O retorno da inquisição

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Por Alcione dos Anjos* 
Houve um tempo em que “em nome de Deus” líderes religiosos acusavam, julgavam e condenavam pessoas a serem jogadas na fogueira por não concordarem com o que pregavam. O que esses “representantes do Senhor” na terra diziam era a lei, a verdade absoluta, que nunca deveria ou poderia ser questionada, sob pena de ser caracterizado como uma heresia professada por um ser possuído pelo demônio.
 
As maiores vítimas dessa barbárie foram as mulheres críticas. Elas eram rotuladas de bruxas e tinham um final certo: a fogueira. A literatura e a filmografia mundial se inspiraram nesse período de trevas e terror para uma vasta produção que retrata a inquisição, a exemplo de “Sombras de Goya”, filme espanhol de 2006, e “Giordano Bruno”, produção franco-italiana de 1973.
 
Pensávamos que a escuridão da Idade Média ficaria para sempre trancada na vergonha dos Séculos XV a XVII, sendo apenas objeto de estudo como um alerta sobre o que a intolerância e o ódio podem produzir. Porém, em pleno Século XXI, após passarmos pelo Iluminismo, somos provocados a buscar explicações do que está ocorrendo na campanha eleitoral deste ano lá na “Idade das trevas”.
 
Bastou uma mulher apresentar a possibilidade real de se eleger presidente do Brasil para que líderes religiosos trouxessem as ferramentas necessárias da Idade Média para barrar essa “heresia”.
 
Como não há argumentos políticos para deter o projeto de Dilma a saída é estimular os nossos preconceitos mais secretos, disfarçados no “politicamente correto”, que precisam somente de um e-mail mentiroso, de uma palestra difamatória, ou da leitura de uma carta acusatória para que esses preconceitos transbordem, daí para que a suspeita de algo se transforme em verdade absoluta é um passo. Aquele que recebe a informação do “pecado mortal” retransmite sem qualquer avaliação ou direto de defesa do caluniado.
 
A Inquisição do Século XXI não envia a vítima, transformada em bruxa, para a fogueira que queima a carne, envia sim para a fogueira da injustiça que suga as energias, que destrói a imagem pública e que sataniza.
 
Dilma vem sendo a bruxa favorita dos inquisidores. É mulher, divorciada, independente, forte, disputa espaços de poder com homens, foi considerada subversiva pela Ditadura. Para eles, a ela só resta a fogueira.
 
A manobra vem sendo feita de forma tão baixa que a discussão não chega aos debates, ao horário eleitoral. Se dá na internet, no boca-a-boca, na escola, na igreja, na rua, no local de trabalho. Quem já foi alvo de fofoca, sabe bem o que é isso. Como se defender de um inimigo anônimo e covarde?
 
Uma das primeiras tentativas de macular a imagem da presidenciável foi distorcer a participação dela na luta contra a Ditadura. Em qualquer lugar que a população viveu um regime de exceção Dilma seria considerada uma heroína, mas no Brasil, onde os meios de comunicação, em especial os que se beneficiaram com a Ditadura, sendo porta-voz dos militares, ela foi taxada de terrorista.
 
Depois espalharam que Dilma não poderia entrar nos Estados Unidos e em mais 11 países. Chegaram a afirmar que ela não se curou do linfoma e previram sua morte, deixando o cargo para o vice, Michel Temer, que de acordo com boatos seria satânico.
Por ser divorciada, Dilma sofre outro preconceito, é rotulada de ‘sapatão’. Criaram até uma amante para ela. Por isso, de acordo com a calúnia, Dilma, se eleita, implantaria o casamento gay no Brasil. E ainda atribuíram a ela a frase “nem mesmo Cristo querendo, me tira essa vitória”, uma cópia barata da frase dos Beatles que causou polêmica nos anos 60.
 
A última tentativa de satanizar a candidata a presidência da República foi a afirmação de que Dilma é favorável ao aborto. E esta não é a primeira vez que candidatos do PT sofrem essa acusação em períodos eleitorais. Mesmo a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) emitindo nota condenando o uso da religião no período eleitoral, alguns líderes religiosos, com posicionamento político mais a direita, insistem no julgamento prévio e na condenação de petistas e da candidata Dilma como “abortistas”.
 
Eles vão além, tentam influenciar os praticantes da mesma religião que eles, ao usarem o espaço que exercem liderança espiritual para pregar contra um partido e contra candidatos do PT. Inflam as platéias a praticarem a intolerância, o ódio e a perseguição, promovendo uma verdadeira caça as bruxas.
 
A fogueira está montada para ser acessa no dia do Halloween no Brasil, dia 31 de outubro, o dia da votação do segundo turno. É preciso que a sociedade brasileira decida se permitirá o retorno da “Idade das Trevas” ou se o Século XXI finalmente chegará no Brasil.
 
Vivemos um Estado Democrático de Direito, conquistado por muitos guerreiros, como a Dilma. Hoje temos condições de votar e eleger diretamente nossos políticos. Vamos fazer isso sem ceder a pressão de discursos religiosos de líderes que acabam pintando uns como “diabólicos” para que outros sejam vistos como “o candidato do bem”.
 
Vamos usar nosso direito de forma livre e racional. Que o povo brasileiro revire o dia 31 e escolha nas urnas o 13. O 13 do PT, da esperança, da transformação. Vamos mostrar que Dilma não é a bruxa a ser queimada, o que precisa ir para fogueira são os preconceitos, as difamações, as mentiras e a intolerância, seja elas quais forem.
 
 
*Alcione dos Anjos, é jornalista em Cuiabá


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