Dorcelina, prefeita petista assassinada, é tida como santa e seu túmulo é muito visitado com frequencia

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Para nunca esquecer. Dia 30 de outubro de 1999, foi assassinada a Prefeita do PT e lider dos semterra da regiao de Mundo Novo-MS: Dorcelina Folador.


“A Dorcelina morreu lutando. Lutando com dignidade para que um outro mundo fosse possível”, resume Marlene Oliveira, irmã da ex-prefeita Dorcelina Oliveira Folador, assassinada com seis tiros no dia 30 de outubro de 1999, em Mundo Novo, cidade que fica a 460 quilômetros de Campo Grande. Dorcelina foi morta no fim da noite de um sábado, quando estava sentada na varanda da casa onde morava com o marido e as duas filhas.

Prefeita de Mundo Novo no segundo ano de mandato, Dorcelina era conhecida por fazer uma ‘limpeza geral’ na administração do município e romper com grupos criminosos ligados ao poder público.
“Ela mexeu com a máfia da fronteira”, contou Egídio Bruneto, um dos coordenadores do MST (Movimento Sem-Terra), em Mato Grosso do Sul.

Durante 5 anos, Dorcelina era repórter voluntária do jornal do movimento, admirada pela disposição, apesar de deficiência física na perna esquerda. Os seis responsáveis pelo crime foram presos pela Polícia Civil em uma verdadeira “força-tarefa”, mas estão soltos, uns porque já cumpriram pena e outros continuam foragidos.

O mandante do assassinato, Jusmar Martins da Silva, era amigo de Dorcelina, ocupava a Secretaria Municipal de Agricultura e Pecuária e foi, inclusive, coordenador da campanha dela à prefeitura. “Dorcelina fez uma administração voltada para o interesse público e por isso fez inimigos. Aqueles que não queriam a ética na política e a participação popular procuraram calar a voz de Dorcelina”, lembrou o amigo Pedro Kemp, deputado estadual da mesma corrente política da ex-prefeita.

Santa?
Dez anos após o crime, muitos dizem que Dorcelina virou “santa”. O túmulo dela é visitado diariamente. Muitas pessoas pedem algo em nome dela e quando conseguem, atribuem à prefeita assassinada o “milagre”.
“Já recolhemos diversas cartinhas de agradecimento, de pedidos, no túmulo dela”, diz Marlene, que mora em Rondônia, mas vai a Mundo Novo anualmente. “São histórias de luta, que na frente vai Dorcelina. Eles não admitem ser outra coisa, a tratam como uma santa”.

A irmã de Dorcelina diz que sabe de muitas histórias que colocam a prefeita como responsável pela realização de pedidos. “Tem um pessoal que pediu assentamento, conseguiu e colocou o nome de Dorcelina. A comunidade católica também tem o mesmo nome”, conta Marlene. “A gente fica preocupado com isso”, diz Marlene, referindo-se à posição da família, que é bastante católica.
Política

E foi na comunidade católica que Dorcelina deu início à vida de indignação e de lutas, encerrada aos 36 anos, com tiros de pistola calibre 380. A prefeita assassinada nasceu no Paraná e veio para Mato Grosso do Sul, ainda criança, com a família.

Filha de pais humildes, lutadores, e irmã caçula entre sete, ela aprendeu desde cedo a lutar. Dorcelina teve paralisia infantil que a deixou com deficiência na perna esquerda. Por conta disso, até a adolescência, era motivo de chacotas, mas se defendia sozinha.

Já jovem, Dorcelina era uma das lideranças da comunidade católica que freqüentava com a família e por circular muito bem entre as minorias, se tornou correspondente do jornal nacional do MST em Mundo Novo, onde atuou por cinco anos, como lembrou Egídio. A irmã, se recorda do que Dorcelina fazia para estar ‘bem informada’. “Ela chegou a se vestir de freira. Pegar identidade de freira, para entrar junto com policiais em um acampamento”, lembra a irmã.

Devido ao espírito de liderança, ajudou a organizar o MST na regiao, e atuou em diversas ocupações e acampamentos do sem terra. Dorcelina fez muitas amizades na esquerda e se filiou ao PT. Partido pelo qual foi candidata à vereadora por duas vezes, não sendo eleita em nenhuma por causa da legenda, apesar de ter tido expressiva votação em ambas.

