O debate separatista no Pará: quem ganha e quem perde? (Parte 1)

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A lógica de trabalhar este tema como um jogo de interesses antagônicos, onde há apenas uma posição de cada lado e que as razões de uns e de outros, os interesses do norte e do sul, confina o debate e o enfraquece transformando-o num debate de surdos, em que as partes previamente estão compostas em dois grupos que possuem razões e motivos diametralmente opostos e de negação da possibilidade de convergência de interesses e de uma agenda comum.

Dito por um belemense isto de antemão pode oferecer a um “carajaense” a idéia de que sejamos contrários à formação do Estado de Carajás, como o parágrafo anterior se lido por um “paraense” pode sugestionar uma posição de manutenção do território Paraense “original”.

Na verdade, partimos da premissa de que haja muito mais pontos de convergências nas preocupações de uns e de outros, centradas na expectativa comum de superação dos enormes passivos sociais, econômicos e de oportunidades de um futuro melhor tanto para os filhos do sul quanto aos do norte do Estado, tanto quanto amparado pela enorme insatisfação, revolta e desilusão com os grupos políticos que dirigiram o Pará nos últimos 30 anos até agora e que não por coincidência formam as maiorias nos legislativos estadual e municipais de norte a sul destas terras amazônicas.

Analisando o debate em termos de “perdas e ganhos”, como oferecido pelos meios de comunicação de norte a sul, leste a oeste, assim como pela “classe política”, percebe-se que esta não é a melhor ou principal síntese/questão possível à reflexão, esquece-se dessa maneira de oferecer ao debate questões mais de fundo e que envolvem os amazônidas em geral e para além das fronteiras estaduais, quais sejam:

1- Os modelos e estratégias oferecidas até então contemplam a superação da problemática de Estados ricos em recursos naturais, mas com sociedades paupérrimas?

2- Qual o grau de responsabilidade que a relação entre o governo federal (central) e os entes federativos amazônicos permeada pelo autoritarismo, utilitarismo e unilateralismo marco dos governos militares e continuada até então por todos os governos democráticos, com os infortúnios dos Estados do Norte?

3- A formação per si de novos estados eliminará as desigualdades regionais, ou criará outras?

4- A criação de Carajás trará uma maior presença do estado e de políticas públicas ao sul e sudeste paraenses?

5- Qual postura o Estado do Pará ou de Carajás deveriam ter diante das empresas mineradoras?

6- Qual a estratégia de desenvolvimento do estado de Carajás para superar as suas desigualdades, esquecimentos e problemas que justificam o sentimento/necessidade separatista?

7- Qual modelo de desenvolvimento que Carajás oferece à Amazônia em realização ao tripé de sustentabilidade e equidade social, econômica e ambiental?

8- Os gigantescos problemas sociais e econômicos, tais como: oportunidade de trabalho, acesso à terra para produzir, saúde digna, segurança, educação de qualidade, habitação para todos, saneamento e abastecimento de água, acesso a cultura e lazer e etc., seriam de fato solucionados com a separação do Estado do Pará e a criação do Estado de Carajás, como? Em quanto tempo? De que maneira?

Consideramos que ao relacionarmos apenas referências históricas estanques e absolutas para o debate, como também tomarmos como ponto de partida apenas antagonismo aparentes entre as partes, e deixarmos de fora do debate os REAIS e por vezes INCONFESSÁVEIS INTERESSES dos “grupos de poder político e econômicos” que atuam tanto ao norte quanto ao sul-sudeste, em disputa neste processo, e deixarmos de refletir e debater exaustivamente todas as questões que realmente interferem em nossas vidas, aí sim acredito estaremos todos os cidadãos comuns que vivem do produto do seu trabalho perdendo e muito, enquanto esses “tubarões” vicejarão lépidos e fagueiros seja no Pará, Carajás ou Tapajós.

Uma coisa é certa, a distância entre os interesses dos cidadãos comuns e essas elites regionais e locais é abissal, e enquanto o debate mais importante não for travado ficaremos nós a ver os navios, trens e caminhões escoarem por nossas vias de acesso toda a riqueza, em forma de butim.

Marcelo Martins
Historiador
Natural de Belém radicado em Parauapebas


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