Entrevista O Dia (Rio de Janeiro)
Durante reunião em Cabo Frio na quinta-feira, o
ex-cara-pintada Lindbergh Farias precisou de óculos para ler. "Vista
cansada", explicou o senador, que faz 44 anos mês que vem, mas mantém a
'carapintadice' ao tripudiar de um dos adversários em 2014, Anthony Garotinho
(PR).
Abraçado a uma política de São João da Barra, o ex-prefeito
de Nova Iguaçu animou a plateia ao gritar: "Vamos derrotar Garotinho na
terra dele!" Prazer maior, só quando critica o governador Sérgio Cabral.
Aos black blocs, o quarentão lembra que sua turma derrubou presidente com
passeatas pacíficas.
O DIA: O sr. teme que a nacional do PT lhe peça para
desistir da candidatura para deixar o vice-governador Luiz Fernando Pezão ser o
único candidato da aliança PT-PMDB?
LINDBERGH FARIAS: De jeito nenhum, esse assunto está
superado. O Rui Falcão (presidente nacional do PT) veio ao Rio e comunicou a
toda a imprensa que a nossa candidatura é um fato. Só me impressiona o PMDB
insistir tanto na retirada do meu nome. Isso não é demonstração de força,
parece demonstração de fraqueza. Por que querem me tirar do jogo? Eles têm que
confiar no trabalho deles. Se eles perdessem menos tempo falando de mim e mais
falando das propostas deles seria muito melhor.
Como o sr. vai provar que é diferente de Pezão?
O PMDB no Rio, ao contrário do que o PT fez nacionalmente,
governou para uma minoria, para as elites. E nós queremos inverter isso como o
Lula fez do ponto de vista nacional. Essa é a diferença que nós temos com o
PMDB: queremos fazer um governo que vai cuidar dos mais pobres, da vida do
trabalhador. O governo está concentrando os investimentos, os melhores serviços
e as políticas públicas nas áreas mais ricas. É como se o estado fosse um Robin
Hood às avessas. O Robin Hood tirava dos ricos para os pobres, aqui é ao
contrário: tira dos pobres para colocar nas áreas ricas.
Há pelo menos quatro pré-candidatos que seriam,
naturalmente, palanque para a presidenta Dilma Rousseff - o sr., Pezão, Anthony
Garotinho (PR) e Marcelo Crivella (PRB). Se a eleição fosse hoje, o sr. acha
que a presidenta subiria em todos os palanques ou em nenhum?
Eu soube que o Rui Falcão diz que agora é o seguinte: a
Dilma vai (aos estados em campanha) e todos os candidatos sobem no palanque.
Isso no Rio não vai dar certo. O Garotinho vai xingar o Cabral... (risos). Acho
melhor ela ir separado ou não ir no de ninguém. Aqui não dá para juntar todo
mundo no mesmo palanque com ela junto.
Algum dos pré-candidatos poderia ser seu vice?
Quero construir minha candidatura como um alternativa ao que
está aí, que é o PMDB, e ao retrocesso, que é o Garotinho. Há outros nomes que
estão sendo lançados: Jandira Feghali (PCdoB), Crivella, José Gomes Temporão
(PSB), Romário (PSB), Miro Teixeira (Pros), Pedro Fernandes (Solidariedade).
Essa turma aqui eu acho que tem que ter muito diálogo. Se
não for possível se juntar no primeiro turno, tem que ir dialogando para juntar
no segundo turno. Alguns vão se juntar nesse campo e espero trabalhar para
tentar unificar um setor mais amplo. Esses fazem parte do que considero meu
campo, um campo popular, uma frente popular no estado.
O sr. acha que Pezão vai para o segundo turno?
Não sei. Ele vai ter dificuldades porque o governo Cabral
está muito mal avaliado. Eu não conheço nenhum caso na história em que um
governador com 15% de "ótimo" e "bom" e quase 50% de
"ruim" e "péssimo" tenha eleito seu sucessor. Mas temos um
quadro de muitas candidaturas ainda. Vai haver um processo de aproximação.
Volto a dizer: quero muito conversar com Crivella, Miro, Temporão, Romário,
Jandira, PDT... É um campo em que nós tempos perfis parecidos. Se conseguir
juntar, ótimo. Se não conseguir, tem um canal de diálogo, de conversa, para
mais à frente estarmos juntos.
A ideia é não atacá-los?
Esses aqui não vou atacar.
O sr. acha que vai para o segundo turno?
Tenho certeza absoluta. E acho que vou ganhar a eleição.
Seus adversários costumam dizer que o sr. tem pendências
jurídicas que podem impedi-lo de ser candidato. O que o sr. tem a dizer sobre
isso?
