A DERROTA DE ANA JÚLIA E DA DS: PRIMEIRAS AVALIAÇÕES

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por Paulo Bemerguy

Os petistas – de todos os matizes, de todas as tendências – vão ser fazer essa pergunta aí de cima pelos próximos dias, pelas próximas semanas, pelos próximos meses, pelos próximos anos.
Por que, afinal, a governadora Ana Júlia de Vasconcelos Carepa (na foto) não conseguiu emplacar mais um mandato?

Sua Excelência, quando se elegeu em 2006, tinha a seu favor qualidades, fatores, contingências e circunstâncias que a credenciavam a fazer um bom governo.
Ana Júlia, afinal, era a primeira mulher a se eleger governadora do Pará. Poderia aproveitar essa condição como elemento de emulação e de promoção política para demonstrar que, sim, ela era beneficiária da evolução da consciência política dos paraenses, o que lhe daria sustentação para fazer um governo à altura das expectativas gerais.
Ana Júlia, ao se eleger, desfrutava de uma incontrastável popularidade, confirmada por sua trajetória na vida pública, inclusive tendo alcançado o mandato de senadora.
Carregava a credencial de ter destronado do poder o tucanato que lá se aboletava havia 12 anos consecutivos.
Conseguiu formar uma aliança política que colocou a seu lado o PMDB, o maior partido do Estado.
Era do mesmo partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o cara, aquele que, tirante o fato de que às vezes – ou quase sempre – se apresentar como o construtor do Universo, pode festejar à farta a condição que ostenta, a de presidente mais popular da História do Brasil.
Essa era a Ana Júlia que, como governadora, tinha tudo para dar certo.
Mas deu errado.
Deu tudo errado.
Por quê?

