DIREITA /ESQUERDA: A PENEIRA DA HISTÓRIA VOLTOU A CHACOALHAR

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Três décadas de alta liquidez propiciada pela desregulação financeira, com crédito fácil a juros amigáveis, ademais de importações asiáticas baratas ancoradas em fulminante destruição de parques fabris, empregos e organizações sindicais acomodaram obsequiosas burocracias e lideranças partidárias urbi et orbi.
A implosão do chamado mundo comunista lubrificou e justificou a rendição violenta ou voluntária. Explicitas ou dissimuladas máquinas partidárias 'de esquerda' associaram-se ao fastígio dos livres mercados e desfrutaram suas benesses. O colapso daquilo que se evocava como 'o fim da História' revelou então um desfile de siglas anacrônicas; quadros incapazes de manejar o aparelho de Estado em sintonia com o interesse da sociedade; empobrecimento formulador, perplexidade e catatonia.
A grande verdade é que a maioria das siglas, à direita e à esquerda, esbanja seu despreparo para um reencontro com desafios, escolhas e conflitos antes terceirizados aos ditos mercados autorreguláveis. A dissolução é de tal monta que na maior crise do capitalismo dos últimos 80 anos, a 'novidade' no repertório partidário brasileiro é o nascimento do PSD, uma direita amarrotada com roupa de centrismo envergonhado que confessa não ter propostas para nada.
O PSD se permite tal desfaçatez porque o campo para o esculacho ideológico foi pavimentado pelo recuo e a omissão do lado oposto. O ostracismo a que foram relegados projetos e palavras como socialismo, planejamento, bem comum, estatização, interesse estratégico e soberania popular cobra agora seu preço num desarmamento político, organizativo e ideológico desnorteador. Impasses apodrecem o tecido social e econômico em diferentes nações sem que se disponha de instrumentos e forças aptas a redimir o horizonte de populações acuadas e escalpeladas.
A Grécia é o símbolo dessa anomia que possibilita aos mercados enfrentar os problemas por eles criados ministrando doses cavalares de suas causas. Aquilo que se chama cinicamente de 'acordo para resgate', e que se anuncia como iminente no caso grego, contem a mesma dose de octanagem bélica subjacente às reparações impostas pelo invasor aos derrotados de uma guerra de ocupação.

Partidos 'socialistas' colonizados pela doutrina mercadista, como é o caso do PASOK , do premiê Yorgos Papandreu, prestam-se ao papel de guia para o holocausto de gerações presentes e futuras. Não é preciso se estender nos casos ou ocasos de Zapatero e outros. Mas cumpre lembrar que no Brasil a esquerda hesita em assumir a bandeira da criação de um imposto ínfimo de 0,1% sobre transações financeiras para tirar a saúde pública da fila do desespero.

Cada vez mais as ruas são e serão o ponto de fuga dessa fornalha saturada de sacrifícios inúteis, tergiversações gastas e exigências impossíveis. Mais que válvula de escape, as ruas vão separar o joio do trigo. A elas caberá, em última instância, restituir a coerência a valores e plataformas que permitam novamente chamar de esquerda aquilo que de fato estende as linhas de passagem à emancipação social. E de direita ao que usurpa o bem comum e violenta o interesse coletivo.

A Grécia está passando por esse processo.O Chile está passando por esse processo.A Itália está passando por esse processo. Não há imobilismo que sempre dure quando a peneira da história começa a chacoalhar.

Postado por Saul Leblon, em Carta Maior


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