O PMDB sempre usou a força que tinha na Justiça do Rio para
tentar me inviabilizar, porque queriam me tirar do jogo. Sabe por que não vão
me tirar? Por que eu, diferentemente deles, não sou patrimonialista. Não tenho
que explicar casas, mansões. Quem tem são eles, e eu não sou como eles. Agora,
vamos aos fatos.
De todos os candidatos, sabe quem tem condenação na Justiça?
Pezão, que foi condenado por superfaturamento de compra de ambulâncias. E
Garotinho, que foi condenado por formação de quadrilha. Eu nunca tive uma
condenação e nem vou ter. Quem é que pode ficar inelegível? Pezão e Garotinho.
Como o sr. avalia a atual política de Segurança?
Primeiro, eu defendo a UPP, ou seja, uma ocupação
definitiva. Não pode ter comunidade com o tráfico dominando uma área inteira.
Agora, não tem que entrar só polícia, tem que entrar escola de horário
integral, cursos técnicos profissionalizantes, atividades culturais... Isso não
entrou. No meu governo vai entrar. A segunda coisa é que tem que ter um
equilíbrio maior. Tem que se olhar para a Baixada, para o interior. Houve uma
ocupação em algumas áreas do Rio e houve uma migração de bandidos para outras
áreas. Não dá para ter uma política para as áreas ditas mais ricas e outra
política para outras áreas.
Sua principal bandeira?
Terei como carro-chefe da campanha a bandeira da Educação.
Eu quero espalhar escolas técnicas pelo estado, quero preparar a juventude para
conseguir esses empregos que vão surgir a partir do Leilão do Campo de Libra.
Essa é a grande virada que vou dar. Eu posso olhar para o professor e dizer com
clareza que no nosso governo não vamos tratar professor com polícia. Vamos
tratar professor com negociação.
Como sua PM trataria os professores num protesto?
A minha PM vai ter uma ordem: professor tem que ser
respeitado. Ninguém bate, ninguém joga spray de pimenta, ninguém dá cacetada em
professor. Isso é um desrespeito com o professor, com as crianças e com a nossa
Educação. O professor vai ter sempre um espaço para eu receber.
Qual sua avaliação dos confrontos da PM com os black blocs?
Depredação de patrimônio público não pode acontecer. Eu acho
uma pena porque o movimento tinha muita gente nas ruas. Quando começa a
quebrar, o movimento perde força. Nós afastamos um presidente da República, na
época do impeachment (de Fernando Collor de Mello). Eu liderei passeatas de um
milhão de pessoas sem quebrar nada. Esse método deles está completamente
errado. Agora, a polícia errou muito.
Está faltando autoridade do governador, ele está sem
legitimidade. E a polícia passou do ponto naquelas primeiras passeatas,
agredindo gente que não tinha nada a ver com quem estava depredando. Houve um
bocado de armação, de jogo sujo. A polícia tem que ser reta. Não defendo quem
depreda. Quem depreda tem que ser preso. Agora, foi de um despreparo
impressionante da polícia e do chefe maior, o governador.
Como a sua PM reagiria?
Está faltando conciliação. Eu não teria colocado essa turma
toda, essa juventude com esse ódio. Eu teria chamado, teria conversado. Faltou
isso, (Cabral) se escondeu. Hoje, o Rio precisa de alguém que tenha a
capacidade de pacificar o estado, de conversar, mas ao mesmo tempo de ser
firme. Ninguém quer depredação, mas a condução toda foi errada.
Por que os protestos que começaram em junho no país não
ainda não pararam no Rio?
Na hora em que o movimento estava parando, houve a agressão
aos professores. Isso chocou o Rio.
Há quem diga que o sr. é "ansioso". O sr. se
considera um homem ansioso?
Sou um cara determinado e tive coragem. Se não tivesse tido
coragem de enfrentar esse pessoal que está no poder, que acha que manda nesse
estado, eu não teria sido prefeito em Nova Iguaçu. Tem uma turma que me chama
de "ansioso" porque não tem coragem, e eu acho que vou ser governador
porque tenho esse espírito que você diz que é de "ansioso", mas que
eu digo que é de coragem, de enfrentamento.
Mas tem aliado que também chama o sr. de "ansioso"
e diz que o sr. "não consegue ficar calado".
(Risos) Mas como ficar calado? Se eu ficasse calado eu
estava morto. Eu não paro! Eu quero rodar 24 horas! Eu estou o tempo todo
articulando! Chamam isso de ansiedade? Que seja! Mas eu tenho que ser assim
para ganhar o governo do estado!
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