extraído do JB online:
A vitória da direita nas eleições parciais da Espanha, e a probabilidade de que a filha de Fujimori venha a ganhar a presidência do Peru, são dura advertência aos partidos de esquerda. Desde a queda do muro de Berlim, e o surgimento do pensamento único, a serviço da ditadura mundial do neoliberalismo econômico, a esquerda parece envergonhada de seu discurso pela igualdade e justiça social. Vem atuando na defensiva, como se a todos os humanistas da História e a todos os intelectuais e ativistas da esquerda pudessem ser atribuídas as responsabilidades pelos crimes do totalitarismo stalinista, pela insânia de Ceausescu, e pela incompetência administrativa dos burocratas dos países socialistas.
O PSOE perdeu as eleições porque Zapatero e seus companheiros deixaram de ser socialistas. Quando o governo continuou a política de Aznar, de financiar a “invasão” da América Latina pelas grandes empresas e bancos espanhóis - em lugar de estimular o desenvolvimento econômico interno – deixou a esquerda. Embora o discurso continuasse o mesmo, a prática foi para a direita. Com isso, agravou-se o desemprego interno, enquanto as empresas ibéricas (o mesmo ocorreu em Portugal) criavam e continuam a criar empregos no exterior. Para os grandes investidores espanhóis, ótimo: os lucros na América Latina são mais
altos e os salários menores.
A esquerda começou a erodir-se nos próprios países socialistas, submetida ao mesmo equívoco de que sofre hoje, o do “economicismo”. É de se lembrar que o próprio Lenine caiu na armadilha teórica, ao dizer que o socialismo seria a união da velha alma revolucionária russa ao pragmatismo norte-americano. Para construir um sistema de valores fundado na competitividade do capitalismo, seria melhor continuar com o capitalismo. Reclama-se da esquerda proporcionar o crescente bem-estar das comunidades políticas, sem a opressão do capitalismo.
A esquerda parece esquecida de seu projeto teleológico, o de uma sociedade sem classes. Esse projeto foi abandonado depois da vitória da “santa aliança”, que uniu o polaco Wojtyla ao caubói Ronald Reagan, a fim de apressar a erosão de um sistema que já se encontrava minado por dentro. Os dirigentes dos partidos de esquerda – salvo alguns, e poucos – empenharam-se em caminhar em direção à direita, aliando-se ao cooptado Gobartchev, hoje garoto propaganda da Vuiton. Foi confissão do malogro em se opor teoricamente aos desvios do “socialismo real”. Comunistas tchecos, alemães e franceses tentaram construir caminhos novos, ao analisar os desafios históricos, como fez o filósofo Radovan Richta, primeiro com seu estudo sobre “O homem e a tecnologia na revolução contemporânea”, em 1963 e, três anos mais tarde, ao chefiar grupo de acadêmicos tchecos no lúcido estudo sobre “A Civilização na Encruzilhada”, no qual as idéias de seu primeiro livro são mais detalhadas. Marxistas mais antigos, como Lukacs e os membros da Escola de Frankfurt – tinham outra e mais grave inquietude, com a “desumanização” da esquerda, contaminada pelos vícios da sociedade industrial moderna.
Por tudo isso, as massas estão indo às ruas, na Espanha e alhures. Desnorteadas, pela falta de um discurso coerente da esquerda, elas pendem para a direita que, pelo menos, lhes oferece a hipótese de uma ordem moralista – como a acenada, entre nós, pelo deputado Bolsonaro. É assim que se explica a vitória da direita na libertária Catalunha e a terrível probabilidade de que a filha do corrupto e sanguinário Fujimori venha a vencer a esquerda no Peru, dentro de poucos dias.
Por tudo isso, as massas estão indo às ruas, na Espanha e alhures. Desnorteadas, pela falta de um discurso coerente da esquerda, elas pendem para a direita que, pelo menos, lhes oferece a hipótese de uma ordem moralista – como a acenada, entre nós, pelo deputado Bolsonaro. É assim que se explica a vitória da direita na libertária Catalunha e a terrível probabilidade de que a filha do corrupto e sanguinário Fujimori venha a vencer a esquerda no Peru, dentro de poucos dias.
É uma advertência também para a Presidente Dilma Roussef, neste momento de dificuldades políticas menores – mas não tanto – que incomodam o seu governo.
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