À Link o que é da Link: Glauco Lima responde a Edson Barbosa

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O publicitário Glauco Lima escreve sobre sua participação na campanha de Ana Júlia Carepa
postado por Rita Soares, repórter do jornal Diário do Pará
http://blogdareporter.blogspot.com/
 
"Eu tinha decidido não falar nada sobre a campanha de comunicação de Ana Júlia em 2010. Tinha deixado isso para bem depois, para quem sabe quando, distanciado do calor eleitoral e da fogueira de emoções, talvez eu fizesse um relato do que eu vi, ouvi e vivi, nesta que foi uma das experiências mais angustiantes dos meus 25 anos de atuação em propaganda e marketing.

Mas a referência feita pelo senhor. Edson Barbosa em entrevista ao jornal Diário do Pará, no dia 15 de novembro de 2010, me obriga a fazer um esclarecimento. Na entrevista, o presidente da Link Propaganda sugere ou deixa entender que eu atuei como Diretor de Criação na campanha, o que é uma inverdade absurda e, no mínino, um desrespeito ao verdadeiro diretor e coordenador de criação, o senhor. Theo Crus Neto, que tinha todos os amplos e totais poderes de dirigir a criação e atuar como estrategista, redator, criador de jingles, interagir com a governadora e seus principais assessores.

Se a campanha da Link foi tão boa, ele deveria destacar o nome de Theo Neto e o próprio nome dele, Edson Barbosa, já que Theo não cansava de repetir quase como um mantra, “ nessa campanha o marqueteiro, quem dá a palavra final, quem decide o que sai e o que não sai, é o Edson Barbosa”.

Quero deixar bem claro que não estou me isentado, me excluindo ou me eximindo de envolvimento nesta campanha. Assumo e confirmo que atuei, que procurei colaborar em tudo o que esteve ao meu alcance. Mas é inaceitável que só agora, depois da derrota eleitoral, os nomes dos profissionais locais sejam lembrados assim, para dar um verniz de integração com os nativos, quando o que se viu na campanha foi um comando centrado na Link, com seus executivos ocupando todas as posições decisórias e definindo os rumos tanto na pré-campanha, de março a junho de 2010, como na campanha em si, de julho a outubro.

A declaração de Edson Barbosa me obriga a fazer um relato da minha atuação neste trabalho que tentou reeleger Ana Júlia para o Governo do Pará. Para mim, a campanha começou em outubro de 2009, quando fui chamado pelo consultor Paulo Heinneck e pelo secretário de comunicação Paulo Roberto Ferreira, para influenciar mais diretamente na comunicação institucional, já que, embora minha então agência, a DC3 Comunicação, tivesse contrato com o governo, eu nunca tinha participado da definição da propaganda conceitual e informativa do governo.

Atendendo ao pedido de extrema urgência, coloquei no ar uma campanha, que foi de novembro de 2009 a março de 2010. Esta sim eu assumo e assino como Diretor de Criação. Neste período, embora as pesquisas quantitativas feitas por instituto local, já acusassem um pequena melhora na avaliação do Governo, sugeri que era preciso algum reforço, eram necessários estudos qualitativos para avaliar se o rumo estava certo, para fazer ajustes e refinar cada vez mais a campanha.

Mas, para minha surpresa, em março de 2010, fui comunicado da contratação da Link Propaganda, para ser uma espécie de consultora para orientar e definir toda a comunicação do Governo. Eu poderia ter rompido, me desligado do cliente, me afastado diante desta intervenção. Mas acreditei que com o aparato que a Link tinha, com as possibilidades de trazer profissionais experientes, promover pesquisas no Estado todo, investigar mais, com toda a expertise que alardeava, o reforço poderia ser positivo e ajudar no complexo esforço de levar o governo a um bom desempenho eleitoral.

Entendi que pular do barco naquela hora, de um governo já cheio de fragilidades, seria até desleal e continuei, mesmo num papel secundário e muitas vezes terciário, contribuindo para que a comunicação fosse cada vez mais eficiente.

A Link tinha o respaldo das pesquisas, de seus profissionais seniors, teve verba para fazer estudos que eles diziam serem inquestionáveis, que orientaram a escolha da linha “É a vez do Pará, pra você”. A campanha “A grande obra é melhorar a vida das pessoas” foi erradicada, a Link fez questão de não deixar nenhum vestígio do trabalho, mudou tudo e se deu ao requinte de pedir para que fossem tiradas até placas, como as colocadas perto de obras como o Ação Metrópole, que diziam “A obra é grande, mas a maior é melhorar a vida das pessoas”. Tudo foi apagado e só prevaleceu o conceito e as idéias da Link.

