Pesquisas internas de coligações já apontam nesta direção. Veremos amanhã se os números do Laboratório/UFPA/Veritate confirmam esta tendência
(Edir Veiga).
Dilma deve vencer eleições 'na aba de Lula', diz 'Washington Post' A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, deve vencer as eleições presidenciais neste domingo graças ao carisma e apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, afirma reportagem do jornal americano Washington Post nesta quinta-feira. Com título "Na aba do popular presidente brasileiro, ex-radical deve ganhar", o jornal lembra que, apesar de não ser candidato à reeleição, Lula está constantemente presente na campanha eleitoral, prestando seu apoio à Dilma. "Com 80% de aprovação depois de oito anos no governo, o ex-líder sindical gordinho e barbudo que exala carisma está em toda a parte, virtualmente garantindo a vitória de sua sucessora escolhida a dedo, Dilma Rousseff." Mas o jornal comenta que, apesar do apoio de Lula, Dilma não tem o apelo popular que é a marca registrada do presidente. Também nesta quinta-feira, o diário espanhol El Mundo traz uma série de reportagens sobre a reta final da campanha. Em uma delas, o jornal compara a trajetória de Dilma e da candidata do Partido Verde, Marina Silva, lembrando que Dilma tem, em comum com Lula, a militância de esquerda, enquanto que Marina divide com o presidente a origem humilde. Em outro artigo, o diário espanhol ressalta que nem Dilma, nem o candidato tucano José Serra, seu principal opositor, apresentaram suas plataformas ao Tribunal Superior Eleitoral antes das eleições, afirmando que "se não está escrito, não há por que cumpri-lo". 'The Guardian' O jornal britânico The Guardian traz um artigo assinado pelo analista internacional Raul Zibechi, afirmando que "só a mágica de Lula explica a ascensão de Dilma". Segundo o comentário, "o último milagre do torneiro mecânico que se tornou presidente do Brasil em 2003 foi passar sua enorme popularidade para uma mulher quase desconhecida chamada Dilma Rousseff". Zibechi lembra que, quando a candidatura de Dilma foi anunciada, em outubro de 2008, apenas 8,4% dos eleitores pretendiam votar nela. Hoje, a expectativa é de que a candidata vença já no primeiro turno. Ele destaca os sucessos do governo Lula, como a estabilidade econômica e o fato de o presidente ter tirado milhões de pessoas da pobreza. "Mas a contabilidade dos oito anos de Lula também deve reconhecer as fraquezas em um país que aspira o status de potência global", diz o artigo, afirmando que a primeira é o fato de a economia se basear fortemente na exportação de commodities sem valor agregado, e a segunda é que, apesar do crescimento e do bom desempenho econômico, o Brasil permanece um dos países mais desiguais do mundo. 'Le Monde' Na França, o jornal Le Monde destaca os candidatos inusitados dessas eleições, como Tiririca, que deve ser o candidato a deputado federal mais votado. "No Brasil, o voto é obrigatório. É impossível se abster para manifestar o descontentamento. Enviar um palhaço ao Parlamento é um belo meio de protestar contra o sistema", afirma o diário.
Antônio Augusto de Queiroz, num artigo intitulado A lógica das eleições presidenciais, examina três elementos que considero fundamentais para analisar os resultados das cinco eleições presidenciais realizadas no Brasil a partir de 1989. Os seus argumentos também nos ajudarão a compreender algumas das chaves que influenciarão o desenlace do atual embate eleitoral para a Presidência da República. Reflexões que também poderiam ser pertinentes para avaliar os possíveis resultados, em 2010, das candidaturas a governador e ao Senado nos diferentes estados do país. Após afirmar que todos os fatores que ele menciona estão relacionados, ainda que fosse indiretamente, ao desempenho geral da economia, o primeiro fator que destaca Queiroz é a existência de uma relação estreita entre o índice de popularidade ou de aprovação do Presidente da República e os votos recebidos por seus candidatos à sucessão, que, eventualmente, poderá ser o próprio presidente disputando a reeleição. Por exemplo, em 1989 todos os candidatos mais votados fizeram oposição ao impopular presidente Sarney. Diferentemente, em 1994, o presidente Itamar, que tinha índices de aprovação 55% favoreceu a vitória do seu ministro da Fazenda, FHC. Em 1998, FHC então aprovado por 58% da população, obteve 53% dos votos válidos em sua campanha de reeleição. Mas, em 2002, quando FHC apenas contava com 35% de apoio, o seu candidato, o ex-ministro do Planejamento e da Saúde José Serra, alcançou 39% dos votos válidos no segundo turno. Perdeu a eleição para Lula. Em 2006, Lula tinha 63% de aprovação e foi reeleito com 61% dos votos válidos em segundo turno. A segunda conclusão que destaca Queiroz é que cada campanha possui seu eixo central, que é importante tanto para ganhar a eleição quanto para governar, e