As razões da derrota. No atacado.
Muitas razões podem explicar isso.
Relacionem-se algumas delas.
1. Ana Júlia revelou-se de uma inexperiência administrativa atroz. Revelou-se de uma inexperiência administrativa de efeitos devastadores. Até ser governadora, ela só havia administrado o Sindicato dos Bancários. Não fora submetida, até aquela altura, ao teste de gestão nem mesmo quando chegou a ser vice do prefeito Edmilson Rodrigues, então no PT. Isso porque Ana Júlia foi prefeita em exercício.
2. A inexperiência administrativa de Ana Júlia sobressaiu em dois casos por si sós emblemáticos e ambos de repercussão nacional. O primeiro deles ocorreu em fevereiro de 2007, quando a governadora assinou decretos nomeando sua cabeleireira, Manoela Figueiredo Barbosa, e sua esteticista, Franciheli de Fátima Oliveira, como assessoras especiais, lotadas no gabinete da governadoria. O segundo, de repercussão igual – senão maior – que o anterior, consistiu também na nomeação da performática Elida Braz, Senhora Kaveira, para assessora especial da Governadoria.
3. A inexperiência administrativa da governadora, em tese, não seria um problema de monta. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também não tinha nenhuma vivência administrativa, a não ser nos sindicatos que dirigiu. Mas, uma vez presidente, acercou-se de bons quadros e fez o governo mais popular da história do País. Ana Júlia não. Desde o primeiro momento, deixou-se agrilhoar, deixou-se ficar algemada, deixou-se cair como refém de um quarteto que também ficou conhecido como núcleo duro do governo.
4. Refém do núcleo duro, Ana Júlia não viu mais o PT à sua frente. Não viu mais o partido. Não o reconheceu mais como uma legenda orgânica, que poderia lhe dar sustentação. Passou a divisar apenas o núcleo que a mantinha refém e, em consequência, passou a ter olhos apenas para os interesses da Democracia Socialista (DS), a minúscula, inexpressiva tendência petista a que pertence a própria governadora.
5. Sob a tutela dos luas-pretas da DS, Ana Júlia pôs em andamento e turbinou aquela que foi a pior, a mais atabalhoada, a mais disparatada, a mais emperrada e a mais ineficaz articulação política já posta em prática por um governante no Pará. A articulação política, conduzida por seu chefe da Casa Civil, Cláudio Puty, revelou-se, além do mais, conflitante e conflituosa depois que ele, mesmo na condição de um dos quadros mais influentes do governo, começou a notabilizar-se como pré-candidato a deputado federal, cargo para o qual acabou se elegendo.
6. O próprio PT, partido da governadora, foi uma das vítimas da desarticulação empreendida com notável desenvoltura pela Casa Civil do governo, durante a era Puty. Em meados de 2009, o poster ouviu de viva voz, da assessoria de um parlamentar petista, que o deputado não conseguia falar havia semanas com a governadora. E ele, o deputado, não queria pedir nada. Ou por outra, queria pedir, sim, mas informações circunstanciadas sobre determinada matéria para defender Ana Júlia de críticas ferozes que ela vinha sofrendo na Assembleia.
7. Na articulação política desastrada, conduzida pelo então chefe da Casa Civil, Cláudio Puty, está a gênese, em boa parte, das dissensões e dos conflitos que levaram ao afastamento do PMDB e, posteriormente, ao rompimento da legenda com o governo, jogando por terra a possibilidade de se manter a aliança desde o primeiro turno das eleições deste ano.
8. A nomeação de Everaldo Martins para comandar a Casa Civil mudou da água para o vinho, mudou do péssimo para o muito melhor a qualidade da articulação política do governo Ana Júlia. Mas já era tarde. Everaldo só assumiu o barco em março deste ano. Havia pouco tempo para juntar os cacos e restaurar os vínculos políticos que seu antecessor esfacelara irreversivelmente.
9. Da mesma forma, Ana Júlia tomou muito tarde a decisão de mexer na Comunicação do governo. Durante a maior parte de seu governo, essa área foi impalpável, inexistente. Não se sabe se nada divulgava porque não sabia como divulgar ou porque obras não havia para serem divulgadas. De meados do ano passado para cá, a Comunicação, mas também não conseguiu, sozinha, reverter situações que já haviam causado enorme desgaste à imagem da governadora.
10. E por falar em obras... O governo Ana Júlia acordou da letargia na onda do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Mas isso também já foi tarde. E o PAC esteve sempre associado ao governo federal, ao governo Lula, e muito pouco aos governos estaduais. Resultado: até inaugurar uma cozinha industrial no Hangar, Ana Júlia pouco ou nada tinha para mostrar. Quando passou a ter alguma coisa para mostrar, não havia mais tempo para que isso se convertesse em votos. E votos, como se sabe, são essenciais para eleger e reeleger um governante, não é?
11. O enclausuramento de Ana Júlia e a dificuldade de seu governo em se comunicar levaram Sua Excelência a ficar acuada em três momentos dos mais críticos. No caso da menor presa e seviciada numa cela de presos em Abaetetuba, no caso da mortandande de bebês da Santa Casa e no caso dos kits escolares. E olhem que, no caso da menor, o delegado-geral Raimundo Benassuly primeiro se exonerou do cargo, depois de uma declaração infeliz. Passados alguns meses, o que fez Ana Júlia? Reconduziu-o ao posto.
12. A governadora também perdeu porque, no afã de se eleger, não mediu escolhas, não selecionou aliados, não passou no crivo os adesistas à sua candidatura. Quem se alia a um Duciomar Costa, o pior prefeito que Belém já teve em toda a sua História, não quer, sinceramente, ganhar uma eleição. E quem se alia a Almir Gabriel se vê forçada a fazer certas revisões históricas que conduzem a vergonhosas, a constrangedoras contradições com trajetórias políticas como as de Sua Excelência a governadora Ana Júlia.
13. E por último, mais não menos importante, Ana Júlia não se reelegeu porque escolheu mal a agência que fez a sua propaganda, a baiana Link. E o escolher mal, como aqui está posto, nada se deve ao fato de a Link ser baiana, mas porque a agência nunca esteve linkada com as peculiaridades de campanhas como as que se desenvolvem no Pará, que são diferentes das que ocorrem na Bahia, ou em Pasárgada ou até no Afeganistão. Assim, três grandes erros na campanha foram, também eles, decisivos para a derrota da governadora.
Essas são, digamos, as razões no atacado.

São 13 razões ao todo.

Mas razões outras há, é claro.
São, todavia, razões no varejo.
Quanto a essas, os petistas, eles próprios, haverão de desvendar.

Nos próximos dias.

Nas próximas semanas.

Nos próximos meses.

Nos próximos anos.
 
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