O que está realmente em jogo no 2º turno

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Os eleitores não decidirão sobre o aborto ou sobre direitos dos homossexuais, e muito menos sobre o passado de quem se opôs à ditadura militar
Por Roberto Elias Salomão
Dilma ficou a pouco mais de 3 milhões de votos (cerca de 3% dos votos válidos) da vitória no primeiro turno. É natural que uma certa frustração se instale entre seus apoiadores, que contavam com a liquidação da fatura em 3 de outubro. É natural também que se dê abrigo às mais variadas interpretações do porquê da “derrota” (quando na verdade houve uma enorme vitória, de 47 milhões de votos).
Pronto, dois dias de catarse são mais do que suficientes. Agora é hora de arregaçar as mangas e partir para a batalha final. Antes de qualquer outra providência, é necessário limpar a mesa de trabalho e identificar qual a verdadeira agenda colocada para essas eleições, sobre quais temas os eleitores estão chamados a decidir.
Em muito pouco tempo, depois que foi lançada candidata, Dilma começou a conquistar a preferência do eleitorado. À medida que se identificava como a candidata de Lula, como a candidata da continuidade, milhões e milhões de eleitores manifestavam sua opção por ela. Para esses eleitores, para a grande massa do povo brasileiro, Dilma passou a significar a manutenção de um caminho que tirou dezenas de milhões de brasileiros da miséria, que fez o país desenvolver-se e granjear respeito internacional e que deu concretude à convicção de que já somos hoje aquilo que nossos avós costumavam ouvir e dizer: um “país do futuro”.
Era este o debate central da campanha eleitoral. O que estava (e está) em jogo era se iríamos continuar a nos desenvolver com distribuição de renda, ou se voltaríamos à política do governo anterior, de desemprego, aprofundamento da miséria e apartheid social; se iríamos manter uma posição soberana no mundo, ou se retornaríamos ao velho costume de ajoelhar-nos diante dos poderosos internacionais; se manteríamos o patrimônio público e as empresas estatais ou se assistiríamos novamente à orgia de privatizações escandalosas.
Diante da enorme aprovação ao governo Lula (cerca de 80% em todas as pesquisas), esse debate era inaceitável para a oposição. Daí porque os demo-tucanos fugiram como da peste da comparação entre os governos Lula e FHC, afastaram este senhor da campanha quanto puderam e tentaram tomar carona demagógica em programas do governo federal: “vou ampliar a Bolsa Família”, “vou aumentar o salário mínimo”, “o Brasil pode mais” (se pode, porque o governo deles não fez?). Quando inevitável, os políticos demo-tucanos ou seus representantes na imprensa diziam que o governo FHC é que havia lançado as bases do presente desenvolvimento (havia lançado nada! Se Lula tivesse seguido os rumos de FHC, o Brasil teria entrado por um longuíssimo cano).
Como estratégia eleitoral, essas medidas eram absolutamente insuficientes. Os demo-tucanos passaram então a enfatizar a outra linha de combate: a substituição do eixo real da campanha por outro eixo, irreal, insidioso, que trocava a análise das condições concretas do Brasil e de sua população pelo preconceito, calúnias e boatos. Uma campanha desse tipo não pode ser feita abertamente pelo(s) candidato(s): foi necessário mobilizar um exército de apoiadores, na mídia impressa e eletrônica, na internet e em muitos outros espaços.
Mesmo assim, não conseguiram. Esta é a primeira verdade que precisa ser reposta: Dilma venceu o primeiro turno com larga vantagem. E ponto final.
A segunda verdade é que o governo Lula não foi apenas incomparavelmente melhor do que o de FHC; ele foi e tem sido diferente, com prioridades diferentes, seguindo uma trilha oposta. O projeto de José Serra é o projeto do passado, de voltar atrás. O projeto de Dilma, ao contrário, é o da inclusão social, da cidadania e da soberania.
Daí decorrem as demais verdades. O que está em jogo neste segundo turno é que Brasil queremos. Vamos escolher entre a privataria ou a manutenção e fortalecimento das empresas estatais; vamos optar entre a submissão aos desígnios dos países ricos ou a construção de uma nova ordem mundial; entre o congelamento dos salários ou a elevação progressiva dos rendimentos dos trabalhadores; entre o sucateamento dos serviços públicos ou sua melhoria contínua, com valorização dos servidores, maior acesso da população e concursos públicos; entre a manutenção da miséria ou a ampliação dos programas sociais; entre a estagnação econômica com concentração de renda ou o desenvolvimento com distribuição das riquezas produzidas.
É esta a verdadeira agenda do segundo turno. É este o debate que os demo-tucanos e seus aliados tentarão evitar a todo custo. É esta a discussão que temos de fazer prevalecer.
Quando candidato, FHC nunca disse que iria privatizar as estatais ou que quebraria o monopólio do petróleo e outros. Nunca disse que passaria os oito anos de seu mandato sem dar reajustes salariais ou fazer concursos públicos. Serra também não dirá o que realmente planeja fazer. Por uma questão de respeito ao eleitor, temos de dizer alto e bom som o que significaria um governo demo-tucano para o Brasil.


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