Em 1996 Dorcelina foi eleita prefeita com 3.422 votos e assumiu a prefeitura em 1º de janeiro de 1997. “Aos poucos Dorcelina vai conhecendo a herança que recebeu de seus antecessores. Encontraram a prefeitura endividada, fornecedores e funcionários sem receber seus proventos”, consta no livro assinado pela delegada de Polícia Civil Vilma Fátima de Carvalho Ângelo da Silva, escrito como trabalho de conclusão do curso de Jornalismo.

Dorcelina começou a “ajustar os ponteiros” da administração e com isso provocou a ira de muitas pessoas, entre elas Jucimar e Kleber Correa da Silva, vice-prefeito e ainda secretário de Indústria, Comércio e Turismo. Kleber saiu da Prefeitura em fevereiro de 1997 porque não concordava com as práticas lícitas de Dorcelina, entre elas, de pagar a ele somente o salário por um dos cargos.

Até outubro de 1999, Dorcelina conseguiu mudar muitas coisas na administração municipal. Entre elas, a realização de concurso público para alguns cargos e a implantação do orçamento participativo.
Jusmar, diante de todas as mudanças, e por temer rupturas familiares, pois Kleber era cunhado dele, decide mandar matar Dorcelina. Ele foi até Salto Del Guairá, cidade paraguaia vizinha a Mundo Novo, onde entrou em contato com a pessoa que contratou os executores.

No livro sobre o assassinato de Dorcelina, a autora diz que Jusmar lhe contou que após o contato com o outro envolvido foi para casa do sogro. “Fica gelado, treme, tem febre, não consegue dormir de preocupação, porque, na verdade, sabia que alguém ia matar Dorcelina”, consta em um trecho do livro escrito pela delegada Vilma, que revela ainda manuscritos de Dorcelina falando de ameaças de morte que recebia.

Os autores  do crime, aonde estão?
Os seis envolvidos no crime foram presos e condenados. Jusmar já havia confessado ser o mandante e durante o julgamento declarou que Kleber também era um dos que contratou a pistolagem.
Kleber morreu de parada cardíaca em 29 de maio de 2004, em Campo Grande. Diante da morte, cessaram as investigações sobre o envolvimento dele no assassinato de Dorcelina.
Jusmar já cumpriu pena e está em liberdade condicional. O autor dos tiros que mataram Dorcelina, Getúlio Machado, 38 anos, está foragido.

Ele conseguiu progressão de pena em 2006 e em 2011 iria para o regime aberto, no entanto, fugiu do regime semi-aberto e em 2008 foi preso com 150 quilos de maconha em Ponta Porã. Voltou para o regime fechado, depois retornou à Colônia Penal Agrícola e está foragido.
Também está foragido Theófilo Stocker, 66 anos. Ele foi para o regime semi-aberto em novembro de 2007 e em junho do ano seguinte, fugiu da Colônia Penal Agrícola.

Outro que escapou foi Ismael Meurer Silveira. Há mandado de prisão em aberto contra ele desde 2007, quando também fugiu do regime semi-aberto. Valdenir Machado, 42 anos, está em liberdade condicional desde 2007. Também foi condenado pelo crime Roldão Teixeira de Carvalho.

Herança de um exemplo de vida e dedicação ao povo.

Para Egídio Bruneto, Dorcelina se tornou um símbolo de luta na cidade.”Hoje a população está sentindo saudade dela, porque está sentindo na carne os efeitos do que ela sempre quis combater”, diz Egídio.
Para a irmã de Dorcelina, a principal herança deixada por ela é a iniciativa de lutar por Justiça, de tentar fazer alguma coisa com a ajuda de outras pessoas. “Ela mostrou que com um pouquinho, ou nada, a gente consegue fazer as coisas em mutirão”.
Marlene cita como frutos do trabalho da irmã, os ensinamentos políticos. “Ela politizou mulheres, pessoas que a gente nunca pensou que fosse possível”

Fonte: Jornal Folha da Região de Dourados -MS



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