Trabalho intenso na pós-graduação: servidão voluntária?

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  por Antonio Ozaí da Silva in práxis docente


Os professores vinculados à pós-graduação vêem-se pressionados a atingir metas e obedecer a critérios definidos por outros alheios aos programas que participam. No frigir dos ovos, o que importa não é a qualidade do aprendizado, da formação dos mestrandos e doutorandos, mas sim cumprir as exigências da Capes. Os fins são substituídos pelos meios. Disso depende a quantidade de bolsas, reconhecimento do programa, etc.

Por que determinadas práticas tornam-se predominantes na universidade, especialmente na pós-graduação? Por que os docentes introjetam a ideologia produtivista de forma acrítica e “natural”? Por que o ethos acadêmico é essencialmente pragmático e de índole mercantil? O que explica a servidão voluntária de indivíduos considerados cultos aos ditames do produtivismo e do poder burocrático? O que ganham e o que perdem ao se submeterem? Por que mesmo os que são nitidamente prejudicados aceitam resignadamente e não organizam a resistência?

Se tais práticas predominam no campus é porque atendem a determinados interesses. Acomodar-se é garantir parte do provento. O ethos akademikós corresponde a uma estratégia legítima. Há os que pautam suas práticas pela mais valia dos bens simbólicos (status, distinção, poder, etc.), pelos ganhos reais (recursos públicos e privados) e se sujeitam às exigências para atingir tais objetivos. São os plenamente adaptados, dispostos a pagar o preço requerido pela competição fomentada pelos que ditam as regras do jogo.

É correto ver os beneficiados como vítimas? Parece que é uma adesão consciente; uma opção e, como em todas, há bônus e ônus. Como negar o direito de optar? Se o indivíduo, excitado pela disputa, está disposto a qualquer coisa para vencer o jogo – até mesmo a vender a alma e comprometer a saúde física e espiritual – não é seu direito? Pode alguém acusá-lo pelo desejo de possuir mais capital simbólico e o vil metal? Tal crítica não é coisa de espíritos ressentidos? O individualismo e os valores predominantes na sociedade competitiva legitimam-no. É melhor deixá-lo em paz!

Há também os que vivem a se lastimar pelo excesso de exigências, das tarefas a cumprir, etc. Mas também resignam às estruturas burocráticas e à ideologia que influenciam o cotidiano das nossas vidas no campus e no ambiente familiar – e se sentem à vontade para cobrar dos que se recusam a “jogar o jogo”. A despeito dos reclamos e choramingos, se submetem porque não são capazes de abrir mão dos bens simbólicos e materiais a que têm direito enquanto partícipes do “jogo”. Reconheçamos, é uma atitude tão legítima quanto qualquer outra. É uma estratégia motivada por interesses igualmente legítimos.

Há, ainda, os que não aceitam as regras do jogo e se recusam a jogá-lo. Claro, também pagam o seu preço – por exemplo, viver apenas do salário, não ter FGs, bolsa produtividade, o status de professor da pós-graduação, etc. Não é tão legítimo quanto as demais estratégias? Eles também têm motivações legítimas Deixemos-lhes em paz. Até porque, na medida em que se recusa a competir e a “jogar o jogo”, é um concorrente a menos.

Não obstante, por que os docentes envolvidos com a pós-graduação não resistem às imposições? Por acaso, a culpa das circunstâncias em que se encontram é dos que não estão na pós-graduação? Os que aderem aos programas de pós-graduação são vítimas do sistema ou simplesmente aceitam a servidão voluntária, porém interessada? Até quando suportarão?

Se decidirem enfrentar o poder burocrático que nutrem cotidianamente terão o apoio dos colegas da graduação. Mas, por favor, direcionem seus reclamos para o alvo correto e não nos culpem por suas desgraças.

http://antoniozai.wordpress.com/2011/08/06/trabalho-intenso-na-pos-graduacao-servidao-voluntaria/


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