Belo Horizonte — Uma das imagens (acima) que mais marcaram os sentimentos de desagrado da população sobre o regime militar no Brasil ocorreu por acaso. Para muitos, a foto, de 5 de setembro de 1979, mostrava a pureza de uma criança que desde pequena já sabia que a ditadura era cruel e dura com as pessoas, mas é a própria personagem do retrato — a garotinha marrenta de cinco anos que se recusava a cumprimentar o presidente da República João Baptista Figueiredo — que explica o motivo de estar emburrada naquele dia e ter recusado o aperto de mão do último general a governar o país. “Na época eu não entendia o que os militares representavam. Sou de uma época em que criança era só criança e se preocupava mais em brincar e se divertir. Minha mãe estava danada comigo e queria que eu cumprimentasse o presidente, assim como todo mundo que estava lá. Mas acabei contrariando a todos porque era o meu jeito de menina”, explica Rachel Clemens, hoje com 37 anos.
O episódio ocorreu durante um almoço no Palácio da Liberdade, quando João Batista Figueiredo esteve na capital mineira para o lançamento do carro a álcool. O pai de Rachel, que trabalhava no Departamento de Estradas e Rodagens (DER), foi um dos convidados para almoçar com o presidente e levou a família para o evento. “Não estava muito impressionada com o fato de que iria almoçar perto do presidente e só depois, quando voltamos para o salão, que percebi o burburinho das pessoas comentando minha indelicadeza, mas lembro que meu pai não chegou a me repreender. Daquele período, eu ficava sabendo que muita gente tinha medo da polícia, mas nem sabia a razão”, lembra.
Raquel procurou o autor da imagem, o fotógrafo Guinaldo Nicolaevsky, que também tentou descobrir quem era a personagem da foto. O fotógrafo, que morreu em 2008, chegou a fazer uma campanha na internet para tentar descobrir o nome da menina. “Toda vez que via alguma equipe de reportagem nas ruas, perguntava se conheciam o autor da tal foto que tinha uma menina marrenta que não cumprimentou o presidente. Mas ninguém dava atenção. Então, não cheguei a conhecê-lo. Nos últimos dias, a foto voltou à mídia e, de repente, meu blog começou a ter muita procura, com pessoas até agradecendo e falando da importância da imagem. Sempre respondo que é um grande orgulho e que teve um valor simbólico positivo para as pessoas”, afirma.
A caçada pela garotinha da foto mobilizou muitas pessoas nas redes sociais e, quando descobriu que era procurada, Rachel decidiu abrir o jogo e contar como foi o dia em que “sem querer” entrou para história. “Teve gente que até me falou para pedir dinheiro para aparecer, mas isso é inconcebível. Quando fiquei sabendo que muita gente procurava por mim, senti um dever de revelar o que aconteceu naquele dia. Perguntaram até se eu cumprimentaria o presidente Figueiredo hoje. Mas penso que o mais importante não é cumprimentar ou não os políticos e sim cobrar seus erros e se indignar com os escândalos que eles se envolvem”, diz. A identidade da menina que se recusou a cumprimentar o general foi revelada pelo Facebook. Ela postou a famosa foto em sua página com a pergunta “Adivinha quem era essa garotinha?”. Logo, sua página foi inundada com comentários de pessoas de todo o Brasil.
Rachel Clemens, hoje, com 37 anos
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Repostada do Blog do Hiroshi Bógea! e do blog PT-Mosqueiro
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