Editorial Página13 outubro: Politizar, polarizar, mobilizar

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Esta edição eletrônica de Página 13 reúne um conjunto de textos e informações necessárias para um balanço do primeiro turno das eleições de 2010. Evidentemente, o balanço completo será feito em novembro, após o segundo turno.

Nossa impressão, a partir deste balanço preliminar, é que o resultado

do primeiro turno confirmou nossas previsões: estamos tendo um segundo
turno presidencial, ao contrário do que imaginava parte da direção do Partido e da
campanha; temos uma maioria governista no Senado, na Câmara dos Deputados e
entre os governadores eleitos; porém, estamos muito longe de qualquer coisa que
se possa chamar de maioria de esquerda; o Partido dos Trabalhadores cresceu no
Senado, cresce pouco na Câmara dos Deputados e mantém mais ou menos o mesmo
espaço nos governos estaduais; mas, olhando os dados finos, percebe-se o efeito
negativo, sobre o PT, de algumas alianças.

Seja como for, nossa prioridade neste momento é vencer o segundo turno, especialmente
na disputa presidencial; destacamos, também, o segundo turno no Pará e
no Distrito Federal. Temos tudo para vencer a eleição presidencial.
Mas, é bom enfatizar algo muito simples: podemos perder. Se não estivermos
convencidos desta possibilidade, vamos repetir um dos erros que marcou os
últimos meses: o salto alto.

A verdade é que em 2010, igual ocorreu em 2006, uma parte do PT e da campanha
evoluiu do absoluto pessimismo para um otimismo irresponsável, que dava
como praticamente garantida a vitória no primeiro turno; e, pior ainda, em nome
desta suposta vitória garantida, adotou uma política de baixa politização, de defensividade;
postura que, ironicamente, nos levou não à vitória no primeiro turno,
mas sim ao segundo turno. Com um agravante: o que podemos e
devemos comemorar (Dilma, que eles diziam que nunca se elegeria, quase ganhou no primeiro turno),
passa a ser tratado por alguns como se fosse uma “derrota”.

Poderíamos ter vencido no primeiro turno e poderemos vencer no segundo
turno, se adotarmos uma tática simples: politizar, polarizar e mobilizar, seja para
manter nossos eleitores, seja para recuperar eleitores simpáticos a nós mas que votaram
em Serra e Marina, seja para ganhar quem não votou, se absteve, votou branco
e anulou (este último contingente, dos que não optaram por candidato algum, é maior
do que o total de eleitores de Serra).

O terrorismo evangélico e a onda de calúnias dos últimos dias ganhou espaço,
em parte, devido a falta de debate político. Refletindo um problema político-sociológico
que já havíamos apontado noutro lugar: a ascensão material das camadas populares,
proporcionada pelo governo Lula, não foi acompanhada de politização similar, motivo
pelo qual a influência ideológica da direita, da mídia, das igrejas, das teologias da
prosperidade e similares continua imensa.

Para vencer, é fundamental sair da defensiva. Como explicou um integrante da
Executiva Nacional do PT, em reunião realizada em agosto de 2010, a campanha Dilma
adotou no primeiro turno uma postura geral defensiva. Os efeitos práticos disto vemos
agora: quem joga na retranca, não está livre do risco de um gol inesperado no fim do segundo
tempo. E, convenhamos, a julgar pela experiência de 2002 e 2006, nada menos
inesperado que um segundo turno.

Sair da defensiva inclui mobilizar a base do partido, a base dos movimentos sociais, a base política e social que apóia nosso governo. Base que foi pouco convocada, numa campanha que no primeiro turno foi
altamente centralizada e dependente da TV.

Sair da defensiva significa politizar, polarizar, radicalizar. E falar a verdade. Estultices
como a declaração feita por um dirigente nacional, segundo a qual “o verdadeiro
cristão não vota em Serra, por causa da pílula do dia seguinte”, são ademais de
abjetas, eleitoralmente contraproducentes, pois caem na vala comum do terrorismo religioso,
obscurantista, medieval.

Sobre este terrorismo, é fundamental deixar claro que o segundo turno não é
uma surpresa, o segundo turno era desde sempre o mais provável; e que a ofensiva
contra nós, nas últimas semanas, seria feita de qualquer jeito; e que o efeito foi maior
porque abrimos o flanco; e que abrimos o flanco especialmente porque fizemos uma
campanha excessivamente “paz e amor” na política.

O contrário do que vem sendo dito por setores da imprensa, que acusam inclusive
o Lula de ter radicalizado contra a mídia e, por isso, o povão reagiu votando contra
Dilma. Uma piada, esta explicação, mas tem que a faça em grandes jornais (O Globo,
Veja) e tem quem acredite.

Por estas razões, a campanha deve sustentar tranquilamente o que está no programa
de Dilma, inscrito no Tribunal Superior Eleitoral, a saber: Promover a saúde
da mulher, os direitos sexuais e direitos reprodutivos: O Estado brasileiro reafirmará
o direito das mulheres ao aborto nos casos já estabelecidos pela legislação
vigente, dentro de um conceito de saúde pública. E entender que este assunto ganhará
menor dimensão, na exata medida que mudarmos a pauta. Para ser exato: para
enfrentar o terrorismo da direita, não precisamos mudar de posição, precisamos
mudar de assunto. E colocar o futuro do povo brasileiro no centro do debate.


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