Já na campanha eleitoral, em julho, a Link tinha ocupado todos os espaços possíveis e imagináveis e estabeleceu o tema, que depois veio se confirmar desastroso até por eles mesmos, o “Acelera Pará”. Quando eu vi esta campanha, em encontro feito em num hotel em Belém, a linha estava determinada, o caminho era aquele e foi vendido como o grande mote para alavancar a candidatura de Ana Júlia.

Quero reafirmar aqui que propaganda tem que ter unidade, que acredito que é preciso ter uma cabeça que estabelece a linha, a defenda e se responsabilize por ela. Uma vez que o comando político definiu que o comandante era Edson Barbosa e sua Link, ou você concorda e tenta ajudar no que está definido ou vai cantar noutra freguesia.

Eu resolvi ficar, colaborar humildemente, fazer minhas críticas dentro, discordar, sem deixar vazar as discordâncias, alertar, muitas vezes banquei o chato, o advogado do diabo. Mas tudo o que eu dizia não era acatado, nada era aproveitado e parecia que eu não conseguia captar tanta inteligência, sabedoria, criatividade e acertos geniais.

Mas a Link era a agência da campanha, o Edson Barbosa foi o engenheiro responsável pela obra. Quero ressaltar aqui que a campanha, boa ou má, fraca ou forte, tem que ser assumida pelos seus autores. O Fernando Pena de Carvalho, Presidente da Digital foi citado e nunca foi chamado sequer para opinar sobre a cor de um cenário. Fazia apenas o que a Link determinava. A Ruth Vieira, paraense, contratada da Link, tinha funções operativas, nunca vi a Ruth numa reunião de comando dando opiniões. Essa coisa de citar as pessoas daqui, só agora, é muito injusto e até revoltante, diante do que passamos nestes meses.

O próprio Maurílio Monteiro pode confirmar tudo isso. Só quem mandava era o Theo, o João Lucas, a Ângela, os altos executivos da Link. Não estou aqui questionando a capacidade destas pessoas, só quero o Edson Barbosa assuma claramente os papéis de cada um e reconheça que tinha em mim e em outros profissionais locais, uma equipe de suporte, chamada para ajudar em assuntos locais, em tarefas obreiras, tanto que a Link me deu um insólito crachá de “Assistente de Coordenação” e agora no jornal vem me chamar de Diretor de Criação.

Outro ponto que quero deixar bem claro é que não sou contra a presença de empresas de outros Estados. Assim como quero que a empresas de comunicação do Pará busquem mercados pelo Brasil e pelo Mundo. Eu mesmo cheguei a sugerir a contratação, em janeiro de 2010, de uma consultoria para nos ajudar no trabalho.

Apesar de tudo isso, fiquei sim na campanha, atendi a pedidos de altos dirigentes do partido, até mesmo da própria governadora Ana Júlia, pessoa a quem respeito muito. Essa campanha, boa ou ruim, faz parte do meu currículo, nunca vou negar, mas não aceito que ocultem ou distorçam a verdade. Se eu tivesse que definir meu papel nesta campanha, diria que fui um produtor mais qualificado, um interlocutor com alguns setores locais, um papel com limitadíssimo espaço de influência, que foi gradativamente sendo encurtado, ao ponto de nas semanas finais eu já quase nem ir na produtora. Mas fiz meu trabalho, evitei atrapalhar, gerar ainda mais crises, talvez tenha falhado em não brigar mais por meus pontos de vista, mas tenho a consciência tranquila que honrei a unidade, o grupo, o cliente que me contratou, mesmo correndo o risco dos desgastes graves que sofri.

Para concluir quero lembrar que sempre falei que a comunicação não pode ser apontada nem como a santa salvadora, nem como a vilã destruidora. Comunicação faz parte de um grande mix e conforme a maneira como é feita, pode ajudar ou atrapalhar. No caso desta campanha, o próprio Edson Barbosa me falou entre o primeiro e o segundo turno, que aqui na campanha de Ana Júlia isso não era bem verdade, porque a comunicação feita pela Link tinha sido mais que comunicação, tinha sido decisiva na gestão, na condução política, nas sugestões para a administração e que por isso teria uma responsabilidade muito maior do que geralmente se atribui ao marketing. Portanto está aí, independente de julgamentos do que foi feito, a Link e Edson Barbosa que assumam suas responsabilidades técnicas e não fiquem querendo repartir a derrota com ninguém, porque eu tenho certeza que não repartiriam a vitória com ninguém que não fosse do seu seleto time.

Glauco Lima


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