que orienta ou sintetiza, assinalo eu, as principais preocupações dos eleitores. Collor, por exemplo, desenvolveu uma campanha contra os marajás, que representavam o desperdício, a corrupção e a incompetência, além de ter prometido melhorias sociais. No Governo não cumpriu nenhum dos dois eixos e foi afastado. Já FHC foi coerente, na campanha, com os eixos de suas campanhas, focando na estabilidade econômica na primeira e, na segunda, no medo de que sem ele a estabilidade corresse risco. Lula foi eleito e reeleito com discurso focado nos eixos das duas eleições: geração de emprego e combate à pobreza, na primeira, e prosperidade econômica e ascensão ou mobilidade social, na segunda. A terceira conclusão se refere ao ambiente político, ou seja, ao sentimento de população em relação à continuidade ou mudança das políticas e práticas governamentais. Isto é, sempre que as circunstâncias exigiam mudança, o presidente da República não elegia seu sucessor, do mesmo modo que nos momentos em que a conjuntura era favorável à continuidade, os presidentes eram reeleitos ou elegiam seus sucessores. Para os candidatos do PSDB, no período pós-FHC, as circunstâncias sempre foram desfavoráveis. No caso de José Serra, quando ele foi o candidato da continuidade, em 2002, o ambiente era de mudança. Agora que é o candidato da mudança, o ambiente é de continuidade. Alckmin, em 2006, também foi o candidato da mudança num ambiente de continuidade. Nessa mesma linha de raciocínio podemos acompanhar as palavras de Valter Pomar, membro do Diretório Nacional do PT e coordenador do Foro de São Paulo, quando afirma que a campanha petista em apoio a Dilma foi articulada na proposta de dar continuidade às mudanças iniciadas por Lula em 2003, sob o lema de que continuar é continuar mudando: “Entretanto, Serra evita defender o ‘legado FHC’, foge da comparação entre os dois governos e dá prioridade à tentativa de desconstituir a imagem de Dilma, apostando que conseguiria evitar a transferência de votos em favor da candidata do PT. Parece incrível, mas na cabeça de Serra, ele seria a ‘continuidade [do Lula!] com segurança’” (Valter Pomar, Onde este povo está com a cabeça?). É evidente que seria impossível tentar compreender o atual cenário político-eleitoral do Brasil sem, pelo menos lembrar, que no dia 1 de janeiro de 2003, pela primeira vez na historia do país, um operário e membro de um partido de esquerdas, Luiz Inácio Lula da Silva, assumiu a Presidência da República, após vencer o segundo turno das eleições, em outubro de 2002, ao obter 52,7 milhões de votos (61,3% dos votos válidos), contra 33,3 milhões que foram para o candidato do PSDB, José Serra. A folgada vitória de Lula em 2002, após ser derrotado em 1989 para Collor de Mello e, em 1994 e 1998, por FHC (em todas essas eleições Lula sempre foi o segundo candidato mais votado), deve ser creditada ao conjunto de fatores que influenciaram a escolha da maioria dos brasileiros por mudar os rumos políticos do país e que ao parecer nas próximas semanas a maioria dos eleitores pretendem dar continuidade. Podemos destacar entre eles: 1) a história de vida e trajetória política-sindical de Lula que o transformaram na liderança política mais respeitada do país. 2) A insatisfação popular a respeito da política macroeconômica do governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC) e, sobretudo, à conseqüências negativas da implementação no Brasil do ideário neoliberal. 3) O progressivo crescimento eleitoral do PT desde 1982 até as eleições municipais de 2000, ao assumir seus filiados a responsabilidade de governar municípios e governos estaduais. 4) A mudança na estratégia e discurso eleitoral do PT, que se materializou, em 2002, numa aliança politicamente de centro-esquerda e num programa economicamente desenvolvimentista e com grande apelo nacionalista. Isto é, uma programa eleitoral orientado a conseguir a maioria dos votos em todos os setores da sociedade brasileira sem distinções étnicas, de classe, região ou religião. Em palavras de Lula, no dia 29 de outubro de 2002, após ser eleito Presidente da República Federativa do Brasil: “Ontem, o Brasil votou para mudar. A esperança venceu o medo e o eleitorado decidiu por um novo caminho para o país. Foi um belo espetáculo democrático que demos ao mundo. Um dos maiores povos do planeta resolveu, de modo pacífico e tranqüilo, traçar um rumo diferente para si (...). O combate em favor dos excluídos e dos discriminados. O combate em favor dos desamparados, dos humilhados e dos ofendidos” Pere Petit, historiador e professor da Universidade Federal do Pará (Brasil), é a utor do livro A Esperança Equilibrista: A Trajetória do PT no Estado do Pará (São Paulo, Boitempo-Naea, 1996) e co-autor, junto com Pep Valenzuela, do livro Lula !dónde vás!: Brasil, entre la gestión de la crisis y la prometida transformación social (Barcelona, Icaria, 2005) |