A direção da Central Única dos Trabalhadores no Estado do
Rio de Janeiro vê com extrema preocupação o desenrolar do julgamento da Ação
Penal 470 no Supremo Tribunal Federal. A pressão exercida pela mídia visando
não um julgamento técnico e justo, com base nos autos e nos postulados do
direito e da justiça, mas sim a condenação antecipada e o linchamento público
dos réus, lamentavelmente, faz eco entre os ministros supremos do país.
Num clima inadequado de espetacularização, garantias
constitucionais caras à democracia são ignoradas, na medida em que o STF
contraria a doutrina e sua própria jurisprudência no afã de “exemplar” um
determinado partido político brasileiro. Para a perplexidade geral, um dos
ministros ousou até mesmo inverter o ônus da prova, ao dizer com todas as
letras que cabe ao acusado provar sua inocência.
Nessa toada, fundamentos básicos do direito penal como a
presunção de inocência e a necessidade de provas concretas para a imputação dos
réus são substituídos por conjecturas, ilações e valorações subjetivas,
ancoradas por teses jurídicas jamais usadas pelo Judiciário brasileiro para
condenações, como a teoria do “domínio funcional do fato.”
O STF afronta a Constituição brasileira quando cerceia o
direito à ampla defesa de dezenas de réus, cujos processos teriam que ser
remetidos à instância de primeiro grau do Judiciário, uma vez que os mesmos não
exercem os cargos para os quais a Carta Magna prevê o foro privilegiado, ou
seja, o julgamento pelo Supremo.
Choca ainda mais saber que os acusados no processo conhecido
como “mensalão mineiro do PSDB” (mais antigo que o atual e inexplicavelmente
engavetado) usufruíram desse direito, revelando uma inaceitável adoção do
conceito “dois pesos e duas medidas” pela mais alta corte do país.
Outro grave erro do STF foi o de se curvar às pressões
midiáticas, provocando a absurda coincidência do julgamento da Ação Penal 470
com as eleições municipais deste ano. Com isso, o Supremo se permitiu
instrumentalizar pela ação política, eleitoral e partidária da mídia
brasileira.
Convenhamos, por outro lado, que vazamentos de votos e
opiniões por parte dos ministros à imprensa, bem como comentários debochados
sobre esta ou aquela política de alianças adotada pelos partidos e a
demonização da atividade política são posturas absolutamente estranhas ao que
se espera de um juiz supremo.
Com a aproximação da reta final do julgamento, a direção da
CUT-RJ alerta a sociedade para a gravidade do que ora acontece no STF e cobra o
respeito ao contraditório, à mais ampla defesa e ao devido processo legal por
acreditar que é o futuro do Estado de Direito Democrático no Brasil que está em
jogo. Não há mais espaço para julgamentos políticos e de exceção.
Rio de Janeiro, 1 de outubro de 2012.
Direção Executiva da Central Única dos Trabalhadores no
Estado do Rio de Janeiro.
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