O socialismo está morto. Viva o socialismo!

COMPARTILHEM !!!


Por José Carlos Ruy*




A questão da democracia é tema central na avaliação teórica da Comuna de Paris. Os próprios communards já haviam enfrentado este problema na prática e as soluções que encontraram permitiram à teoria política do proletariado uma compreensão mais precisa e avançada da necessidade de extinção do Estado e do caráter histórico e classista da democracia.

A Comuna de Paris tentou levar às últimas conseqüências as idéias de igualdade, liberdade e fraternidade herdadas da Revolução Francesa de 1789, e provou de forma dramática os limites além dos quais o exercício dessas idéias não pode ir sob o domínio burguês. Não foi só a meta final que o socialismo deve perseguir que a Comuna de Paris desvendou ¾ um governo popular realmente democratizado, onde o Estado se resumiria à administração das coisas e não das pessoas, numa sociedade sem classes. Esse foi o legado que a Comuna deixou aos trabalhadores revolucionários.

A burguesia também tirou lições da Comuna de Paris. Foi depois dela que a burguesia francesa encontrou também, finalmente, sua forma estável de governo, a república parlamentar. Os limites da democracia burguesa também forma definidos, com clareza, após a Comuna de Paris.

A Comuna foi, pode-se dizer, a tentativa mais destaca de se colocar em prática os postulados teóricos da própria teoria política da democracia burguesa: o governo baseado na livre manifestação da vontade dos cidadãos. A burguesia produz, na teoria, inúmeras declarações de intenção que, na prática, não cumpre, ao criar obstáculos institucionais que limitam o exercício dessas boas intenções. E a Comuna de Paris desmascarou o mito da democracia burguesa. Num comunicado ao povo, dizia inspirar-se na República revolucionária de 1792, para realizar a  “liberdade política pela igualdade social”. Era demais para a burguesia, e a repressão feroz e sanguinária mostrou que, para ela, aqueles ideais invocados não passavam de retórica.

O socialismo está morto proclamou Thiers depois do massacre da Comuna. Engano. Poucos anos depois, o movimento socialista renascia na França e crescia em toda a Europa. Era já um movimento operário novo, mais forte, melhor armado teórico e praticamente, confirmando o que Marx havia escrito anos antes, em O Dezoito Brumário (de 1852): “As revoluções proletárias como as do século dezenove, se criticam constantemente a si próprias, interrompem continuamente seu curso, voltam ao que parecia resolvido para recomeçá-lo outra vez, escarnecem com impiedosa consciência as deficiências, fraquezas e misérias dos seus primeiros esforços, parecem derrubar seu adversário apenas para que este possa retirar da terra novas forças e erguer-se novamente, agigantado diante delas, recuam constantemente ante a magnitude infinita de seus próprios objetivos até que se cria uma situação que torna impossível qualquer retrocesso.”

Em nossos dias, o movimento revolucionário e socialista vive uma derrota muitas vezes mais dramática e dura do que a da Comuna de Paris. Os Thiers contemporâneos apregoam que o socialismo está morto, e insistem que a democracia burguesa é a etapa final do desenvolvimento político da humanidade. Muitos progressistas juntam-se a eles nessa cantilena.

Aparentemente, entretanto, vivemos como nos dias da Comuna a superação de uma etapa histórica da luta pelo socialismo. Uma etapa que, apesar dos enormes esforços, das energias despendidas, volta-se “ao que parecia resolvido” para recomeçar outra vez. Esse recomeço, entretanto, não parte do zero, mas da experiência acumulada em todas estas décadas, uma experiência que enfatiza dramaticamente que a construção do socialismo não se limita somente às transformações econômicas na sociedade, mas liga-se à democratização do Estado, sua crescente submissão à sociedade, à definição de novas relações entre os homens, de uma nova cultura que aponte para a liberdade e para o desenvolvimento das infinitas capacidades do gênero humano, a uma nova e mais avançada concepção do que sejam as forças produtivas e de sua submissão às necessidades do homem e não ao contrário, como no capitalismo.

(*) . José Carlos Ruy é jornalista. Pertenceu ao jornal Movimento. Membro do Conselho Editorial das revistas Princípios e Debate Sindical. É do Conselho de Colaboradores da revista Crítica Marxista e colaborador de diversas outras publicações.

Fonte: Revista Princípios. São Paulo : Anita Garibaldi, mai.-jun./1991. n.21)


COMPARTILHEM !!!


0 Response to "O socialismo está morto. Viva o socialismo!"

Postar um comentário

Postagem mais recente Postagem mais antiga Página inicial

Revista

Revista

Seguidores