Protesto interdita ferrovia da Vale para cobrar prisão de assassinos de militantes no Pará

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Por João Márcio
De Marabá (Pará)
Da Página do MST

Após uma noite de vigília, movimentos camponeses, estudantes, professores da Universidade Federal do Pará (UFPA) e famílias assentadas do MST interditam a ponte rodo-ferroviária Carajás, sobre o rio Tocantins em Marabá, desde as 5h desta quinta-fera.
Neste momento, o trem de carga de minério da mineradora transnacional Vale está paralisado.

Os manifestantes protestam para que os assassinos do casal Maria do Espirito Santo da Silva e José Cláudio Ribeiro da Silva, líderes extrativistas, sejam punidos e cobram medidas do Estado para enfrentar a violência do latifúndio contra lutadores sociais.
As mortes ocorreram na manhã do dia 24 de maio, no Projeto de Assentamento Extrativista, Praia Alta Piranheira, no município de Nova Ipixuna, sudeste do Pará.
Segundo o professor de educação do campo da UFPA, Evandro Medeiros, “a luta é por justiça, portanto essa mobilização se faz necessária em respeito aos milhares que tombam por defender a região amazônica”.
A Comissão Pastoral da Terra (CPT), que lançou nota ontem, avalia que essas mortes estão no contexto das "ações do agrobanditismo"  de madeireiros e fazendeiros, que pretendiam expandir a criação de gado no local.

"A Coordenação Nacional da CPT reafirma a responsabilidade do Estado por este crime. A vida das pessoas e os bens natureza nada valem se estes se interpuserem como obstáculo ao decantado 'crescimento econômico'", afirma a nota.

Abaixo, leia nota da CPT.

“Se nos calarmos, as florestas gritarão”

A Coordenação Nacional da CPT, reunida em Goiânia para uma de suas reuniões ordinárias, recebeu com extrema tristeza e indignação a notícia do assassinato do casal Maria do Espirito Santo da Silva e José Cláudio Ribeiro da Silva, ocorrido na manhã do dia 24 de maio, no Projeto de Assentamento Extrativista, Praia Alta Piranheira, no município de Nova Ipixuna, sudeste do Pará.

Esta é mais uma das ações do agrobanditismo e mais uma das mortes anunciadas. O casal já vinha recebendo ameaças de morte. O nome deles constava da lista de ameaçados de morte registrada e divulgada pela CPT. O de José Cláudio em 2009 e em 2010, e o de sua esposa Maria do Espírito Santo, em 2010 (seguem em anexo as duas listas). Esta lista, junto com a dos assassinatos no campo de 1985 a 2010 foi entregue ao Ministro da Justiça, no ano passado. Mas nenhuma providência foi tomada.

“José Cláudio e Maria do Espírito Santo se dirigiam de moto para a sede do município, localizada a 45 km, ao passarem por uma ponte, em péssimas condições de trafegabilidade, foram alvejados com vários tiros de escopeta e revólver calibre 38, disparados por dois pistoleiros que se encontravam de tocaia dentro do mato na cabeceira da ponte. Os dois ambientalistas morreram no local. Os pistoleiros cortaram uma das orelhas de José Cláudio e a levaram como prova do crime”, registra nota CPT de Marabá, que esteve no local do crime.

José Cláudio e Maria do Espírito Santo foram pioneiros na criação da reserva extrativista do Assentamento Praia Alta Piranheira no ano de 1997. Devido à riqueza em madeira, a reserva era constantemente invadida por madeireiros e pressionada por fazendeiros que pretendiam expandir a criação de gado no local.

Mas nossa indignação aumentou com a notícia, veiculada pelo jornal Valor Econômico do dia de hoje, 25, de que o deputado José Sarney Filho ao ler, em plenário, a reportagem da morte dos dois lutadores do povo, foi vaiado por alguns deputados ruralistas e pessoas presentes nas galerias da Câmara Federal, que lá estavam para acompanhar a votação do novo Código Florestal.  Este fato nos dá a exata dimensão de como a violência contra os trabalhadores e trabalhadoras do campo é tratada. Certamente a notícia destas mortes foi recebida com alegria em muitos espaços, pois mais um “estorvo” no caminho dos ruralistas e dos defensores do agronegócio foi removido.

A Coordenação Nacional da CPT reafirma a responsabilidade do Estado por este crime. A vida das pessoas e os bens natureza nada valem se estes se interpuserem como obstáculo ao decantado “crescimento econômico”, defendido pelos sucessivos governos federais, pelos legisladores do Congresso Nacional que aprovam leis que promovem maior destruição do meio ambiente, e pelo judiciário sempre muito ágil em atender os reclamos da elite agrária, mas mais que lento para julgar os crimes contra os camponeses e camponesas e seus aliados. A certeza da impunidade alimenta a violência.

Parafraseando o Evangelho, não podemos nos calar diante desta barbárie, pois se nos calarmos, as florestas falarão (Lc 19,40).

Goiânia, 25 de maio de 2011.

Coordenação Nacional da CPT


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