O Recado das Urnas

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"Em política, o que começa com o medo acaba,
geralmente, com a loucura."
(Samuel Taylor Coleridge)            

por Leônidas Mendes (AE-Parauapebas)

     Os resultados gerais das eleições 2010, uma vez mais , demonstraram que, à medida que a democracia se consolida no Brasil, o povo brasileiro amadurece em sua capacidade de “enquadrar” partidos, lideranças e os políticos em geral.
                Essa percepção se confirma quando tomamos para base de análise os resultados eleitorais em nível nacional. Se verificarmos bem, a vitória eleitoral governista (PT e aliados) em nível nacional (presidência e Congresso Nacional) foi contrabalançada pelas 10 governadorias da oposição (08 PSDB e 02 DEM).
                Embora muitos analistas, eivados de preconceitos, insistem em não ver, posto que em desabono às suas opiniões, previsões e, até mesmo, predileções, o povo (é) foi sábio; e assim se expressou: “daremos o poder maior ao PT (e seus aliados); mas, não o poder ilimitado” – os “estados oposicionistas” servirão de freio!
                Claro está, espero, que os termos e a consciência não foi essa, lógico! Mas, as conseqüências, e seus efeitos, o foram. O que dá no mesmo. E, certamente, o PT (e seus aliados), em nível nacional, deverá se aperceber disso.
                Quanto a nós, em nível estadual e municipal, o recado das urnas foi ainda mais contundente! Em nível estadual, ficou por demais evidente que não adianta “tapar o sol com a peneira”. E, como o diz muito bem, meu amigo Chiquinho do PT: “ao partido que está no poder, só lhe resta governar bem, ter ações, fazer obras... se não, o povo responderá à altura!” Ou, melhor dizendo, sem corrigi-lo, é claro: “não corresponderá!”
                No caso estadual, a resposta foi acachapante. Ainda quando se toma em conta que, quando se trata de uma disputa reeleitoral, quem está na oposição “nunca ganha”: é quem está no poder quem perde. Foi exatamente o que aconteceu.
                Para surpresa de todos, o PT, partido que sempre reclamou da falta de memória do nosso povo, apostou exatamente nisso: e se deu mal! Com uma administração pífia, seguindo uma política extremamente centralizada e centralizadora, da qual participavam um ou dois “gatos pingados”, que se julgavam “neoilimuniados”, “novos ungidos”, o governo petista, em sua tentativa reeleitoral não conseguiu apagar da memória as limitações políticas e administrativas de sua (in)gerência. O resultado foi o que se viu!
                O recado foi ainda mais estrondoso quando se toma em conta que, na maioria das cidades administradas pelo PT, sua candidata a reeleição, a governadora Ana Júlia Carepa, foi derrotada. Em alguns casos, numa proporção de 2 para 1: isto é, dois votos para o adversário e um voto para o PT. O que deixou claro que a insatisfação não era apenas contra o governo petista estadual: tem (tinha?) como alvos também as administrações petistas municipais.
                E, nestes casos, talvez onde o recado das urnas tenha sido mais forte, mais vigoroso, e a demonstração de insatisfação popular com a condução da res pulpita (coisa pública) municipal do petismo paraense, foi exatamente nas cidades consideradas a “cereja do bolo”: Santarém (oeste) e Parauapebas (sudeste)!
                Mais grave ainda porque, em ambas as cidades, cada uma num extremo geográfico do estado, pólos econômicos e políticos em suas respectivas regiões, os gestores, petistas ambos, foram reeleitos em 2008: Maria do Carmo (Santarém) e Darci Lermen (Parauapebas); e estão a quase 06 anos à frente de suas administrações.
                Não sou um versado na situação política de Santarém, que acompanho de longe e, confesso, imaginara outro quadro em relação à prefeita Maria do Carmo. Justamente por isso não me arvorarei diagnosticar as causas de tão fulgurante derrota eleitoral, posto que perdeu nos dois âmbitos: José Serra foi o mais votado para presidente e Simão Jatene para governador, ambos do PSDB. Isto diz muito, muito mesmo, sobre a que pé anda a avaliação popular-eleitoral de sua administração!
                Já em Parauapebas, e não era preciso ser “gênio da humanidade” para percebê-lo, foi, literalmente, “a crônica de uma derrota anunciada”, parafraseando Gabriel Garcia Marquez. E, frise-se, pouco dela se deveu à (in)ação da administração estadual, que, aliás, foi promissora à nossa cidade!
                O recado dado não foi à governadora Ana Júlia e a seus acólitos. Foi direto para o prefeito Darci Lermen, e ao PT municipal, já preludiando o que está por vir, se nada mudar. Ou, melhor: se muita coisa não mudar na gestão política e administrativa municipal: em outras palavras, 2012 pode ser pior, bem pior!
                O cenário eleitoral para o petismo municipal está cada vez mais tempestuoso. E o partido não vem dando sinais de habilidade para dele escapar. Diz um ditado popular que “quem planta chuva colhe tempestade”: e é exatamente isso que está acontecendo neste momento.
                Enquanto o PT chora sua derrota; e tenta encontrar seus “bodes expiatórios”, a oposição municipal, com direito a parte dela operando dentro da própria máquina administrativa municipal, trabalha assídua e diuturnamente, para isolá-lo, político e eleitoralmente, para/em 2012.
                E, pode até ser que eu mais uma vez esteja errado, mas, ao menos nesta conjuntura, com o rescaldo da derrota para o governo estadual e a (re)ascensão tucana no Pará, o PT não tem dado demonstrações de que reagirá e conseguirá manter e reagrupar seus, cada vez mais, “ex-quase-futuros”, ou “quase-ex-futuros”, aliados municipais.
                Quem viver verá! Ou “chorará”, como diz o poeta, outra derrota! Mas, o recado foi dado. Não está sequer nas entrelinhas. Foi claro como água cristalina. Resta saber se foi percebido. E se será devidamente captado. O futuro nos espera...



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