Candidatos de Papel

 por Leônidas Mendes


“(...) Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais esquece não pode reconhecer(...).”
(Chico Buarque, Quem te Viu, Quem te Vê. 1966)

Poucas vezes, na história política de Parauapebas, assistimos uma campanha tão morna, tão sem sal, como se dizia noutros tempos. E os grandes responsáveis por essa singular, mas não injusta apatia, são, de longe, os próprios candidatos, tamanho é seu distanciamento do povo, dos eleitores.

A coisa fica mais escandalosa com as chamadas “grandes candidaturas”, no caso, as candidaturas do PT, do PMDB, do PDT e do PSDB. Estes partidos, até mesmo por conta do espaço que ocupam na história político do país, do estado e da cidade, bem como pelas suas respectivas estruturas, tinham a obrigação de oferecer mais. Em todos os sentidos.

Mas, pelo contrário. Tanto maior sua estrutura, tanto mais, em tese, a importância de sua história, menos expostos vêm se demonstrando seus candidatos. Alguns sequer são vistos há muito pelas ruas da cidade. Caminhadas, passeatas, carretas não se vêem mais; comícios, nem pensar.

Sustentados por suas respectivas estruturas, em alguns casos semi ou totalmente profissionalizadas, posto que seus auxiliares e cabos eleitorais mais diretos e diuturnos são assalariados, estes candidatos nada propõem.

Suas campanhas são feitas através de carros de som, também contratados a peso de ouro, que passam o dia rodando nas principais ruas e logradouros da cidade, repetindo, em muitos casos, apenas os números dos candidatos, sequer pronunciam seus nomes. Passam a impressão que não querem ser lembrados pelos eleitores.

Propostas, se as têm, estão guardadas a sete chaves: ninguém as ouve! Suas chamadas auto-sonoras apenas lhes (a eles/elas – candidatos/as) mencionam de relance: nada propõem; pedem votos por outras razões, não por propostas: por são brancos, são destes ou daqueles partidos, querem “servir” a população, seja lá o que isso signifique: propor mesmo, nada, nadica de nada.

De fato, em matéria de campanha, quanto menor a estrutura, mais se expõem os candidatos. Neste caso, Rui Hildebrando (PRB) vem sendo o grande destaque: é talvez o candidato com maior exposição nas ruas da cidade, tanto de material como de carne e osso. E, de todos, é o único que vem demonstrando alguma coisa parecida com a preocupação de oferecer propostas. Não diria que factíveis; mas, é louvável que as faça!

Os demais são apenas um pedaço de papel, o tal “santinho”, ironicamente, “santinhos”. São candidatos de papel. Se ver suas fotos em cartazes, “santinhos”, estampas de automóveis, normalmente de luxo: são hiluxes (se é assim que se escreve – lê-se, “railux”), hondas, foxes, unos, etc. Mas, fuscas, nem pensar: é carro de pobre, não serve!

Para não sermos de todo injustos, devemos dizer que, às vezes, vemos Charles Borges (PRB), Hipólito Reis (PSC), Marden Henriques (PSOL) e um ou outro andando nas ruas, conversando com as pessoas. Sem dúvida, o que os move é a ausência de estrutura financeira, que os força a um contato mais direto com o povo. Mas, suas propostas, se as têm, não são suficientemente difundidas.

Bel Mesquita (PMDB), teoricamente, principal candidata da oposição, se porta em singular ambigüidade: além de não apontar exatamente quais são suas propostas, está cada vez mais evidente que, para ela, a candidatura a deputada estadual tem objetivo de avaliar a recepção de seu nome para a prefeitura: se for bem votada, será candidata a prefeita; se não... Salve-se quem puder!

Valmir Mariano (PDT) paga o preço da ambigüidade de sua postura política: nem ele, nem seu partido se decidem se são oposição ou governo. Se se mostram como oposição, fica complicado explicar para o povo o que estão fazendo na SEMSA e no DMTT; além, é claro, de distribuir empregos públicos para os apadrinhados. Tentam se parecer ser o que nunca foram: aliás, como ele próprio que era sem nunca ter sido – oposição!

Faisal Salmen (PSDB) sofre pela força do hábito: isto é, acostumado a ser governo, não parece disposto a fazer uma campanha oposicionista, de enfrentamento e denúncia das mazelas do governo a que se opõe. O discurso fácil da oratória bem treinada se perde diante da exigência de uma população ávida de oposição e de propostas que dêem indicativos de mudança.

Por fim, aquele em que a ambigüidade de ser candidato mais se manifesta: Milton Zimmer (PT). Governista de primeira hora; e até mesmo antes dela; serviu ao governo municipal e dele se serviu à vontade! Agora, na hora do vamos ver, sua campanha ficou à altura do governo que ajudou a construir: ou seja, escondido ante aos fatos e à realidade da insatisfação popular.

Não poderia ser diferente! Sendo candidato de governo assim não se pode mostrar-se, pois, que seu governo nada tem a mostrar ou que comemorar; precisa da máquina para fazer votos, mas tem que está distante dela para não absorver sua impopularidade. A máquina lhe sustenta, mas ele não pode assumi-la, pois, aparentemente, os benefícios são anulados pelos ônus.

Singular eleição, esta em Parauapebas. Já não mais votaremos, como antigamente, em papel; mas, salvo raras exceções, nossas opções locais para a ALEPA são candidaturas de papel, de cartazes. Oxalá, o papel não seja ridículo!

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