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Pere Petit, entrevista: A História do tempo presente 

por Rosyane Rodrigues


Pere Petit

 / Maio 2012 fotos Alexandre Moraes


Em março, a Universidade Federal do Pará (UFPA) sediou o I Congresso Pan-Amazônico e o VII Encontro da Região Norte de História Oral. Os dois eventos fazem parte de um esforço para consolidar essa área da pesquisa na região. Pesquisadores brasileiros e de outros países latino-americanos, de diferentes áreas de estudo, apresentaram os resultados das suas pesquisas.

O professor Pere Petit, da Faculdade de História da UFPA e diretor na Região Norte da Associação Brasileira de História Oral (ABHO), conversou com o Jornal Beira do Rio sobre a consolidação das pesquisas com fontes orais e as dificuldades que os pesquisadores ainda enfrentam no desenvolvimento dessa perspectiva metodológica. "Além de aprender com as falas dessas pessoas, você compreende mais o outro. Na maioria das vezes, são experiências impossíveis de se encontrar em outro lugar", afirma o professor.


Beira do Rio – Qual a importância da UFPA ter sediado o I Congresso Pan-Amazônico e o VII Encontro da Região Norte de História Oral? 

 Pere Petit – No recente Encontro, inovamos ao receber pesquisadores de outros países, ao ampliar a participação de professores, alunos de municípios paraenses e de outros Estados brasileiros. No total, foram cerca de 600 pessoas inscritas, participando de comunicações, mesas-redondas, minicursos, rodas de conversa e assistindo aos documentários selecionados.


 Beira do Rio – As pesquisas assumem um caráter específico por estarmos na Amazônia?

Pere Petit – Sim. A maior parte das pesquisas, não apenas na área das Ciências Humanas e Sociais, está muito focada em questões da região. Nós temos, em algumas áreas ou temáticas, pesquisas que só podem ser realizadas com fontes orais, pela falta de documentação escrita. Durante o evento, pessoas relataram problemas ao pesquisar a Guerrilha do Araguaia, os conflitos no campo, o trabalho escravo. Ao estudarmos assuntos inseridos no que denominamos História do Tempo Presente, temos que ser conscientes de estar lidando com visões de mundo, conflitos de interesses ou disputas pelo poder, "reais" ou "simbólicos", nos tempos de hoje.

Beira do Rio – Nos seus primeiros anos, a História Oral esteve relacionada aos povos tradicionais. Com o tempo, essa metodologia também passou a ser aplicada em outros cenários, se for possível chamar assim. Em quais contextos podemos utilizá-la em pesquisas na cidade?

Pere Petit – Trabalhando com fontes orais é possível estudar a história dos movimentos sociais, dos bairros, das igrejas católicas e evangélicas, as festas juninas, a importância do cinema de bairro, qualquer tema que se julgue importante. Alguns pesquisadores trabalham exclusivamente com as fontes orais, eu prefiro não negar a importâncias das outras fontes, como vídeodocumentários, cinema, música, jornais e documentos oficiais. Estamos sempre dialogando com outras fontes, pois a intenção não é transformar as falas em verdades. Beira do Rio – É preciso buscar o contexto daquilo que é dito? Pere Petit – Sim, além do momento histórico no qual a entrevista é realizada, o local e o tempo destinado à mesma. O fundamental é o diálogo prévio que se estabelece com os entrevistados, esclarecendo, sempre, os objetivos das nossas pesquisas. Após definir as pessoas que iremos entrevistar, é preciso escolher a técnica de pesquisa que será utilizada para recolher os seus depoimentos: entrevistas dirigidas, semiabertas, histórias de vida, rodas de conversa, entre outras.

Beira do Rio – Com as novas tecnologias e as redes sociais, existem maiores possibilidades de compartilhamento de conteúdos. Isso pode ajudar a registrar e resguardar essas histórias e essas memórias?

 Pere Petit – Depende de quais redes sociais estamos falando. No Facebook, quem controla a memória dos textos e as imagens são os seus donos. Filmar as entrevistas é importante e temos usado, cada vez mais, esse recurso. Queremos ver a pessoa, o espaço onde se fez a entrevista, os momentos de silêncio, as emoções. Este é um material que desperta bastante interesse.

Beira do Rio – Normalmente, esse material gerado com a pesquisa vai ser visto em sala de aula, nos congressos científicos. Com outras mídias, seria possível compartilhar esse conteúdo?

Pere Petit – Partimos do princípio de que esse material é do pesquisador e da pessoa entrevistada. Essa questão ética é fundamental. Só em alguns casos, esse material é veiculado via internet. Existem centros de memória, institutos de tempo presente, onde esse material é veiculado, mas ainda para um uso restrito. Antes de publicar – na internet ou em artigos científicos –, os envolvidos precisam ser consultados. Beira do Rio – Em relação à História Oral, como o senhor avalia o lugar que a UFPA ocupa atualmente? Pere Petit – Sem dúvida, hoje, a UFPA é um dos principais centros de pesquisa no País. Neste último Encontro, foi interessante ver a diversidade das pesquisas: história do circo e da música, oralidade, literatura, análise de como a oralidade influenciou a própria literatura, quer dizer, temos uma grande diversidade, mas ainda nos faltam espaços para socialização dessas experiências.

Beira do Rio – Qual conselho o senhor daria para o estudante que quer ser um especialista em História Oral?

Pere Petit – O mais importante é que ele curse todas as disciplinas e faça a sua pesquisa sabendo que poderá usar fontes orais ou não. Quem trabalha com a história do tempo presente lida, de uma forma ou de outra, com pessoas vivas, essa é a diferença. A importância dessa metodologia é a experiência que ela nos dá a partir da relação com as pessoas. Além de aprender com essas falas, você compreende mais o outro, mais do que quando nos encontramos apenas com os documentos. São experiências impossíveis de se encontrar em outro lugar. Essa é nossa vantagem, seja na área que for: nós podemos ler as fontes escritas, encontrar as lacunas e, com a história oral, ajudar a preenchê-las. Fonte: UFPA


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