nas eleições de 2008, relativamente enfraquecido:
1) tivemos uma queda bastante significativa no total dos votos obtidos no
Pará (sobretudo percentual); 2) fomos
derrotados nas duas principais prefeituras administradas pelo partido desde
2004 (Santarém e Parauapebas); 3) obtivemos o nosso pior desempenho eleitoral em
Belém desde 1982 (a candidatura de Alfredo Costa logrou obteve apenas 3% dos
votos válidos e a bancada de vereadores diminuiu de 6 para 3); 4) em 2008
elegemos 24 vice-prefeitos, agora apenas 13. Destaquemos como positivo o total
de vereadores eleitos pelo PT no Pará e a reeleição de candidatos petistas em
16 municípios e as vitórias em outros 8 municípios, entre os quais destacamos,
pelo seu peso eleitoral, Bragança, Cametá e Monte Alegre.
O resultado eleitoral mais significativo para esquerda
paraense no primeiro turno, além das prefeituras e vice-prefeituras eleitas
pelo nosso partido, foram os 252.049 votos obtidos em Belém pelo candidato do
PSOL, Edmilson Rodrigues (32,5% dos votos válidos). Com o apoio do PCdoB, PSTU
e a maioria dos simpatizantes e tradicionais eleitores do PT, Edmilson
(prefeito eleito em 1996 e releito, também pelo PT, em 2000), disputou o
segundo turno contra o Zenaldo Coutinho (PSDB), que obteve 30,6% dos votos
válidos.
As primeiras pesquisas do segundo turno (internas e
públicas) indicavam que Zenaldo Coutinho superava a Edmilson em cerca 10% das
intenções de voto. Isto é, Zenaldo contando com o apoio da maioria dos
candidatos dos partidos de direita que disputaram o primeiro turno, sobretudo
de Jefferson Lima do PP (12,8% dos votos) e, Jordy, do PPS (4,9%) aparecia como
virtual vencedor do pleito.
Com o intuito de reverter esse quadro a coordenação de
campanha e a tendência interna do PSOL que lidera Edmilson no Pará avaliaram
que a única chance de derrotar ao candidato do PSDB estava em conquistar o
apoio do PT e, sobretudo, de Lula, Dilma e, portanto, do governo federal.
Ainda que alguns agrupamentos petistas de Belém optassem por
fazer uma tímida campanha pelo voto nulo, lembrando, entre outras coisas, a
negativa do PSOL em apoiar, no segundo turno de 2010, a reeleição de Ana Júlia,
o PT entrou na campanha quase por inteiro sem corpo mole, sem nada exigir em
troca, a não ser o cumprimento do programa de campanha que, sejamos francos,
além de possuírem a mesma origem, o programa eleitoral de Edmilson era cópia
rebaixada para o centro dos programas apresentados pelo PT quando Edmilson foi
eleito e releito prefeito.
Nos últimos dias da campanha parecia que Edmilson Rodrigues
tinha retornado ao PT. Além de Cristovam Buarque, quase só petistas apareciam
nas inserções dos programa de rádio e TV. Primeiro Lula, depois as gravações de
Dilma, ministros do governo federal e deputados do PT no Pará. Para contrapor a
estratégia de Zenaldo de aliança entre “Belém e o governo estadual”, Edmilson
contrapunha a aliança “Belém e governo federal”.
ALGUMAS TAREFAS PARA DERROTAR AOS TUCANOS EM 2014-2016
Para melhorar a nossa atuação política e as chances
eleitorais do PT no Pará será necessário realizar uma avaliação mais
aprofundada das derrotas do PT nos principais municípios paraenses e também da
vitória do PSDB, entre outros municípios, em Belém, Ananindeua e Santarém.
O governador Jatene e o PSDB fizeram o dever de casa e conseguiram
unificar, sobretudo nos municípios da Região Metropolitana de Belém, aos setores
conservadores, à esquerda e ao campo progressista cabe agora à tarefa de
unificar aos setores progressistas, partidos de esquerda, movimentos sociais e
sindicatos e organizações da sociedade civil para disputar a hegemonia
político-eleitoral aos tucanos, isto é, contra os setores políticos que
defendem os interesses das classes dominantes nacionais e paraenses.
Para ampliar as nossas chances de vitória eleitoral no
âmbito estadual, em 2014, e municipal, em 2016, é fundamental implementar nas 24
prefeituras que serão administradas pelo PT nos próximos quatro anos Governos
democrático-populares: políticas públicas direcionadas aos interesses das
classes populares, isto é, da maioria de homens e mulheres dos respectivos
municípios; orçamento participativo e participação popular na orientação e
controle dos investimentos do governo federal e prefeituras; oposição radical a
qualquer prática de corrupção e nepotismo; diálogo permanente com os partidos
aliados e os movimentos sociais e sindicatos; participação nos governos
municipais dos diferentes agrupamentos petistas existentes no município; apoio
e acompanhamento permanente da direção estadual aos prefeitos do PT e governos
municipais dos quais participam petistas.
Se não implementamos o que simbolicamente denominamos o Modo
Petista de Governar, o PT no continuará no processo que foi se acelerando nos
últimos anos de se transformar, pelo menos para muitos setores da população
paraense, num “partido igual aos outros”. ISSO TEM QUE MUDAR se pretendemos disputar
para vencer as próximas eleições no Pará: reeleger a presidenta Dilma e as
nossos candidatos ou dos partidos coligados ao governo estadual e Senado; manter
ou ampliar o número de deputados estaduais e federais; ampliar o número de prefeituras
em 2016.
O PT e os setores progressistas não contamos, ainda com meios
de comunicação de massa no Brasil e no Pará (jornais, TVs e rádios) que sejam
defensores dos interesses dos setores populares. Nesse sentido, nossa principal
arma para a divulgação das nossas ideias e propostas, a defesa das políticas
públicas do governo federal e oposição Manter uma oposição sistemática, isto é,
qualificada e permanente, aos governos do PSDB e seus aliados, serão os nossos
prefeitos, vice-prefeitos, parlamentares (deputados e vereadores), militantes
dos movimentos sociais e sindicatos e uma política permanente de formação
política dos nossos milhares de filiados e simpatizantes para disputar a hegemonia
ideológica, política e cultural dos
partidos das classes dominantes.
Certamente, um dos grandes desafios das esquerdas que
chegaram ao governo, com Lula e Dilma, nossos governadores e prefeitos, está em
fortalecer a ação sindical, os movimentos populares, a organização da
juventude, dos negros e das mulheres, a unidade dos partidos de esquerda, os
meios de comunicação democráticos, difundir nossas ideias e eleger nossos
representantes nos parlamentos e executivos. A essa tarefa comum, que deveria
ser o rumo que orientasse a ação de todos e todas as petistas, pretendemos
seguir contribuindo.
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